Jul 24, 2025 / 15:58 pm
“É como um epicentro de santidade”, diz o cônego Marcus Holden, “como vários continentes juntos, todos em um pequeno lugar”.
O cônego Holden, que estabeleceu formalmente o santuário de Santo Agostinho de Canterbury em Ramsgate em 2012, se refere à "notável" história católica do condado de Kent, Inglaterra, pouco mais da metade da área de Brasília em que nasceram ou viveram possivelmente 80 santos e beatos.
Muitos deles são pouco conhecidos até mesmo pelos cidadãos de Kent. Para citar alguns dos mais famosos, são santo Agostinho da Cantuária, o principal evangelizador dos ingleses no século VI, o mártir do século XII, são Tomás Becket, o carmelita são Simão Stock, de Aylesford, a quem Nossa Senhora revelou o escapulário, o mártir do período da reforma protestante, são João Fisher, de Rochester.
O cônego Holden disse ao jornal National Catholic Register, da EWTN, "apostar" que Kent tem mais santos canonizados do que qualquer outro condado da Inglaterra. A razão para isso é que Kent é o berço do cristianismo na Inglaterra.
"Poderia se igualar à diocese de Roma", diz Holden.
Se santo Agostinho não tivesse assumido a missão que lhe foi confiada pelo papa são Gregório Magno, e tivesse sucumbido à tentação de voltar atrás enquanto estava a caminho de Canterbury, o cristianismo no Ocidente teria sido bem diferente, diz John Coverdale, historiador da Igreja, que escreveu muito sobre os santos da diocese de Southwark, que abrange o condado de Kent.
“Não haveria catolicismo ou, mais amplamente, cristianismo na Inglaterra, e também quando as colônias estavam sendo estabelecidas na costa leste dos EUA, quando os britânicos foram para a Índia, quando nós fomos para a Austrália e assim por diante”, disse ele ao Register. “Naquela época, eles eram protestantes, mas não teriam as atitudes e a fé cristãs”.
São Simão Stock desempenhou um papel fundamental no estabelecimento da ordem carmelita na Europa, em Aylesford, Kent, e nasceu perto da cidade. Mais famoso por fundar o sacramental do escapulário marrom, depois que a Santíssima Virgem Maria o concedeu a ele numa visão em 1251, seu papel foi vital para a vida dos santos carmelitas Teresa de Lisieux, Teresa de Ávila e João da Cruz.
O cônego Holden destacou que grande parte da tradição carmelita provém de Aylesford. Ele citou aparições subsequentes, como a de Fátima, Portugal, onde Nossa Senhora segurou um escapulário e um rosário, dizendo que há, portanto, "uma enorme ligação de Fátima com Kent". O priorado carmelita de Aylesford, fundado no século XIII, continua sendo um destino de peregrinação popular para os fiéis na Inglaterra.
Arcebispos de Canterbury
Outros santos bem conhecidos de Kent são os antigos arcebispos de Canterbury que, além de são Tomás Becket, cujo martírio inspirou grande devoção e levou a muitos milagres devido à sua intercessão, são o teólogo italiano e beneditino do século XII, santo Anselmo, o primeiro arcebispo martirizado de Canterbury; santo Alphege; o estudioso, mártir e soldado do século VII; são Teodoro, e os santos missionários que viajaram com santo Agostinho: Mellitus, Justus e Paulinus.
No total, 20 arcebispos de Canterbury que viveram entre os séculos VI e XIII foram canonizados. Canterbury tornou-se uma diocese anglicana depois da ruptura do rei Henrique VIII com Roma no século XVI.
Outro arcebispo foi são Dunstan, monge, metalúrgico e fabricante de sinos do século X que certa vez afastou o diabo usando pinças vermelhas em brasa retiradas de sua forja. A igreja de São Dunstan, em Canterbury, lar da relíquia da cabeça de são Thomas More, que, segundo foi anunciado este mês, será exumada depois de 500 anos, também tem, apropriadamente, o sino de igreja mais antigo em funcionamento em Kent, datado de 1325.
“Canterbury é realmente uma cidade santa”, disse Coverdale. “Se não fosse pela reforma, provavelmente ainda estaríamos peregrinando até lá hoje para venerar o grande número de santos que viveram e morreram lá. Suas sombras ainda pairam nas ruas da cidade, se você souber onde procurar”.
Entre os santos menos conhecidos e suas histórias marcantes está a de são Guilherme de Perth, padeiro de Perth, Escócia, que se mudou para Kent e separou um a cada dez pães para alimentar os pobres. Ele adotou uma criança abandonada, mas o órfão o matou para roubá-lo nos arredores de Rochester, fazendo dele um mártir. São Guilherme fez muitos milagres, e seu túmulo "tornou-se uma grande atração em Rochester", disse Coverdale. Uma história de "virtuosa caridade cristã", são Guilherme não pareceu fazer nada fora do comum, "mas tornou-se um santo muito atrativo, e por isso há esperança para a maioria das pessoas lá", disse Coverdale.
São Gundulfo, bispo de Rochester, foi um beneditino do século XI conhecido por seu conhecimento de arquitetura e engenharia em Kent e outros lugares. Especula-se que ele foi a inspiração para o personagem Gandalf, de J.R.R. Tolkien, em O Senhor dos Anéis. A são Gundulfo atribui-se a construção da torre de Londres e do castelo de Rochester, ambos com projetos arquitetônicos semelhantes.
Há também são Ricardo de Chichester, pregador das cruzadas e ex-pároco nas cidades de Charing e Deal, em Kent, que morreu em Dover em 1253. A capela de Santo Edmundo, consagrada por são Ricardo, é conhecida como Capela dos Milagres por ter sobrevivido a pelo menos três tentativas de destruição nos últimos 800 anos. Um padre local, o padre Terence Edmund Tanner, restaurou a capela na década de 1960. As relíquias de órgãos de são Ricardo permaneceram na capela para peregrinos venerarem logo depois da morte dele, antes de se decomporem.
Kent também é o lar de santa Berta, rainha de Kent e mulher do rei Etelberto, do século VI. Santa Berta já era cristã quando santo Agostinho chegou, embora só lhe fosse permitido praticar sua fé em particular. O rei Etelberto não foi cristão na maior parte de sua vida, mas permitiu que santo Agostinho pregasse a fé livremente, deu-lhe terras para morar e para construir a catedral de Canterbury e, segundo Coverdale, disse-lhe que podia ganhar o máximo de almas possível para o cristianismo.
A igreja de São Martinho em Canterbury, a igreja em uso contínuo mais antiga no mundo de língua inglesa, era originalmente a capela particular de santa Bertha.
Santa Mildred de Thanet, do século VIII, abadessa, era trisneta de santo Etelberto. A mãe de santa Mildred, Domne Eafe, uma princesa de Kent e fundadora da abadia de Minster, que existe até hoje, também se tornou santa, assim como suas duas irmãs: santa Milburga de Much Wenlock e santa Mildytha.
Nos últimos anos, santa Eanswythe, neta de santo Etelberto que morreu por volta do ano 650 d.C. aos 20 anos de idade, ganhou destaque. Ela fundou um convento em Folkestone, possivelmente o primeiro da Inglaterra, na costa sul de Kent, e lá viveu uma vida santa e piedosa. Suas relíquias foram descobertas em 1885 numa parede da igreja anglicana de Santa Maria e Santa Eanswythe, na cidade, e foram autenticadas em 2020. Acredita-se que sejam os únicos restos mortais verificados não só da dinastia real de Kent, mas também os primeiros restos mortais verificados de uma santa inglesa.
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Enfatizando a importância dos santos de Kent que remontam à Igreja primitiva, Coverdale disse que foram os santos pré-reforma que diariamente “viviam a fé”, enquanto aqueles no período da reforma protestante enfrentaram perseguição e martírio pela fé católica.
Santos no período da reforma protestante
Mesmo assim, nem todos os santos da reforma de Kent são “totalmente reconhecidos”, disse Coverdale, “mas todos são mártires ingleses de uma forma ou de outra”.
Entre eles está são João Stone, frade agostiniano de Canterbury e o único frade a se recusar a aceitar a reivindicação de Henrique VIII à supremacia sobre a Igreja quando o convento foi dissolvido em 1538. Por isso, ele foi enforcado, arrastado e esquartejado no topo do Dane John, colina importante em Canterbury, e depois venerado como santo e mártir.
Embora não vivesse estritamente em Kent, entre os muitos mártires da região estava também o beato David Gunson, na Old Kent Road, na atual Londres, perto da divisa com Kent. Cavaleiro de Malta, Gunson nasceu numa família naval e foi martirizado em 1541. Coverdale diz que ele é "um emblema do que a Inglaterra perdeu com a reforma — um homem de natureza católica internacional, em que se podia ser distintamente inglês, mas ao mesmo tempo parte de um mundo muito mais amplo". Ele disse que o beato David é um bom exemplo de "observar como a Igreja interage além das fronteiras nacionais".
Possivelmente, cerca de 57 mil pessoas foram executadas na Inglaterra sob Henrique VIII, muitas delas mártires católicos pela fé, e um grande número veio de Kent. Embora ainda não fosse reconhecida como santa, Elizabeth Barton, conhecida como a "santa donzela de Kent", foi executada em 1534 depois de ter visões do Céu e fazer profecias precisas, uma das quais era que Henrique "estava em perigo de inferno", segundo Joseph Bevan, morador de Kent, autor de Two Families: A Memoir of English Life During and After the Council (Duas Famílias: Uma Memória da Vida Inglesa Durante e Depois do Concílio, em tradução livre) A profecia levou à execução dela.
"Barton, até hoje, não foi reconhecida pela Igreja nem mesmo como uma venerável, mas orações a ela resultaram em muitas bênçãos", disse Bevan ao Register.
Coverdale, que em 2014 foi cofundador da rota de peregrinação do Caminho de Santo Agostinho de Cantuária com o cônego Holden e também desempenhou um papel fundamental na criação do santuário de santo Agostinho em 2012, destacou a importância de aumentar a conscientização sobre esses santos e beatos para que eles possam voltar a fazer parte de nossa "vida de oração e realidade espiritual, e não só de figuras históricas".
Invocar os santos e fazer peregrinações aos locais onde são venerados — como é possível com o Caminho de Santo Agostinho e outras rotas de peregrinação em Kent — ajuda a "ressuscitá-los", disse Coverdale. As vidas dos santos locais, disse ele, frequentemente anunciam experiências com as quais a comunidade se identifica, fomentando um senso de proximidade e relevância espiritual. Há quatro "caminhos de Canterbury" que os fiéis podem fazer para visitar lugares ligados aos santos no condado, todos centrados em Canterbury.
O cônego Holden diz que, ao fazer apresentações sobre esses santos da diocese, muitas vezes se mostrou satisfeito com o interesse das pessoas por eles. "Elas ficam muito animadas quando ouvem falar deles”, diz ele. “Adoram a ideia de descobrir esses santos e aprender com outros".
“Acho que os americanos, em particular, adoram”, diz o cônego. Os ingleses “minimizamos isso; nós mesmos enterramos isso”.
Mas ao trazer os santos de volta à consciência pública, disse o cônego Holden, “não só se divulga conhecimento sobre eles, mas também se percebe que eles são intercessores muito poderosos”.
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