A Secretaria para a Comunicação da Santa Sé publicou no sábado, 17 de março, a carta completa de Bento XVI sobre a coleção “A Teologia do Papa Francisco”, após polêmica por uma “suposta manipulação” fotográfica que, como assinalou um meio de comunicação internacional, “alterou significativamente o significado das citações” do Papa Emérito.

Como se recorda, em 12 de março foi apresentada a coleção “A Teologia do Papa Francisco”, no marco das celebrações pelo quinto aniversário da eleição do atual Pontífice.

Por isso, a Secretaria para a Comunicação divulgou uma nota de imprensa que anunciava uma “carta pessoal de Bento XVI sobre sua continuidade com o pontificado do Papa Francisco”, com uma foto que mostrava uma pilha de livros sobre a segunda folha da missiva, deixando a vista apenas a assinatura do Papa Emérito.

Entretanto, depois foram conhecidas algumas linhas não divulgadas pela secretaria vaticana. Nestas, Bento XVI expressa sua surpresa por estar incluído entre os autores o teólogo alemão Peter Hünermann, “que durante meu pontificado se distinguiu por ter liderado iniciativas antipapais” e por atacar de “forma virulenta a autoridade magisterial do Papa”.

A jornalista Nicole Winfield, de ‘AP’, escreveu em 14 de março que uma fonte vaticana, sob anonimato, “não explicou por que a Santa Sé eliminou as linhas e se limitou a comentar que nunca se teve a intenção de divulgar todo o documento”.

Winfield assinalou que “o conteúdo faltante da carta alterou significativamente o significado das citações que o Vaticano decidiu destacar, as quais foram reproduzidas amplamente na imprensa”.

Diante desta polêmica, a Secretaria para a Comunicação emitiu no dia 17 de março um comunicado, no qual recorda que, por “ocasião da apresentação da coleção ‘A Teologia do Papa Francisco’, editada pela Livraria Editora Vaticana, realizada no último dia 12 de março, foi divulgada uma carta do Papa Emérito Bento XVI”.

“Seguiram-se – indicou – muitas polêmicas sobre a suposta manipulação censuradora da fotografia distribuída como anexo fotográfico. Da carta, reservada, se leu o que era oportuno e relativo à iniciativa e, em detalhe, o que o Papa Emérito afirma sobre a formação filosófica e teológica do atual Pontífice e a união entre os dois pontificados, passando por alto algumas anotações relativas aos contribuintes da coleção”.

“A decisão foi motivada pela discrição e não por nenhuma tentativa de censura. Para dissipar qualquer dúvida foi decidido publicar a nota em sua totalidade”, assinala o comunicado.

A seguir, a carta completa de Bento XVI dirigida a Mons. Dario Edoardo Viganò, Prefeito da Secretaria para a Comunicação:

Reverendíssimo Monsenhor,

Muito obrigado por sua amável carta de 12 de janeiro e pelo presente dos onze pequenos volumes editados por Roberto Repole. Aplaudo esta iniciativa que se opõe e reage ao preconceito tolo segundo o qual o Papa Francisco seria apenas um homem prático desprovido de uma particular formação teológica ou filosófica, enquanto eu seria unicamente um teórico da teologia que teria pouco entendido a vida concreta de um cristão hoje. Os pequenos volumes mostram com razão que o Papa Francisco é um homem de profunda formação filosófica e teológica e ajudam a ver a continuidade interior entre os dois pontificados, não obstante todas as diferenças de estilo e temperamento.

Entretanto, não me sinto como para escrever sobre isso “uma breve e densa página teológica”. Em toda a minha vida, sempre esteve claro que escreveria e me expressaria somente sobre livros que verdadeiramente li. Lamentavelmente, embora apenas por razões físicas, não consigo ler os onze volumes no futuro próximo, pois me esperam outros compromissos já assumidos.

Apenas à margem, gostaria de anotar minha surpresa pelo fato de que entre os autores está também o professor Hünermann, que durante meu pontificado se distinguiu por ter liderado iniciativas antipapais. Ele participou de modo relevante no lançamento da “Kölner Erklärung” (Declaração de Colônia), que em relação à encíclica “Veritatis splendor” atacou de forma virulenta a autoridade magisterial do Papa, especialmente em questões de teologia moral. Também a “Europäische Theologengesellschaft” (Sociedade Alemã de Teólogos) que ele fundou, inicialmente pensada por ele como uma organização em oposição ao magistério papal. Posteriormente, o sentir eclesial de muitos teólogos impediu esta orientação, tornando-se essa organização um instrumento normal de encontro entre teólogos.

Estou certo de que compreenderá minha negativa e o saúdo cordialmente.

Seu, Bento XVI

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