30 de abril de 2024 Doar
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Leia a homilia completa dos funerais do Papa João Paulo II

Reproduzimos a seguir o íntegra da homilia pronunciada pelo Decano do Colégio Cardenalício, Cardeal Joseph Ratzinger nos funerais do Papa João Paulo II.
(Tradução de ACI Digital)

“Siga-me” diz o Senhor ressuscitado ao Pedro, como sua última palavra a este discípulo, escolhido para tomar conta das suas ovelhas. “Siga-me”, esta palavra lapidária de Cristo pode ser considerada a chave para compreender a mensagem que vem da vida de nosso chorado e amado Papa João Paulo II, cujos restos colocaremos hoje na terra como semente de imortalidade- o coração cheio de tristeza, mas também de jubilosa esperança e de profunda gratidão.

Estes são os sentimentos de nossa alma, Irmãs e Irmãos em Cristo, presentes na Praça São Pedro, nas ruas adjacentes e nos diversos lugares da cidade de Roma, povoada nestes dias por uma imensa multidão silenciosa e orante. A todos saúdo cordialmente. Em nome também do Colégio dos Cardeais desejo dirigir uma saudação aos Chefes de Estado, de Governo e as delegações dos vários países. Saúdo as Autoridades e aos Representantes das Igrejas e as Comunidades cristãs, como também das diversas religiões. Saúdo também aos Arcebispos, aos Bispos, aos sacerdotes, aos religiosos, as religiosas e aos fiéis todos chegados de cada continente; em modo especial aos jovens, que João Paulo II amava definir como o futuro e a esperança da Igreja. Minha saudação alcança, além disso, a quantos em cada parte do mundo estão unidos a nós através da rádio e a televisão nesta coral participação ao solene rito de despedida do amado Pontífice.

Siga-me. De jovem estudante, Karol Wojtyla era um entusiasta da literatura, do teatro, da poesia. Trabalhando em uma fábrica química, rodeado e ameaçado pelo terror nazista, escutou a voz do Senhor: Siga-me! Neste contexto tão particular começou a ler livros de filosofia e teologia, entrou depois no seminário clandestino criado pelo Cardeal Sapieha e depois da guerra pôde completar seus estudos na faculdade teológica da Universidade Jaghellonica da Cracóvia. Tantas vezes em suas cartas aos sacerdotes e em seus livros autobiográficos nos falou que seu sacerdócio, no qual foi ordenado em 1 de novembro de 1946. Nestes textos interpreta seu sacerdócio particularmente a partir de três palavras do Senhor. Sobre tudo esta: “Não foram vocês os que me escolheram, mas sim eu que os escolhi e os constituí para que vão e levem fruto, e seu fruto permaneça” (Jo 15, 16), A segunda palavra é: “O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10, 11). E finalmente: “Como o Pai me amou, assim eu os amei. Permaneçam em meu amor” (Jo 15, 9). Nestas três palavras vemos toda a alma do nosso Santo Padre. Realmente foi a todas partes e incansavelmente para levar fruto, um fruto que permanece. “Levantai-vos, vamos!”, é o título de seu penúltimo livro. “Levantai-vos, vamos!”- com estas palavras nos despertou de uma fé cansada, do sono dos discípulos de ontem e de hoje. “Levantai-vos, vamos!” nos diz também hoje a todos nós. O Santo Padre foi sacerdote até o final, porque deu sua vida a Deus por suas ovelhas e pela inteira família humana, em uma doação cotidiana ao serviço da Igreja e sobre tudo nas difíceis provas dos últimos meses. Assim chegou a ser uma só coisa com Cristo, o bom pastor que ama a suas ovelhas. E enfim “permaneçam em meu amor”: O Papa que tem procurado o encontro com todos, que teve uma capacidade de perdão e de abertura do coração para todos, diz-nos, também hoje, com estas palavras do Senhor: Habitando no amor de Cristo aprendemos, na escola de Cristo, a arte do verdadeiro amor.

Siga-me! Em julho de 1958 começa para o jovem sacerdote Karol Wojtyla uma nova etapa no caminho com o Senhor e atrás do Senhor. Karol tinha ido, como estava acostumado a fazer, com um grupo de jovens apaixonados à canoagem aos lagos Masuri por umas férias. Mas levava consigo uma carta que o convidava a apresentar-se ao Primado da Polônia, o Cardeal Wyszynski e podia adivinhar o fim de tal encontro: a nomeação a bispo auxiliar da Cracóvia. Deixar o ensino acadêmico, deixar a estimulante comunhão com os jovens, deixar sua grande fome intelectual por conhecer e interpretar o mistério da criatura do homem, por fazer presente no mundo de hoje a interpretação cristã de nosso ser- tudo isto devia lhe parecer um perder-se a si mesmo, perder justo o que se converteu na identidade humana deste jovem sacerdote. Siga-me!,  Karol Wojtyla aceitou, sentindo na chamada da Igreja a voz de Cristo. E depois se deu conta de quanto é verdadeira a palavra do Senhor: “Quem procura a própria vida a perderá, quem a perca a salvará” (Lc 17, 33). Nosso Papa- sabemos todos- não quis nunca salvar a própria vida, nem tê-la para si; quis dar-se a si mesmo sem reservas, até o último momento, por Cristo e assim também por nós. Deste modo pôde experimentar como tudo quanto tinha entregue nas mãos do Senhor retornou em um novo jeito : o amor à palavra, à poesia, às cartas foi uma parte essencial da sua missão pastoral e deu nova atualidade, nova atração ao anúncio do Evangelho, justo quando também este é sinal de contradição.

Siga-me! No outubro de 1978 o Cardeal Wojtyla escutou novamente a voz de, Senhor. Renova-se o diálogo com o Pedro no Evangelho desta celebração: “Simão do João, me amas? Apascenta as  minhas ovelhas!” À pergunta do Senhor: “Karol me amas?”, o Arcebispo da Cracóvia respondeu do profundo de seu coração: “Senhor, Tu sabes tudo: Tu sabes que te amo”. O amor de Cristo foi a força dominante de nosso amado Santo Padre; quem o viu rezar, quem o escutou pregar, o sabe. E assim, graças a esse profundo enraizamento em Cristo pôde levar um peso, que vai além das forças puramente humanas: Ser pastor do rebanho de Cristo, de sua Igreja universal. Não é esse o momento de falar de conteúdos singulares deste Pontificado tão rico. Queria somente ler dois passos da liturgia de hoje, nos quais aparecem os elementos centrais de seu anúncio. Na primeira leitura diz São Pedro- e diz o Papa com São Pedro- a todos nós: “Está claro que Deus não faz distinções; aceita ao que o teme e pratica a justiça, seja da nação que seja. Enviou sua palavra aos israelitas anunciando a paz por Jesus Cristo o Senhor de todos” (At 10, 34-36). E, na segunda leitura, São Paulo- e com São Paulo nosso Papa defunto- exorta-nos com forte voz: “meus irmãos queridos e tão amados, minha alegria e minha coroa, permaneçam firmes no Senhor assim como aprendestes, queridos” (Flp 4, 1).

Siga-me! junto com a ordem de apascentar seu rebanho, Cristo anunciou ao Pedro seu martírio. Com esta palavra conclusiva e que resume o dialogo sobre o amor e sobre o mandato de pastor universal, o Senhor chama a outro dialogo, que se deu no contexto da última ceia. Então Jesus havia dito: “Onde vou eu vós não podem vir”. Disse Pedro: “Senhor, onde vas?”. Respondeu-lhe Jesus: “Onde eu vou por agora você não pode me seguir; seguirá-me mais tarde” (Jo 13, 33.36). Jesus da ceia vai à cruz, vai à ressurreição- entra no mistério pascal; Pedro ainda não o pôde seguir. Agora -depois da ressurreição- chegou esse momento, esse “mais tarde”. Apascentando o rebanho de Cristo, Pedro entra no mistério pascal, vai para a cruz e a ressurreição. O Senhor o diz com estas palavras, “…quando foste jovem… foste onde querias, mas quando fores velho estenderás tuas mãos, e outro te cingirá e te levará onde não queres” (Jo 21, 18). No primeiro período de seu pontificado o Santo Padre, ainda jovem e cheio de força, sob a guia de Cristo ia para os confins do mundo. Mas depois, entrou na comunhão com o sofrimento de Cristo, sempre compreendeu mais a verdade das palavras: “Outro te cingirá…”. E nesta comunhão com o Senhor sofredor anunciou incansavelmente e com renovada intensidade o Evangelho, o mistério do amor que vai até o fim (cf Jo 13, 1).

Ele interpretou para nós o mistério pascal como um mistério da divina misericórdia. Escreve em seu último livro: O limite imposto ao mal “é em definitiva a divina misericórdia” (Memória e Identidade”, pág. 70). E refletindo sobre o atentado diz: “Cristo, sofrendo por todos nós, deu-lhe um novo sentido ao sofrimento; introduziu-o em uma nova dimensão, em uma nova ordem: aquela do amor… é o sofrimento que queima e consome o mal com a chama do amor e traz também do pecado um multiforme broto de bem” (pág. 199). Animado por esta visão, o Papa sofreu e amou em comunhão com Cristo e por isso a mensagem de seu sofrimento e de seu silêncio foi assim eloqüente e fecundo.

Divina Misericórdia: o Santo Padre encontrou o reflexo puro da misericórdia de Deus na Mãe de Deus. Ele, que tinha perdido em tenra idade à mamãe, quanto mais tem amado a Mãe divina. Escutou as palavras do Senhor crucificado como ditas a ele pessoalmente: “Eis aqui a sua mãe!”. E tem feito como o discípulo predileto: acolheu-a no íntimo de seu ser (esi ta idia: Jo 19, 27)- Totus tuus. E da mãe aprendeu a conformar-se com Cristo.

Para todos nós permanece como inesquecível o último domingo de Páscoa de sua vida, o Santo Padre, marcado pelo sofrimento, aproximou-se mais uma vez à sua janela do Palácio Apostólico e uma última vez deu a bênção “Urbi et orbi”. Podemos estar seguros que nosso amado Papa está agora na janela da casa do Pai, nos vê e nosabençoa. Sim, abençoe-nos, Santo Padre. Nós encomendamos sua querida alma à Mãe de Deus, sua Mãe, que o guiou cada dia e o guiará agora até a glória eterna de Seu Filho, Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.

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