O Arcebispo de Assunção (Paraguai) e membro da comissão de redação do documento final do Sínodo da Amazônia, Dom Edmundo Valenzuela, expressou seu apoio à ordenação de homens casados ​​(viri probati) e diaconisas na região amazônica.

Em entrevista à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, o Prelado manifestou que foi uma "agradável surpresa" ter sido eleito pelo Papa Francisco para fazer parte da comissão de redação do documento final do Sínodo e enfatizou que "existem temas muito difíceis de enfrentar".

Um deles, indicou, está sendo tratado no círculo menor em que participa do Sínodo e é “o tema dos viri probati. Podemos dizer que são os homens casados ​​propostos para serem ministros da ordem sagrada não apenas para a Eucaristia, mas também para ensinar, também para cuidar da comunidade, o que dizemos que são os três ofícios de Cristo Jesus: profeta, sacerdote e servidor, que é característico de todo sacerdote, de todo bispo. Isso também caracterizaria estes senhores”.

Depois de assinalar que esse tema está sendo debatido “para as necessidades da Amazônia”, o Arcebispo disse que a ordenação dos viri probati pode ser uma ajuda para os “vigários apostólicos que não podem sustentar sua tarefa por duas razões: pela distância e também pela presença dos pentecostais. Muitas comunidades facilmente se tornam pentecostais, porque não há este sacerdote, ou este catequista ou esta pessoa ordenada para sua comunidade. Em suma, esse é um tema muito delicado”.

Para o Prelado, “o outro tema importante e delicado é a questão das diaconisas, isto é, sabemos que na sala sinodal houve muitas intervenções como um clamor, sobretudo das mulheres, e mulheres religiosas e não religiosas, mulheres indígenas e não indígenas, que pediram que a Igreja possa instituir o ministério do diaconato feminino”.

O Arcebispo também falou à ACI Prensa que “em determinadas circunstâncias, em determinados vicariatos apostólicos”, certas mulheres “já realizam tarefas muito semelhantes ao diaconato, porque batizam, assistem os matrimônios, dirigem as comunidades”. Assim, em relação a tais casos, disse que “existe a possibilidade de que este Sínodo especialmente dedicado à Amazônia possa pedir ao Papa que veja como se pode aportar na Amazônia o diaconato feminino”.

Sobre a ordenação de viri probati, o Prelado indicou que, “na Amazônia, devem ser os próprios vigários apostólicos que, por motivos de necessidade pastoral, por motivos de urgência da Eucaristia, por motivos de não serem invadidos pelos pentecostais, possam pedir à Santa Sé, ao Papa, a licença para determinados lugares, determinadas pessoas, não como um princípio genérico; e igualmente para o diaconato feminino”.

"Pelo menos, fazer um processo de formação para todos aqueles que amanhã, não sabemos quando, se possa institucionalizar, mas não frear, mas continuar o caminho deste Sínodo, porque a Igreja jamais impediu o diaconato feminino”, destacou Dom Valenzuela.

“Não há nenhuma proibição sobre isso. Além disso, o diaconato feminino deve ser feminino, não clericalizado. Ou seja, será necessário estudar todas as modalidades nas quais a mulher, que não é um clérigo, a mulher como tal, desde sua vestimenta, desde sua presença, seja sempre mulher, no estilo da mulher, não clericalizado”.

Em seguida, Dom Valenzuela lembrou que “o Papa Francisco já havia constituído uma comissão em 2016 e isso ainda não deu resultados porque, como lemos nos comentários jornalísticos, não havia um acordo nem histórico, nem antropológico, nem teológico neste campo".

"Todo esse é um caminho que está aberto e acho que este Sínodo propõe, como este Sínodo é somente consultivo, entregamos ao Papa todas as nossas propostas”, destacou.

O Arcebispo de Assunção também conversou com ACI Prensa sobre a importância de evangelizar com um ardor especial na Amazônia. É necessário, disse, "um ardor missionário que vá além de ser apenas servos ou ministros de escritório, mas realmente ser pessoas entusiasmadas com o ardor de Cristo Jesus".

O Prelado também destacou a importância de defender a ecologia integral e destacou a necessidade de inculturar o Evangelho na região.

"Corresponde somente aos bispos fazer este esforço de discernimento para não confundir tradições que poderiam ser politeístas, deístas e são expressões que devem ser purificadas para que na liturgia católica todas essas expressões possam ser acomodadas e sejam expressões naturais dos povos indígenas", assegurou.

A comissão de estudo das diaconisas e a palavra do Papa Francisco

Em 2 de agosto de 2016 e, cumprindo com sua promessa de 12 de maio desse mesmo ano de analisar o papel das diaconisas nos primeiros anos da Igreja, a Santa Sé informou que o Papa Francisco decidiu criar uma comissão de estudos “sobre o diaconato das mulheres”, presidida pelo então secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Luis Francisco Ladaria Ferrer, atualmente Prefeito do Dicastério.

Em 7 de maio de 2019, na coletiva de imprensa a bordo do avião em que retornou da Macedônia para Roma, o Santo Padre se referiu ao tema.

“Fundamental, porém, é que não há certeza de que se tratasse de uma ordenação com a mesma forma e finalidade da ordenação masculina. Alguns dizem: permanece a dúvida, vamos continuar a estudar. Eu não tenho medo do estudo. Contudo, até agora, nada se concluiu”, disse o Papa na ocasião.

Três dias depois, em 10 de maio, o Santo Padre recebeu as representantes da União Internacional das Superioras Gerais (UISG), às quais discursou sobre a importância de sua missão.

Naquele dia, o Papa também respondeu a algumas perguntas das religiosas e disse que, “sobre o caso do diaconato, devemos procurar o que havia no início da Revelação, e se houver algo, fazê-lo crescer e que amadureça... Se não houver alguma coisa, se o Senhor não quis o ministério sacramental para as mulheres não se vai em frente”.

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“Tudo está a caminho, mas percorrendo a via correta, a estrada da Revelação. Não podemos caminhar por outra estrada. Penso que, embora não tenha respondido a todos os aspetos que havia na pergunta da madre, funcionalmente esta é a resposta. É verdade: não nos ajudarão apenas as definições dogmáticas, os aspetos históricos, não só. Mas não podemos ir além da Revelação”, continuou o Santo Padre.

“Compreendestes isto? Somos católicos. Se alguém quiser fazer outra Igreja é livre”, enfatizou.

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