Sep 23, 2025 / 12:00 pm
A causa de beatificação do venerável Francis-Xavier Nguyen Van Thuan está recebendo atenção renovada da Santa Sé 50 anos depois de ele ter sido preso pela primeira vez pelo governo comunista do Vietnã, segundo a irmã do cardeal.
Elisabeth Nguyen Thi Thu Hong, irmã mais nova de Van Thuan e última irmã viva dele, disse à CNA, agência em inglês da EWTN, que o Dicastério para as Causas dos Santos está encorajando os fiéis a renovarem seus esforços em prol da causa ao lançar uma página dedicada ao cardeal vietnamita, cujas meditações sobre esperança e perdão inspiram fiéis há décadas.
A próxima etapa do processo de canonização “cabe aos fiéis... rezar a Deus por meio da intercessão do cardeal para obter um milagre aprovado”, disse Nguyen numa visita a Roma esta semana.
Um funcionário do Dicastério para as Causas dos Santos disse à CNA que o departamento está trabalhando na causa de Van Thuan e reafirmou a importância de um milagre verificado para que o processo prossiga.
Van Thuan — declarado venerável, etapa anterior à beatificação, em 2017 — foi prisioneiro do governo comunista do Vietnã por 13 anos, nove dos quais em confinamento solitário. Suas mensagens espirituais, contrabandeadas no período de sua prisão, foram coletadas e publicadas no livro O Caminho da Esperança: Um Evangelho da Prisão.
Depois de sua libertação, Van Thuan foi forçado a deixar seu país natal, passando seus últimos anos em Roma, onde serviu no Pontifício Conselho Justiça e Paz da Santa Sé. Em 2001, o papa são João Paulo II criou-o cardeal.
Van Thuan foi diagnosticado com câncer de estômago terminal logo depois, mas quatro meses antes de sua morte em 16 de setembro de 2002, ele fez uma última visita à Austrália para ver sua família no 100º aniversário de sua mãe.
Testemunha de esperança em Deus
Nguyen, a mais nova dos nove irmãos de Van Thuan, escreveu, com o padre Stefaan Lecleir, sobre o testemunho de seu irmão no livro Cardinal Nguyen Van Thuan: Man of Joy and Hope (Cardeal Nguyen Van Thuan: Homem de Alegria e Esperança, em tradução livre), publicado pela editora Ignatius Press em abril.
Depois de escrever o livro, Nguyen disse que estava feliz em contribuir para a glória de Deus ao falar sobre a vida de seu irmão: “Especialmente nestes tempos recentes em nossa sociedade, quando há tanta raiva e não aceitação do perdão... Decidi escrever com o padre Lecleir sobre o fato de que a mensagem [de Van Thuan] é realmente perdoar e esperar em Deus por meio do amor de Deus”.
Nguyen participou de uma missa no túmulo de seu irmão na basílica de Santa Maria della Scala, em Roma, em 16 de setembro, aniversário de sua morte. A missa também marcou os 50 anos de sua prisão e da composição das mensagens espirituais que se tornaram "O Caminho da Esperança" — imortalizadas numa foto recém-descoberta do cardeal vietnamita, de 1975.
A foto, que mostra Van Thuan escrevendo numa mesa em 1975, foi tirada por um homem que servia na casa onde o bispo estava em prisão domiciliar no Vietnã comunista. Um amigo de Nguyen a encontrou pendurada na parede da cozinha de uma família no Vietnã.
Um mini-pai
Nguyen, que era um bebê quando Van Thuan foi ordenado padre, disse que para ela ele era “mais que um irmão; ele era como um mini-pai”.
Ela falou sobre algumas lembranças do irmão mais velho, como a influência que suas cartas clandestinas tiveram em sua vida e jornada de fé.
“Por muito tempo, nunca quis escrever porque isso nos remetia a tempos mais sombrios”, disse Nguyen.
Ela descreveu Van Thuan como um filho e irmão muito atencioso que sempre reservava um tempo para visitar sua família ou escrever em sua longa prisão e subsequente exílio.
Devido à Guerra do Vietnã e a invasão do Vietnã do Sul pelo Exército Norte-Vietnamita, os pais de Van Thuan e a maioria de seus irmãos fugiram para a Austrália, o Canadá e os EUA.
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Num cartão-postal que enviou aos seus pais na Austrália em 1982, Van Thuan escreveu para informá-los da recente morte de dois parentes no Vietnã. Ele disse também: “Estou com boa saúde. Rezo por vocês e pela mamãe todos os dias. Este ano, nossa aldeia, Phú Cam, comemora 300 anos de sua fundação como uma aldeia católica. Vamos rezar muito uns pelos outros”.
Quando jovem, Van Thuan ajudava a cuidar de sua irmã mais nova, Elisabeth. À medida que ela crescia, cuidava de seus porquinhos-da-índia e pássaros de estimação. Nguyen falou sobre a orientação amorosa que seu irmão padre lhe deu em seus anos de escola.
"Você está feliz?"
Crescer em meio à Guerra do Vietnã deixou Nguyen cínica sobre a bondade de Deus, disse ela, e em sua juventude, ela "se afastou da Igreja porque disse: Deus é amor, mas olhe para toda essa atrocidade e morte na família, e o país inteiro está realmente em pedaços".
Mas seu irmão mais velho, cerca de duas décadas mais velho, foi fundamental para seu retorno à fé católica, disse ela — começando quando ela estava terminando seu mestrado em filosofia na Universidade de Sydney, Austrália, em 1974.
Sua dissertação de mestrado era sobre filósofos existencialistas, como Jean-Paul Sartre e Albert Camus. Van Thuan leu a tese para lhe dar um feedback, a pedido dela. Como ele estava visitando a Austrália para uma reunião com bispos, eles tiveram a oportunidade de se encontrar para discuti-la.
"Ele disse: Então você encontrou o caminho para a vida agora? Você está feliz?", disse Nguyen. "E eu comecei a chorar, porque eu disse: Não, não estou. Eu disse: Ainda estou procurando, mas o que vou fazer agora? Terminei a tese, não posso voltar atrás. Ele disse: Não, os professores aceitam a liberdade de pensamento. Você pode ir e dizer a eles: Eu achava que realmente acreditava nisso, mas agora que escrevi e fiz toda a pesquisa, não estou feliz”.
“Ele nunca me condenou nem me julgou”, disse ela.
No ano seguinte, a Santa Sé nomeou Van Thuan, bispo de Nha Trang já havia oito anos, arcebispo coadjutor da capital Saigon, atual Ho Chi Minh. Pouco depois, Saigon caiu nas mãos do Exército Norte-Vietnamita e, em agosto daquele ano, Van Thuan foi preso pelo governo comunista.
Em 1979, ele foi transferido de um campo de reeducação para prisão domiciliar, quando começou a escrever mensagens no verso de folhas de calendário de uma página por dia e entregá-las escondidas por meio de um garoto local, disse Nguyen à CNA.
Nguyen ficou cativada pela força da fé que encontrou nas cartas do irmão. Ele "escreveu uma meditação sobre a lógica da cruz, e isso realmente me comoveu", disse ela.
Ela ficou impressionada com o fato de ele parecer ter conhecido Jesus tão profundamente. "Preciso descobrir como é isso, poder conhecer Deus como ele", pensou. "Foi ele quem trocou minhas fraldas, foi ele quem me levou à loja de doces".
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