Aug 20, 2025 / 15:02 pm
“Se tão grande foram as provações que nós passamos, se tão grande foi a dor que nós passamos, muito maior foram as bênçãos”, disse à ACI Digital o padre Antônio Vander da Silva, sobre as dificuldades para consagrar a diocese de Criciúma (SC) a são Miguel Arcanjo.
A imagem peregrina de são Miguel Arcanjo foi trazida do santuário de São Miguel Arcanjo do monte Sant’Angelo, no Gargano, na Itália. No Brasil, a imagem está em peregrinação pelas cinco regiões do país organizada pelo Instituto Hesed. A peregrinação tem o apoio do bispo de Piracicaba (SP), dom Devair Araújo da Fonseca.
Na sexta-feira (15) à noite, a imagem chegou à basílica santuário Sagrado Coração Misericordioso de Jesus, em Içara (SC), onde permaneceu durante toda a madrugada em um evento que reuniu cerca de 12 mil pessoas e culminou na consagração da diocese de Criciúma a são Miguel Arcanjo.
O padre Antônio Vander contou à ACI Digital que ao levarem a imagem de Fortaleza (CE) para Içara, as irmãs do Instituto Hesed enfrentaram um overbooking, ou seja, excesso de reservas áreas no aeroporto em São Paulo (SP) e não puderam embarcar. “E o pior de tudo, não tinha mais voo aqui para Jaguaruna, para o aeroporto”, disse o padre.
“Nós entramos em pânico e começamos a correr atrás dos nossos amigos para ver como é que a gente poderia fazer”, contou. Naquele momento, as pessoas em Içara já se preparavam para receber a imagem. Foi então que um casal amigo do Instituto emprestou um jato particular para levar a imagem. “Enfim, chegaram às 22h15, já era hora de a missa estar acontecendo”, disse.
Mesmo com o atraso, seguiram com toda a programação prevista e as pessoas continuavam aguardando são Miguel. “Saímos de caravana do aeroporto, passamos na paróquia de São Miguel, em Içara, entramos com o santo na paróquia, saímos da paróquia, continuamos até a base”, contou o padre. A procissão foi acompanhada pelo Exército.
Ao chegarem à basílica santuário Sagrado Coração Misericordioso de Jesus, a multidão aguardava a imagem de são Miguel. A missa, prevista para acontecer às 22h, “foi começar uma hora da manhã”.
“Quando a imagem chegou, meu Deus, esse povo parecia que ia ficar louco e berrava ‘quem como Deus?’, e todo mundo dizia ‘ninguém’”, recordou o padre. O padre destacou que as pessoas estavam lá “por causa de são Miguel Arcanjo”: “A devoção a são Miguel tem se apresentado a nós muito forte”.
O padre Vander contou que, enquanto a imagem de são Miguel passava entre os fiéis para ingressar na igreja, ele carregou uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. “Eu passava com a imagem da Mãe Aparecida e alguém já disse: ‘A Generalíssima, a Generalíssima’. Eu pensei: ‘Mas o que é isso? Generalíssima?’. Ou seja, o povo acompanha, o povo tem muita fé, o povo reza’”, disse o padre.
Nossa Senhora Aparecida recebeu o título de Generalíssima do Exército Brasileiro em 15 de agosto de 1967, na comemoração dos 250 anos do encontro da imagem da padroeira do Brasil.
Nesta peregrinação que está realizando pelo Brasil, a imagem de são Miguel Arcanjo esteve em 12 de agosto em uma sessão solene no Congresso Nacional e são Miguel foi coroado comandante espiritual da nação brasileira.
Segundo o padre Vander, aquela “foi uma noite orante, com 12 mil pessoas rezando”.
O desmaio de dom Jacinto
O padre Vander contou à ACI Digital que a ligação do bispo de Criciúma, dom Jacinto Inácio Flach, com são Miguel é anterior a esta peregrinação da imagem.
“O meu bispo estava muito feliz porque são Miguel vinha aqui, porque ele passou por um momento difícil e, nesse momento, todos os dias ele mantinha uma velinha acesa para são Miguel e fez uma promessa a são Miguel de que, se o problema se resolvesse, ele iria colocar aqui nas instâncias do santuário uma imagem do arcanjo; e ele alcançou a graça”, contou o sacerdote, sem revelar qual foi a graça alcançada, pois “só o bispo sabia”.
“Quando ele alcançou a graça, foi interessante porque o bispo de Piracicaba, dom Devair, ligou pedindo para fazer a peregrinação de são Miguel aqui, mas ele não sabia de nada sobre essa promessa”, disse.
Segundo o reitor, dom Devair já conhecia a basílica santuário do Sagrado Coração Misericordioso de Jesus e, “como eles queriam traçar uma cruz sobre o Brasil com a imagem de são Miguel, aqui no sul, ele pensou na basílica” de Içara.
O padre Vander disse que “dom Jacinto ficou estupefato” com o pedido e “acolheu com alegria, com carinho”.
Na sexta-feira, como todos os devotos que estavam na basílica santuário, dom Jacinto, de 73 anos, também ficou aguardando a chegada da imagem de são Miguel, apesar do atraso.
“Naquele dia, ele estava desde 15h30 ali em casa, na basílica, e ele estava com um pouco de infecção urinária”, disse o padre. Mas, o bispo aguardou e “foi presidir a missa, que começou já era uma hora da manhã”.
“Ele presidiu a missa com tranquilidade, comungou e se sentou. Não deu dois minutos, eu vi que ele se curvou um pouco mais. Ficamos quietos, até que, em um momento, eu disse que ele não estava passando bem, bati nele e nada, chamei e nada. Tiramos o bispo arrastado por seis padres, nós o pegamos no colo e levamos desmaiado para a sacristia, onde ainda ficou mais uns quatro minutos sem voltar”, contou. Em seguida, o bispo foi levado para o hospital e só teve alta na manhã seguinte.
“Ele teria que ter feito a consagração da diocese no final da missa e no encerramento, mas não conseguiu fazer”, disse o padre. Segundo ele, uma das irmãs até propôs que a imagem fosse levada até o bispo para que ele fizesse a consagração. Mas, “veio a ordem dele dizendo que eu poderia fazer o ato de consagração da diocese porque ele estava deliberando, uma vez que não conseguia por estar limitado fisicamente”.
O padre Vander, então, fez a consagração da diocese de Criciúma a são Miguel Arcanjo. Foi a segunda diocese no Brasil a realizar o ato de consagração nesta peregrinação da imagem, depois da arquidiocese de Brasília (DF), que foi consagrada em 12 de agosto.
As melhores notícias católicas - direto na sua caixa de entrada
Inscreva-se para receber nosso boletim informativo gratuito ACI Digital.
Batalha espiritual
O reitor da basílica santuário disse que, inicialmente, estava previsto que o evento terminasse às 6h30 de sábado (16). Mas, ele decidiu encerrar com uma missa nesse horário. “E o interessante é que, dom Jacinto desmaiou um pouquinho antes da consagração, não voltou a si, teve que ser levado ao hospital e só saiu do hospital cerca de meia hora depois do término do evento, ou seja, durante o evento, ele não conseguiria consagrar a diocese”, disse o padre, ressaltando que “aí está um pouco essa questão do mistério da fé, o mistério de Deus no meio dessa consagração que foi de forma tão sofrida”.
“Foi tanta investida para que não acontecesse, mas no final deu tudo certo”, disse o reitor, que só conseguiu falar com seu bispo “cinco minutinhos depois, por telefone”.
“Mas, dom Jacinto sempre carrega uma coisa dentro dele: quando grandes coisas vão acontecer, o demônio ataca e não quer deixar, tudo é com muito sacrifício. Ele sabia que esse era um momento importante e que o mal estava fazendo de tudo para que não acontecesse”, disse.
Entretanto, acrescentou o padre, “nós firmamos o pé, fomos juntos até o fim” e “quanta graça, quanta bênção, quanta unção foi derramada nesse povo naquela noite”.
“Se tão grandes foram as provações que nós passamos, se tão grande foi a dor que nós passamos, muito maior foram as bênçãos, porque o povo aqui está ainda vivendo de uma forma inacreditável tudo que experimentou naquela noite”, disse.
A devoção a são Miguel Arcanjo
O padre Vander disse observar um crescimento da devoção a são Miguel Arcanjo no Brasi, “uma busca”. “Claro, é uma religiosidade popular, estamos alicerçados dentro de uma religiosidade popular e o cristianismo também passa por meio dessa religiosidade popular”.
Para o sacerdote, diante de “um povo saturado, um povo amargurado, um povo que está triste de tanto lutar”, esse povo “se encontra na imagem de são Miguel, quando o vê pisando o dragão, para abafar o dragão, para que o ser humano viva, para que o ser humano tenha liberdade”.
Um desafio que se coloca diante disse, segundo o sacerdote, “é como passar de um santo, de um anjo, de um arcanjo, para a centralidade da fé”. “Que caminho fazer para que as pessoas não fiquem apenas no são Miguel, mas que vão para Jesus Cristo, que é o que elas buscam?”.
“Nós vivemos uma época pós-moderno, uma época de fragmentações”, disse o padre, para quem é “preciso aproveitar” essas devoções “para apresentar Jesus Cristo como ideal de vida de toda pessoa”.
“São Miguel faz parte da milícia celeste, vai nos ajudar também aos poucos a descobrir a melhor forma de fazer o povo vir por causa de são Miguel, mas não ficar em são Miguel, ir para a pessoa de Jesus Cristo e fazer uma Igreja bonita”.
Para o sacerdote, depois de um grande evento como o que aconteceu na madrugada de 15 para 16 de agosto na basílica de Içara, “abre-se também uma responsabilidade muito grande, porque trazer as pessoas para um evento é até fácil, o problema é fidelizar as pessoas no dia a dia”.
“Então, o desafio que brota a partir dessa visita de são Miguel aqui para nós, para mim, foi uma coisa muito clara: brota o desafio de sermos mais orantes. Esse é o grande desafio da Igreja, em qualquer lugar do mundo, ser mais orante”, disse.
Para o padre Vander, “as pessoas querem a oração”, querem “a espiritualidade”.
Além dos fiéis presentes na basílica, “eram 175 mil pessoas conectadas. Isso significa que rezamos 140 milhões de Ave-Marias. É muito, é muito e faz toda a diferença”, disse o padre.
“Meu Deus, a cidade está extasiada, o povo está extasiado, é só o que falam. Então, a oração muda, a oração alcança”, concluiu.
Nossa missão é a verdade. Junte-se a nós!
Sua doação mensal ajudará nossa equipe a continuar relatando a verdade, com justiça, integridade e fidelidade a Jesus Cristo e sua Igreja.
Doar