O Vaticano alerta que o relatório da ONU coloca a liberdade religiosa e a objeção de consciência como secundárias em relação a "outros direitos" associados ao "gênero" para promover uma "colonização ideológica".

O Observador Permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas (ONU) e outras organizações internacionais em Genebra, Dom Ivan Jurkovic, se pronunciou em 2 de março sobre o relatório apresentado pela ONU na Sessão nº 43 do Conselho de Direitos Humanos para o Direito à Liberdade de Religião ou Crença.

Dom Jurkovic viu com grande preocupação que o relatório apresentado pelo Relator Especial sobre Liberdade de Religião ou Crença “faz inúmeras referências que recomendam que a liberdade de religião ou crença e a objeção de consciência devem se render diante da promoção dos chamados outros ‘direitos humanos’”.

Sobre isso, o Vaticano “sempre entendeu o ‘gênero’ segundo o uso ordinário, geralmente aceito, baseado na identidade biológica masculina e feminina”, lembrou Dom Jurkovic, referindo-se à Declaração Final da Santa Sé na quarta Conferência Mundial sobre as Mulheres, realizada em Pequim (China), em 15 de setembro de 1995.

O relatório da ONU se concentra menos na proteção de milhões de homens ou mulheres, de qualquer fé ou crença, que atualmente são "perseguidos ou discriminados", e se concentra mais em "pressionar uma visão da sociedade humana que não é compartilhada por todos e isso não reflete a realidade social, cultural e religiosa de muitos povos”, afirmou Dom Jurkovic.

Portanto, o Observador Permanente da Santa Sé disse que impor outros direitos que "não têm consenso" é um "tipo de ‘colonização ideológica’ em algumas partes de alguns Estados e em suas instituições internacionais”. O relatório, em parte, "é, na realidade, um ataque à liberdade de religião ou crenças, assim como à liberdade de consciência", acrescentou.

Nesse sentido, a delegação da Santa Sé advertiu que há uma crescente influência de poderes e grupos de interesse dentro das organizações internacionais que “impõem suas visões e ideias, não raramente despeitosas da identidade, da dignidade e da sensibilidade dos povos".

“É muito desagradável, mas sempre menos surpreendente dada a sua frequência, que um relatório da ONU, que deveria defender o direito fundamental e universal do homem à liberdade de religião, de credo e de objeção de consciência, esteja agora atacando a mesma realidade que é chamado a defender”, lamentou Dom Jurkovic.

Finalmente, Dom Jurkovic observou que, ironicamente, o Relator Especial não fez nenhuma referência aos esforços realizados pelo Papa Francisco e pelo Grão-Imã de Al Azhar, em 4 de fevereiro de 2019, quando intervieram para impedir o derramamento de sangue inocente e pôr um fim às guerras e exortaram os líderes mundiais a trabalhar para difundir uma cultura de tolerância e convivência mundial em paz.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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