Juan Felipe Medina, membro do Conselho Coordenador do Movimento Cristão Libertação (MCL), advertiu que as negociações iniciadas entre a União Europeia (UE) e Cuba estão realizando-se de costas aos interesses do povo cubano, pois o regime sempre põe como condição não falar dos direitos humanos nem da oposição interna.

“Nos últimos anos, todas as vezes que a União Europeia estabeleceu uma espécie de diálogo com o Governo cubano, este lhe colocou como premissa que não se pode falar de direitos humanos e da dissidência interna, e que não pode ter contato com os opositores. É a agenda atual da UE. Esta última iniciativa não convém aos cubanos, estão sendo feitas negociações de costas ao povo cubano. Sempre sobressaem os interesses entre os governos”, expressou em declarações publicadas na segunda-feira pelo jornal espanhol ABC.

Medina, que esteve na Espanha para participar de um encontro de líderes opositores cubanos, assinalou que depois do duro golpe que foi a morte de Oswaldo Payá, o MCL “se recuperou e continua crescendo” com os projetos promovidos por seu fundador, como são “El camino del pueblo” e o “Projeto Heredia”.

O primeiro é “uma proposta que pede direitos para os cubanos, da liberdade de expressão à necessidade de eleições democráticas. Sem direitos não há mudança”. O segundo é “o projeto de lei do reencontro nacional, que significa que os cubanos do exílio, não importa quando saíram do país, são tão cubanos quanto os que estamos dentro”.

Nesse sentido, advertiu que as reformas feitas pelo Governo cubano são apenas medidas “cosméticas” que fazem parte das “mudanças-fraude”, pois não permitem aos cubanos ter acesso aos direitos. “O Projeto Heredia defende a mobilidade interna, que cada um tenha direito a estabelecer-se onde queira na ilha, a liberdade econômica... É abrangente, garante direitos, não é uma medida cosmética para regular momentaneamente uma situação... isso é enganar o povo”.

Durante a entrevista, Medina expressou que o MCL se sentiu defraudado pela decisão do Poder Judicial espanhol de rechaçar o pedido de investigar as mortes de Oswaldo Payá e Harold Cepero. “A nível de governo (Espanha) não nos respaldou. Nosso pedido foi rechaçado pelo Poder Judicial. Sentimo-nos defraudados. Mais ainda no meu caso, pois minhas raízes são espanholas, meu pai era espanhol e tenho as duas nacionalidades”, indicou.

Além disso, recordou que durante a reunião com os outros opositores cubanos em Madri, propôs-lhes que a investigação destas mortes fizesse parte dos esboços para qualquer negociação de organismos internacionais com Cuba. Entretanto, “não foi aceito pelos outros dissidentes”.

Do mesmo modo, advertiu que “nos últimos anos aumentou a repressão contra todos os grupos da oposição. Reprimiram fortemente os membros do nosso movimento, uma prova disso é a morte de Oswaldo Payá”.

“Tentamos por todos os meios a libertação de Yosvany Melchor, um homem com problema psíquico preso em Havana desde junho 2010, condenado a doze anos por ‘entrada ilegal e tráfico de pessoas’ depois de voltar dos Estados Unidos. Não pertence ao MCL, mas a sua mãe sim, Rosa Rodríguez, que está sendo permanentemente assediada. É uma represália. O Governo lhe advertiu que continuará preso enquanto ela pertença ao nosso movimento”, denunciou.


Finalmente, diante da pergunta de se a recente reunião entre grupos opositores em Madri foi um passo adiante ou ainda fica caminho por percorrer para conseguir a unidade frente ao castrismo, Medina assinalou que “daqui não se muda Cuba. Para fazê-lo é necessário implementar projetos muito concretos de mudança, entre eles a formação de um movimento cívico capaz de mover o poder, de mudar o sistema, que seja o povo o que tenha o protagonismo de dizer que tipo de governo quer”.