O Papa Francisco recebeu nesta quinta-feira, 28, cerca de 45 membros do Comitê Nacional da Bioética na Sala do Consistório, diante dos quais denunciou o uso de embriões como “material descartável” e assinalou que as aplicações biotecnológicas não podem ser usadas contra a dignidade humana nem obedecendo “unicamente os objetivos industriais e comerciais”.

Em seu discurso, o Santo Padre assinalou: “Todos sabem que a Igreja é sensível aos temas éticos, mas talvez nem todos saibam que a Igreja não reivindica nenhum espaço privilegiado neste campo, aliás, fica satisfeita quando a consciência civil é capaz de refletir, discernir e trabalhar com base na racionalidade livre e aberta e nos valores constitutivos da pessoa e da sociedade. Esta maturidade civil responsável é o sinal de que a semeadura do Evangelho, revelada e confiada à Igreja, deu fruto, conseguindo promover a busca da verdade, do bem e do belo nas complexas questões humanas e éticas”.

Segundo Francisco, “trata-se de servir o ser humano, todos os homens e mulheres, com atenção particular aos vulneráveis e desfavorecidos. Neste campo, as comunidades eclesial e civil se encontram e são chamadas a colaborar, segundo suas distintas e respectivas competências”.

Nesse sentido, mencionou o trabalho realizado por este Comitê em favor do respeito à integridade do ser humano desde a sua concepção até a morte natural, valorizando a pessoa sempre como um fim e não como um meio. “Este princípio ético é também fundamental por quanto concerne as aplicações biotecnológicas no campo médico, as quais nunca devem ser utilizadas de uma maneira que menospreze a dignidade humana, nem obedeça somente aos objetivos industriais e comerciais”, indicou.

Desta forma, o Pontífice recordou que “a bioética nasceu para confrontar, com esforço crítico, as razões e condições da dignidade da pessoa humana com os avanços das ciências e tecnologias biológicas e médicas que, em seu ritmo acelerado, correm o risco de perder toda referência que não seja o da utilidade e lucro”.

Vocês – indicou –, “são conscientes de que tal pesquisa sobre os problemas complexos de bioética não é fácil e nem sempre alcança rapidamente uma conclusão harmoniosa. O testemunho da verdade contribui para o amadurecimento da consciência civil”.

Em seguida, o Santo Padre encorajou o trabalho da comissão em alguns âmbitos, como no campo da análise interdisciplinar das causas de degradação ambiental. “Neste âmbito, é oportuno um confronto entre as teorias biocêntricas e antropocêntricas com a busca de percursos que reconhecem a centralidade correta do homem no respeito dos outros seres vivos e de todo o ambiente a fim de ajudar a definir as condições irrenunciáveis para a proteção das gerações futuras”.

O segundo âmbito, explicou, é o da deficiência e a marginalização das pessoas vulneráveis, em uma sociedade inclinada à competição e aceleração do progresso. Francisco convidou a “combater a cultura do descarte que tem várias expressões, dentre as quais o tratar os embriões humanos como material descartável e também as pessoas doentes e idosas, que se aproximam da morte”, expressou.

Antes de finalizar, o Pontífice disse que o terceiro âmbito é o “maior esforço rumo a um confronto internacional em vista da harmonização dos padrões e regras das atividades biológicas e médicas, regras que saibam reconhecer os valores e os direitos fundamentais” a nível internacional.

“Agradeço ao Comitê por todo o seu esforço de identificar estratégias de sensibilização da opinião pública, a partir da escola, nas questões de bioética, como a compreensão dos progressos da biotecnologia”, concluiu o Papa Francisco.

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