O Papa Francisco dedicou a catequese da Audiência Geral desta quarta-feira ao perdão e recordou que, “desde o início do seu ministério na Galileia, Jesus aproxima os leprosos, os endemoniados, todos os doentes e os marginalizados”.

Também assegurou que “nos faz bem pensar que Deus não escolheu como primeira massa para formar a sua Igreja as pessoas que não erravam nunca. A Igreja é um povo de pecadores que experimentam a misericórdia e o perdão de Deus”.

A seguir, o texto completo da catequese do Papa:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Ouvimos a reação dos convíveres de Simão o fariseu: “Quem é este homem que até perdoa pecados?” (Lc 7, 49). Jesus tinha feito um gesto escandaloso. Uma mulher da cidade, conhecida por todos como uma pecadora, entrou na casa de Simão, inclinou-se aos pés de Jesus e derramou sobre seus pés óleo perfumado. Todos aqueles que estavam ali à mesa murmuraram: se Jesus é um profeta, não deveria aceitar gestos do tipo de uma mulher como aquela. Aquelas mulheres, pobrezinhas, que serviam somente para ser encontradas às escondidas, também pelos chefes, ou para ser lapidadas. Segundo a mentalidade do tempo, entre o santo e o pecador, entre o puro e o impuro, a separação devia ser clara.

Mas a atitude de Jesus é diferente. Desde o início do seu ministério na Galileia, Ele aproxima os leprosos, os endemoniados, todos os doentes e os marginalizados. Um comportamento do tipo não era nada habitual, tanto é verdade que esta simpatia de Jesus pelos excluídos, os “intocáveis”, será uma das coisas que mais chamará a atenção de seus contemporâneos. Lá onde há uma pessoa que sofre, Jesus está lá, e aquele sofrimento se torna seu. Jesus não prega que a condição de pena deve ser suportada com heroísmo, à maneira dos filósofos históricos. Jesus partilha a dor humana e quando a enfrenta, do seu íntimo brota aquela atitude que caracteriza o cristianismo: a misericórdia. Jesus, diante da dor humana, sente misericórdia; o coração de Jesus é misericordioso. Jesus prova compaixão. Literalmente: Jesus sente tremar suas vísceras. Quantas vezes nos evangelhos encontramos reações do tipo. O coração de Cristo encarna e revela o coração de Deus, que lá onde está um homem ou uma mulher que sofre, quer a sua cura, a sua libertação, a sua vida plena.

É por isso que Jesus abre os braços aos pecadores. Quanta gente perdura também hoje em uma vida errada porque não encontra ninguém disponível para olhá-lo ou olhá-la de modo diferente, com os olhos, melhor, com o coração de Deus, isso é, olhá-los com esperança. Jesus, em vez disso, vê uma possibilidade de ressurreição também em quem acumulou tantas escolhas erradas. Jesus está sempre ali, com o coração aberto; abre aquela misericórdia que tem no coração; perdoa, abraça, entende, se aproxima: assim é Jesus!

Às vezes esquecemos que para Jesus não se tratou de um amor fácil, a pouco preço. Os evangelhos registram as primeiras reações negativas em relação a Jesus quando ele perdoou os pecados de um homem (cfr Mc 2, 1-12). Era um homem que sofria duplamente: porque não podia caminhar e porque se sentia “errado”. E Jesus entende que a segunda dor é maior que a primeira, tanto que logo o acolhe com um anúncio de libertação: “Filho, foram perdoados seus pecados!” (v. 5). Libera aquele sentido de opressão de sentir-se errado. É então que alguns escribas– aqueles que se acreditam perfeitos: penso em tantos católicos que se acreditam perfeitos e desprezam os outros…é triste isso… – alguns escribas ali presentes se escandalizaram com as palavras de Jesus, que soam como blasfêmia, porque somente Deus pode perdoar os pecados.

Nós que estamos habituados a experimentar o perdão dos pecados, talvez muito a “bom preço”, deveríamos alguma vez recordar quanto custamos ao amor de Deus. Cada um de nós custou bastante: a vida de Jesus! Ele a teria dado mesmo que somente por um de nós. Jesus não vai à cruz porque cura os doentes, porque prega a caridade, porque proclama as bem aventuranças. O Filho de Deus vai à cruz sobretudo porque perdoa os pecados, porque quer a libertação total, definitiva do coração do homem. Porque não aceita que o ser humano consuma toda a sua existência com esta “tatuagem” inapagável, com o pensamento de não poder ser acolhido pelo coração misericordioso de Deus. E com estes sentimentos, Jesus vai ao encontro dos pecadores, que todos nós somos.

Assim os pecadores são perdoados. Não somente são acalmados em nível psicológico, porque livres do sentido de culpa. Jesus faz muito mais: oferece às pessoas que erraram a esperança de uma vida nova. “Mas, Senhor, eu não sou sábio” – “Olha adiante e te faço um coração novo”. Esta é a esperança que nos dá Jesus. Uma vida marcada pelo amor. Mateus, o publicano, torna-se apóstolo de Cristo: Mateus, que é um traidor da pátria, um explorador do povo. Zaqueu, rico, corrupto – este certamente tinha graduação em propinas – de Jericó, se transforma em um benfeitor dos pobres. A mulher da Samaria, que teve cinco maridos e agora convive com outro, se ouve prometer uma “água viva” que poderá jorrar para sempre dentro dela (cfr Jo 4, 14). Assim Jesus muda o coração; faz assim com todos nós.

Nos faz bem pensar que Deus não escolheu como primeira massa para formar a sua Igreja as pessoas que não erravam nunca. A Igreja é um povo de pecadores que experimentam a misericórdia e o perdão de Deus. Pedro entendeu mais verdade de si mesmo no canto do galo, que em todos os seus gestos de generosidade, que faziam abrir o peito, fazendo-o sentir superior aos outros.

Irmãos e irmãs, somos todos pobres pecadores, necessitados da misericórdia de Deus que tem a força de nos transformar e nos dar novamente esperança, e isso todos os dias. E o faz! E às pessoas que entenderam esta verdade basilar, Deus presenteia a missão mais bela do mundo, vale dizer o amor pelos irmãos e as irmãs, e o anúncio de uma misericórdia que Ele não nega a ninguém. E esta é a nossa esperança. Vamos adiante com esta confiança no perdão, no amor misericordioso de Jesus.

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