Há alguns dias, o Papa Francisco recebeu um dos presentes mais tristes de seu Pontificado e, no sábado, 28, teve a oportunidade de contar sua história ante dezenas de crianças que o visitaram no Vaticano.

É uma das ocasiões nas quais o Papa Francisco se mostra tal como ele é e expressa suas alegrias e preocupações. Mais um ano, o “Trem das crianças” chegou até a estação do Vaticano com dezenas delas, que manifestaram ao Pontífice seus problemas e perguntaram sobre alguns dramas de nossos dias, como o da imigração ou dos refugiados.

São crianças da Associação João XXIII e da Orquestra infantil “Quattrocanti” da cidade italiana de Palermo, na qual cantam crianças de diferentes países e etnias, assim como uma escola de Vibo Marina, que levou a Francisco o dinheiro obtido de uma coleta para crianças refugiadas na ilha grega de Lesbos.

“Nós, crianças, prometemos que acolheremos qualquer pessoa que chegue à nossa cidade; não consideraremos nunca ninguém que tiver uma cor de pele diferente, que fala uma língua distinta ou professe outra religião, como um inimigo perigoso”, disseram as crianças em uma carta que entregaram ao Papa e foi lida pelo Cardeal Gianfranco Ravasi.

“Bom dia Papa”, quero te pedir que “reze pela minha família, que está no céu”, e “pelos meus amigos”, também por aqueles que “já estão no céu”, que “morreram na água”, disse Sayende, menino da Nigéria ao apresentar-se ao Pontífice.

Outro menino se aproximou de Francisco para lhe entregar um desenho feito por ele mesmo no qual estão representados o sol, o mar e as ondas que estão em movimento. Ondas que, “podem matar as pessoas”, explicou-lhe.

 

Nesse momento, Francisco mostrou às crianças um colete salva-vidas que durante a última Audiência Geral da quarta-feira lhe foi entregue por um grupo de socorristas voluntários que salvam a vida dos imigrantes nas águas de Lesbos.

“Trouxeram este colete salva-vidas para mim e chorando um pouco me disseram: ‘Padre, não conseguimos. Havia uma menina, nas ondas, mas não conseguimos salvá-la. Somente restou o colete’. Este colete é dessa menina. Não quero que se entristeçam, mas vocês são corajosos e conhecem a verdade. Estão correndo perigo: muitos meninos, meninas, homens e mulheres estão em perigo”.

“Pensemos nesta menina… qual era o seu nome? Não sei: uma menina sem nome. Cada um de vocês pode dar-lhe um nome que quiser, em seu coração. Ela está no céu, ela nos observa”, disse Francisco emocionado.

Ao falar sobre aqueles que não deixam os imigrantes entrar em um país, as crianças afirmaram que “é uma injustiça”. Um menino inclusive afirmou que estas pessoas são “bestas” e o Papa, brincando, lhe disse: “Mas você estudou com Heidegger!”. Convidou o menino a aproximar-se dele e expressou: “Você não quis insultar, não fez nenhum insulto. Disse que uma pessoa que fecha o coração não tem um coração humano, porque não deixa passar, tem um coração de animal, digamos, como uma besta, que não entende”.

Francisco falou então de “fraternidade, paz, compaixão, bem, igualdade, acolhida” e respondeu a pergunta de uma menina sobre o que significa para ele ser Papa: Fazer “o bem que eu posso fazer”. “Mas sinto que Jesus me chamou para isto. Jesus quis que eu fosse cristão, um cristão deve fazer isto. E Jesus também quis que eu fosse sacerdote, o bispo é um sacerdote e um bispo deve fazer isto. Eu sinto que Jesus me diz que faça isto: isto é o que sinto”.

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