PARIS, Mar 24, 2021 / 11:00 am
Um centro pastoral experimental no coração da capital francesa foi fechado no começo de março por ordem do Arcebispo de Paris.
A decisão do Arcebispo Michel Aupetit de fechar o Centro Pastoral de Saint-Merry foi muito discutida na imprensa francesa e é resultado de anos de tensão entre alguns dos leigos da paróquia e os últimos três párocos.
O centro pastoral foi criado em 1975 pelo então Arcebispo de Paris, Cardeal François Marty. À luz do Concílio Vaticano II, o centro deveria ser um lugar para "inventar novos modos para a Igreja de amanhã." Rapidamente ele se transformou em solo fértil para o catolicismo progressista.
As atividades na igreja do século XVI eram supervisionadas por padres e leigos, que podiam participar da liturgia e pregar durante a missa de domingo.
José Arregi, teólogo ultraprogressista espanhol, descreveu o centro como "uma igreja aberta onde nem documentos legais, nem ortodoxia doutrinal, nem orientação sexual, nem identidade de gênero importam".
Leigos da comunidade lançaram uma petição online para que o Arcebispo os deixe continuar a atuar que já obteve 12.000 assinaturas.
Karine Dalle, porta-voz da arquidiocese, disse à CNA, serviço em inglês do grupo ACI, que a decisão não está relacionada à natureza pastoral do centro, mas sim a sérios excessos na paróquia que já ocorrem há muitos anos.
Segundo ela, os dois últimos párocos de Saint-Merry, Pe. Daniel Duigou, que serviu à paróquia de 2015 a 2019, e Pe. Alexandre Denis, que ficou de 2019 a 2020, renunciaram por não terem conseguido estabelecer diálogo com figuras-chaves do centro pastoral. O antecessor deles, Pe. Jacques Mérienne, também saiu depois de nove anos à frente da paróquia em meio a dificuldades no final de seu período.
A porta-voz disse que o Arcebispo decidiu revogar o status especial de Saint-Merry depois que o Pe. Denis saiu com a saúde abalada.
"A colaboração entre padres e leigos já não havia e o Arcebispo Aupetit tomou uma decisão de responsabilidade face a uma situação sem esperança na qual seus padres estavam ficando doentes um após o outro", disse ela.
Na carta com que fechou o centro, vista pela CNA, Aupetit denunciou "a maldade, a falta de caridade e a vontade de destruir" do grupo pastoral em relação ao trabalho de sucessivos padres.
Ele disse que o administrador nomeado depois da saída de Duigou, Monsenhor Benoist de Sinety, vigário-geral da arquidiocese, disse que um pequeno grupo no centro "contribuiu para bloquear qualquer processo de discussão livre" e "gerou um clima no qual a caridade pareceu totalmente esquecida."
Os últimos três párocos eram conhecidos por sua visão progressista. Duigou, em particular, elogiou as virtudes da experiência em Saint-Merry e seu sistema de governo num livro de 2018 intitulado "Lettre ouverte d'um curé au Pape François" (Carta aberta de um cura ao Papa Francisco, em tradução livre).
Segundo uma fonte bem-informada da paróquia, o clima envenenado foi causado por um núcleo duro da comunidade, cerca de 20 pessoas, a maior parte com mais de 70 anos, cuja "intolerância" e "mentalidade sectária" também levou ao afastamento de leigos, muitos dos quais jovens.
A fonte disse à CNA: "Essas pessoas tinham seus vinte anos em 1968 e formaram esta comunidade juntos com uma intuição inicial bonita. Mas depois envelheceram com seus próprios códigos, sem nunca se renovar ou acolher gente nova, afastando a si próprios da realidade."
"Os jovens fugiram porque suas propostas eram sistematicamente recusadas e eles não se reconheciam num ambiente de Igreja assim".
A fonte disse que a agressividade do grupo era dirigida principalmente aos párocos, que eles viam como figuras de autoridade que não eram bem-vindas.
"Não era a pessoa que era contestada, mas o próprio cargo. Eles recusam a instituição em si e querem que o pároco fique quieto", comentou a fonte.
"Durante as reuniões pastorais eles ficavam sistematicamente contra as ideias e opiniões dos padres. Eles achavam ser os únicos que entendiam o que a Igreja de hoje deveria ser e eram incapazes de se questionar."
Em entrevista ao diário francês Le Monde, Guy Aurenche, membro da equipe pastoral havia muito tempo, acusou o "radicalismo de uma decisão unilateral e brutal" da Diocese de Paris, mas disse que o último pároco "pode ter sido desafiado agressivamente."
Aurenche sugeriu que a decisão de fechar o centro pode ter sido motivada pela hostilidade da diocese em relação a um lugar de "acolhimento incondicional, por exemplo, a Cristãos homossexuais e divorciados casados novamente, a participação de homens e mulheres na preparação da liturgia e a corresponsabilidade de leigos e padres".
A acusação foi rechaçada pela diocese sob o argumento de que, se fosse esse o caso, o Arcebispo poderia ter terminado a experiência muito tempo atrás.
"Estamos cientes de que, atrás de tudo isso, há pessoas sinceras que costumavam ir regularmente à igreja e não entenderam a decisão do bispo, já que elas não eram parte do núcleo do grupo e não tiveram experiência dos métodos de governança por dentro", disse Dalle à CNA.
Sem excluir a possibilidade de a diocese permitir experiências pastorais semelhantes no future, ela disse que elas não poderão seguir o modelo de Saint-Merry, com pessoas que rejeitam a própria instituição da Igreja e seus fundamentos.
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