Poucos dias antes do início do Sínodo da Amazônia no Vaticano, um simpósio de estudantes do Papa Emérito Bento XVI publicou uma declaração expressando preocupação com a possibilidade de admitir sacerdotes casados.

No comunicado, publicado em 28 de setembro, os estudantes de Bento XVI indicaram que “a vocação e a existência do sacerdote são determinadas unicamente pela vontade de Cristo Jesus e não derivam de considerações humanas ou determinações eclesiais. Nele e com Ele, o sacerdote se torna 'proclamador da Palavra e servidor da alegria'”.

"Posto que o sacerdote existe de Cristo, também a participação na forma de vida de Jesus 'se adequa' àqueles que agem em Sua pessoa", acrescentaram.

"O celibato é, portanto, de acordo com a tradição permanente da Igreja Latina, um sinal eloquente da esperança fiel e do amor magnânimo a Cristo e a Sua Igreja".

O comunicado foi divulgado pelo Círculo e Novo círculo de discípulos de Joseph Ratzinger / Papa Bento XVI no simpósio realizado em Roma, com o tema “Desafios atuais do sacerdócio ordenado na Igreja”.

Os "Estudantes de Ratzinger" ou "Círculo de estudantes" se reúnem para discutir temas teológicos na vida da Igreja desde 1978, quando seu professor se retirou do campo acadêmico para se tornar bispo. Suas reuniões anuais continuaram com seu ex-professor, mesmo depois que foi nomeado Papa Bento XVI, em 2005. O "Novo Círculo" é composto por doutores ou doutorandos que estudam a teologia e a vida do Papa Emérito Bento XVI.

O tema do encontro deste ano surgiu de um assunto que será discutido no próximo Sínodo da Amazônia, sobre a possibilidade de admitir homens já casados, "viri probati", para serem ordenados sacerdotes na região amazônica. Assim, alguns propõem, ajudaria a aliviar a escassez de sacerdotes na região.

“Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”, indica um fragmento do documento de trabalho, Instrumentum laboris, do Sínodo da Amazônia.

O Sínodo da Amazônia acontecerá no Vaticano de 6 a 27 de outubro. O Papa Francisco disse em agosto deste ano que o tema da ordenação de sacerdotes casados ​​não seria um dos principais temas de discussão.

Alguns líderes da Igreja, entre eles o Cardeal Walter Brandmüller e o Cardeal Raymond Burke, expressaram preocupações sobre a possibilidade de permitir sacerdotes casados ​​e que essa prática eventualmente se estenda.

O comunicado sobre o celibato sacerdotal realizado pelos estudantes de Bento XVI marca a primeira ocasião em que os estudantes do Papa Emérito se expressam publicamente como um grupo em "muitos anos", disseram, mas se sentiram chamados a dar o "pensamento teológico do Papa Emérito a um público mais amplo”.

Os estudantes indicaram que os sacerdotes não têm um papel meramente funcional na Igreja, mas são chamados a ser uma "representação" da pessoa de Jesus Cristo, tanto na celebração dos sacramentos quanto na vida pessoal de santidade e devoção.

Permanecer solteiros e celibatários como um testemunho do Reino de Deus é "expressão humana e espiritual da configuração sacramental do sacerdote com Cristo", disseram.

Além disso, acrescentaram que os casos atuais de abusos sexuais em nível mundial na Igreja reduziram a credibilidade do sacerdote como uma pessoa em união com Cristo. Mas que "não são as reformas das estruturas que em primeiro lugar curam e ajudam, mas um testemunho de fé vivida com autenticidade".

"Somente quando nossos olhares em conjunto se voltarem para Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, a Igreja será renovada", assinalaram.

Dr. Christoph Ohly disse ao simpósio que era um “dom” para os sacerdotes ser capazes de conformar suas vidas com Cristo dessa forma.

"O dom da transformação em Cristo se converte em sua tarefa, seu estilo de vida, suas atitudes e condutas humanas, em sua vida espiritual e também nas tarefas que lhe são confiadas", disse.

Em seus comentários ao simpósio, Dra. Marianne Schlosser também assinalou que o sacerdote não é um papel funcional, mas uma vocação ao "seguimento pessoal de Cristo, o bom Pastor".

Uma vida celibatária parece continuar como parte dessa vocação, acrescentou, devido à “forma de vida de Jesus que, pelos homens, entregou sua vida até a morte”.

“O celibato é um testemunho eloquente da esperança que acredita na vida eterna. Renunciar ao matrimônio e a uma família própria deve fazer crescer tanto um amor magnânimo pela família de Cristo como uma união pessoal com o Senhor”, acrescentou.

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