Fiéis brasileiros terão a oportunidade de venerar relíquias da Vera Cruz, um pedaço do madeiro onde Jesus foi pregado, e da Coroa de Espinhos, o instrumento de tortura que cobriu a cabeça de Nosso Senhor durante a Paixão, na Paróquia Assunção de Nossa Senhora, em São Paulo, no próximo dia 3 de maio, data que marca a Festa da Descoberta da Cruz.

Neste dia, antes da Missa, presidida por Padre Juarez de Castro, haverá a apresentação de um fragmento da Vera Cruz e da Coroa de Espinhos, relíquias descobertas por Santa Helena há 1692 anos e que foram levadas para Roma. Também haverá uma relíquia de primeira classe da imperatriz, mãe de Constantino.

Estas relíquias pertencem ao Oratório São Luís, que é privado, sob a custódia de Fábio Tucci Farah, cavaleiro guardião de relíquias da International Crusade for Holy Relics (ICHR), membro do Apostolado pelas Sagradas Relíquias e diretor geral do Departamento de Arqueologia Sacra da Academia Brasileira de Hagiologia.

Entretanto, conforme explicou Fábio à ACI Digital, “apesar de o oratório ser privado, as relíquias não servem apenas para a minha veneração ou de minha família. Seria uma maneira – não simbólica – de confinar os santos ao cárcere, pois, embora já estejam no Reino dos Céus, também estão presentes em suas relíquias”.

“Em meu Apostolado, as relíquias são peregrinas. Elas devem estar presentes no meio do povo de Deus, como testemunhas extraordinárias do Reino. Elas apontam para algo além deste mundo. Em um sentido poético, a missão de um guardião de relíquias é ajudar as pessoas a espiar o Paraíso”, acrescentou.

A relíquia da Vera Cruz foi encontrada por Santa Helena, mãe do imperador Constantino, quando peregrinou à Terra Santa, já com quase 80 anos de idade. Segundo a tradição, foi nesta peregrinação que a santa “teria descoberto a verdadeira cruz. Bem como a coroa de espinhos, os cravos, o Título – a placa que Pilatos teria mandado colocar acima da cabeça de Cristo, com os dizeres ‘Jesus Nazareno, Rei dos Judeus’, em latim, grego e hebraico – e a cruz de São Dimas, o Bom Ladrão”.

Em artigo intitulado ‘A descoberta da Santa Cruz de Cristo’, Fábio Tucci Farah e Carlos Evaristo, arqueólogo, historiador e representante do Gabinete dos Patronos dos Museus do Vaticano para países lusófonos, assinalam que “nas imagens hagiográficas, a imperatriz-mãe segura a cruz, a coroa de espinhos e os cravos. Não uma cruz pequena e simbólica. A cruz em que Cristo foi crucificado. A Santa Cruz. A Vera Cruz!”.

Além disso, recordam as palavras proferidas por Santo Ambrósio no funeral do imperador Teodósio, que “nos oferece um vislumbre da mãe de Constantino na antiga Jerusalém”: “O Espírito Santo a inspirou a procurar a madeira da Cruz. Ela aproximou-se do Gólgota e disse: ‘Eis o lugar do combate: onde está a Tua vitória? Eu procuro a insígnia da salvação e não a encontro. Devo eu estar entre reis, e a cruz do Senhor entre o pó? Devo eu estar coberta por ouro, e o triunfo de Cristo por ruínas?’”.

Os especialistas continuam, explicando que, “na Terra Santa, Helena havia visto – e chancelado – as provas físicas da presença de Deus entre os homens. Não um Deus distante. Um Deus que Se sacrificara em uma cruz de madeira para salvar a humanidade. Cabia a ela, como discípula do Senhor, espalhar a Boa Nova. Helena teria ordenado a divisão da Vera Cruz”.

Assim, “uma parte significativa permaneceria em Jerusalém, custodiada na Basílica do Santo Sepulcro, onde seria adorada por multidões de peregrinos”, outra porção foi enviada “para a capital do Império Romano do Oriente, Bizâncio, onde o filho Constantino havia construído uma residência”, e uma terceira parte “seguiria para o oratório de seu palácio, em Roma, futuramente transformado em basílica”.

Passados tantos anos, atualmente Fábio Tucci Farah lamenta que “a palavra ‘relíquia’ se tornou sinônimo de algo anacrônico, antiquado. E o sinônimo passou a qualificar as verdadeiras relíquias”.

“Nos últimos séculos, muitas passaram de santuários católicos para museus. Quando as relíquias são expostas em museus, acabam reduzidas às dimensões histórica e artística”, pontua, ressaltando, porém, que “as relíquias continuam sendo um importante sacramental da Igreja”.

Nesse sentido, Farah indica que “as relíquias têm o poder de materializar a presença dos santos. No decorrer dos últimos milênios, incontáveis milagres foram registrados na presença de relíquias”.

“Algumas relíquias insignes atraíram milhões de peregrinos”, conta ao recordar que pôde testemunhar momentos como este quando relíquias de São Tiago Maior foram apresentadas durante a abertura do Caminho Brasileiro de Santiago de Compostela, assim como em 4 de outubro do ano passado, ao apresentar relíquias de São Francisco de Assis e Santa Clara na Paróquia Assunção de Nossa Senhora.

Agora, no próximo dia 3 de maio, esta mesma paróquia acolherá as relíquias da Vera Cruz e da Coroa de Espinhos, a fim de que “os fiéis testemunhem, ao lado de Santa Helena, um dos episódios mais importantes da história de nossa Igreja”, a Descoberta da Cruz.

Além disso, Farah antecipa à ACI Digital que “para essas relíquias, em particular, há um plano especial. Elas serão doadas à Irmandade da Santa Cruz, confraria de fiéis em processo de criação por mim e por Carlos Evaristo, um dos mais renomados especialistas em relíquias do mundo”.

“Um de seus objetivos será a difusão do culto à Santa Cruz no Brasil”, explica, ressaltando que “muitos se esquecem de que nosso País, batizado inicialmente de Terra da Santa Cruz, foi consagrado à insígnia de nossa Salvação”.

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