Ao receber nesta manhã à delegação da comunidade judaica de Roma, o Papa Francisco assegurou que nenhum cristão pode ser antissemita e exclamou: "Que o antissemitismo seja banido do coração de todo homem e de toda mulher!".

Depois de saudar todos com afeto, de modo particular ao Rabino Chefe de Roma, doutor Riccardo Di Segni, a quem agradeceu as palavras que lhe dirigiu previamente, o Santo Padre disse: "como bispo de Roma, sinto particularmente próxima a vida da comunidade judaica da cidade: sei que essa, com outros dois mil anos de ininterrupta presença, pode orgulhar-se por ser a mais antiga da Europa ocidental.".

"Por muitos séculos, portanto, a Comunidade judaica e a Igreja de Roma convivem nesta nossa cidade, com uma história – nós o sabemos bem – que muitas vezes foi perpassada por incompreensões e também por autênticas injustiças. É uma história, porém, que com a ajuda de Deus, conheceu por muitas décadas o desenvolvimento de relações amigáveis e fraternas.", destacou.

O Papa Francisco recordou que "para esta mudança de mentalidade certamente contribuiu, por parte católica, a reflexão do Concílio Vaticano II, mas uma contribuição não menor veio da vida e da ação, de ambas as partes, de homens sábios e generosos, capazes de reconhecer o chamado do Senhor e de caminhar com coragem em novos caminhos de encontro e de diálogo".

"Paradoxalmente, a comum tragédia da guerra nos ensinou a caminhar juntos. Recordaremos em poucos dias o 70º aniversário da deportação dos judeus de Roma. Faremos memória e rezaremos por tantas vítimas inocentes das barbáries humanas, pelas suas famílias. Será também a ocasião para manter sempre vigilante a nossa atenção a fim de que não retomem a vida, sob nenhum pretexto, formas de intolerância e de antissemitismo, em Roma e no resto do mundo".

"Já disse outras vezes e gosto de repeti-lo agora: é uma contradição que um cristão seja antissemita. Um pouco de suas raízes são judaicas. Um cristão não pode ser antissemita! O antissemitismo seja banido do coração e da vida de cada homem e de cada mulher!", sublinhou.

O Santo Padre disse que este aniversário também nos permitirá recordar que na hora das trevas a comunidade cristã desta cidade soube estender a mão ao irmão em dificuldade, dado que numerosos institutos religiosos, mosteiros e as mesmas basílicas papais, interpretando a vontade do Papa, abriram suas portas para uma fraterna acolhida, enquanto tantos cristãos comuns ofereceram a ajuda que podiam dar.

E se despediu com estas palavras: "espero contribuir aqui em Roma, como Bispo, para esta proximidade e amizade, assim como tive a graça – porque foi uma graça – de fazer com a comunidade judaica de Buenos Aires. Entre as muitas coisas que podemos ter em comum, está o testemunho da verdade das dez palavras, do Decálogo, como sólido fundamento e fonte de vida também para a nossa sociedade, tão desorientada por um pluralismo extremo de escolhas e de orientações e marcada por um relativismo que leva a não ter mais pontos de referência sólidos e seguros".

"Queridos amigos, agradeço-vos pela vossa visita e invoco convosco a proteção e a benção do Altíssimo para este nosso comum caminho de amizade e de confiança. Ele Possa, em sua benevolência, conceder aos nossos dias a sua paz. Obrigado.", adicionou.

Mensagem pelos 70 anos da deportação dos judeus de Roma

O Papa também entregou uma mensagem com motivo da comemoração do 70° aniversário da deportação dos judeus de Roma na qual, dirigindo-se ao rabino chefe desta cidade, junto aos estimados membros da comunidade, manifesta seu desejo de unir-se espiritualmente e na oração a esta comemoração.

"Enquanto voltamos com a memória àquelas trágicas horas de outubro de 1943, é nosso dever –escreve o Santo Padre– ter presente diante dos nossos olhos o destino daqueles deportados, perceber seu temor, sua dor, seu desespero, para não esquecê-los, para mantê-los vivos, em nossa lembrança e em nossa oração, junto a suas famílias, a seus parentes e amigos, que choraram sua perda e ficaram consternados frente à barbárie a que pode chegar o ser humano".

E acrescenta que fazer memória de um evento não significa simplesmente ter uma lembrança; significa também e, sobretudo, nos esforçar para compreender qual é a mensagem que isso representa para nosso hoje, de modo que a memória do passado possa ensinar a do presente e chegar a ser luz que ilumina o caminho do futuro.