2 de maio de 2024 Doar
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De menino soldado a sacerdote: A história de Esteban, um sinal de esperança para Uganda

Esteban tinha 16 anos de idade quando os ferozes guerrilheiros do Exército de Resistência do Senhor (LRA) assaltaram em 11 de maio de 2003 o seminário menor da Arquidiocese de Gulu, no norte de Uganda, e o seqüestraram junto com outros quarenta seminaristas. O pesadelo que viveu no cativeiro não destruiu sua vocação e agora se prepara para ser ordenado sacerdote.

Segundo uma crônica de Eva-Maria Kolmann de Ajuda à Igreja que Sofre, os rebeldes os levaram aos seminaristas para convertê-los em soldados. Muitos foram assassinados e doze seguem desaparecidos.

Esteban narrou sua história aos representantes da associação católica internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que recentemente fizeram uma viagem à Uganda.

"Durante dois meses, os assassinatos, os estupros e as torturas formaram parte de sua vida cotidiana. Os rebeldes também queriam ensiná-lo a matar, e mais ainda por ser seminarista. Alguns de seus companheiros foram mortos diante dele a golpes e coronhadas; outros foram despedaçados com facões porque tinham os pés destroçados depois das longas marchas e já não podiam andar. Ele, em troca, teve sorte na desgraça, porque pôde fugir antes que o obrigassem a matar", informa AIS.

O seqüestro

Os olhos de Esteban ainda refletem um grande pesar quando recorda o fato. "Os rebeldes chegaram vinte minutos depois da meia-noite; eram uns vinte. Alguns rodearam o seminário menor e outros se dirigiram diretamente ao dormitório dos alunos de 16 anos. Como não conseguiram forçar a porta, um deles entrou pela janela e a abriu desde dentro. Um dos seminaristas tinha cortado a luz para obstaculizar aos rebeldes, mas estes levavam tochas".

Os dois soldados que o Governo tinha posto à disposição do seminário para velar por sua segurança fugiram assim que apareceram os rebeldes. "Eles nos abandonaram e não havia ninguém que nos protegesse", explica Esteban. Além dos seminaristas, havia no terreno do seminário entre mil e duas mil pessoas, principalmente mulheres e crianças, que se refugiaram ali para passar a noite. Um rebelde matou com um tiro um menino de uns sete anos diante da sua mãe, conta o jovem com semblante impávido.

Os rebeldes amarraram os seminaristas, saquearam tudo e obrigaram os adolescentes a caminhar durante horas. Na manhã seguinte foram separados em grupos e começaram a doutriná-los sob a ameaça de serem executados se tentavam fugir.

A fé de Esteban o manteve forte e firme. "Vi coisas que jamais pensei que teria que contemplar algum dia. Um homem não é capaz de escapar de tudo aquilo, mas Deus obra milagres. Só restava rezar: essa era minha única esperança. Como não podíamos rezar juntos, eu o fazia sozinho. Em cada uma das largas marchas rezava o rosário contando com os dedos, porque não tinha um terço. A oração era tudo o que tinha. Existem pessoas que não experimentaram Deus, mas eu sim tive essa experiência", recorda.

Quase dois meses depois do seu seqüestro, as forças governamentais atacaram os rebeldes, e nesse momento, entre bombas e fogo de metralhadoras, Esteban conseguiu fugir e depois de vários dias de caminhar sem rumo chegou a um colégio abandonado onde encontrou um soldado do Exército ugandês.

A família de Esteban já o tinha dado por morto. "Tinham pedido a um sacerdote que celebrasse uma Missa funerária por mim", recorda Esteban. Seus pais e seis irmãos não queriam que Esteban retornasse ao seminário, mas Esteban sabia que esse era seu lugar.

Desde 1988 mais de 30 mil crianças e adolescentes foram seqüestrados pelos rebeldes. Os varões são convertidos em soldados e as meninas, em escravas sexuais. As crianças são cruelmente estupradas, submetidas com drogas, obrigadas a matar, torturadas, castigadas brutalmente pela mínima falha e muitas assassinadas longe dos olhares de todos.

Alguns não se atrevem a retornar às suas famílias, porque se envergonham das atrocidades que foram obrigadas a fazer. Freqüentemente, os rebeldes obrigavam as crianças e jovens seqüestrados a assassinarem pessoas dos seus próprios povoados ou inclusive os seus pais e irmãos, para que o retorno fosse impossível.

A esperança

Conforme informa AIS, "a Igreja Católica ajuda estas crianças. Assim, por exemplo, a rádio católica da Diocese de Lira criou um programa especial que permite que os parentes destas crianças enviem mensagens de amor animando-os a retornar. Também os meninos soldados que retornaram animam os seus camaradas a retornarem dizendo-lhes que não tenham medo. Os rebeldes não gostaram nada desta iniciativa, por isso incendiaram a emissora. Não obstante, a antena retransmissora não foi queimada e a Rádio Wa (Wa significa "nosso rádio") segue emitindo com o apoio da Ajuda à Igreja que Sofre uma programação que contribui à paz e à reconciliação na Uganda".

"Cada um dos meninos seqüestrados e maltratados pelo LRA tem um rosto e um nome. Esteban, que compartilhou o sofrimento destes meninos, quer contribuir como sacerdote à cura de suas feridas e a trazer a paz a um país onde os meninos foram utilizados como armas. Quer levar a mensagem de amor de Deus àqueles que desde criança se esqueceram que têm um rosto e um nome. E ele pode ensiná-los que Deus opera milagres, porque ele mesmo o viveu", sustenta AIS.
 

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