Na manhã desta quarta-feira, 6, o Papa Francisco aceitou a renúncia do Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo di Cillo Pagotto, S.S.S., segundo o estabelecido no Cânon 401, 2 que afirma que “o Bispo diocesano que por doença ou por outra causa grave se tiver tornado menos capacitado para cumprir seu ofício é vivamente solicitado a apresentar a renúncia do ofício”. Em uma carta aberta, Dom Aldo fala dos motivos de sua renúncia. O Papa nomeou como Administrador Apostólico o Bispo emérito de Palmares, Dom Genival Saraiva de França.

 “Em espírito de oração, discernimento e obediência, apresentei ao Santo Padre, o Papa Francisco, o meu pedido de renúncia ao governo pastoral da Arquidiocese da Paraíba. Cito sumariamente alguns fatores que me obrigam a tal atitude”, expressa o Arcebispo na missiva.

Dom Aldo declara que durante os 12 anos que esteve à frente do governo pastoral da Arquidiocese, tentou “desenvolver a missão evangelizadora e pastoral que o Senhor me confiou junto ao Clero, aos cristãos fiéis, às autoridades constitucionais e às lideranças institucionais, seguindo o lema: ‘Há um só Corpo e um só Espírito’”.

“Tentei doar o melhor de mim mesmo – assinala –, não obstante as sérias limitações de saúde, ademais das repercussões no equilíbrio emocional, causadas pela constante necessidade de superar conflitos inevitáveis, advindos de reações ao meu modo de ser e de agir”.

A Arcebispo disse ter tomado medidas “enérgicas e inadiáveis” para a reorganização da administração, das finanças e recuperação do patrimônio da Arquidiocese. Entretanto, afirma que, mesmo tendo obtido êxito, desagradou diversas pessoas.

“Acolhi padres e seminaristas, no intuito de lhes oferecer novas chances na vida. Entre outros, alguns egressos, posteriormente suspeitos de cometer graves defecções, contrárias à idoneidade exigida no sagrado ministério. Cometi erros por confiar demais, numa ingênua misericórdia”, admite.

Dom Aldo é suspeito de acolher na Arquidiocese da Paraíba padres e seminaristas acusados de abusos sexuais de menores e expulsos por outros Bispos. Este fato lhe rendeu as acusações que geraram uma investigação por parte da Santa Sé. Por conta disso, o Prelado estava proibido de ordenar sacerdotes e diáconos, bem como receber novos seminaristas.

Conhecido por suas posturas contrárias à agenda da esquerda no Brasil, o Prelado assinala ainda que tomou “posições assertivas diante de políticas públicas estruturais em vista do desenvolvimento integral de nossa gente e de nossa terra”.

“Evitei ‘ficar em cima de muro’. Foi inevitável acolher reações e interpretações diferentes, independente de minha reta intenção de não me imiscuir na esfera político-partidária, e jamais almejar algum poder de ordem temporal”.

Em diferentes ocasiões, Dom Aldo se posicionou claramente contra a agenda da implementação do aborto no Brasil liderada pelos partidos de esquerda, ficando conhecido por uma firme postura em defesa da vida e do matrimônio. Um dos casos foi justamente nas eleições de 2010, quando gravou um vídeo no qual denunciou as manobras do PT para promover o aborto no país.

Na carta, o Prelado continua dizendo que “não tardaram retaliações internas e externas, ademais da instauração de um clima de desestabilização urdida por grupos de pressão, incluindo os que se denominaram ‘padres anônimos’, escudados no sigilo da fonte de informações, obtendo ampla cobertura num jornal”.

“A exemplo, um blog divulgou carta difamatória, envolvendo o arcebispo e vários sacerdotes, arbitrariamente expostos ao escárnio público. As redes sociais encarregaram-se de espalhar comentários peregrinos e duvidosos. A presumida autora da carta responde em foro criminal”, conta.

Paralelo às acusações sobre acolhida de padres e seminaristas que cometeram pedofilia, Dom Aldo enfrenta também a acusação de ter se relacionado com um jovem de 18 anos. A denúncia surgiu por meio de uma carta assinada por Mariana José Araújo Silva, que se apresentava como paroquiana da paróquia de São Rafael. A mulher afirmava que o Arcebispo teve uma relação afetiva e sexual com um jovem de 18 anos. Segundo ela, o rapaz estaria internado em uma clínica, por distúrbios mentais.

 “Por tanto tumulto, -continua a carta de Dom Aldo- embora eu esteja sofrendo muito, permito-me afirmar que conservo a minha consciência em paz”. O prelado ressalta que sempre estará “disposto a corrigir rumos, a reorientar passos, a confirmar êxitos alcançados, contando com a graça de Deus e também com a efetiva presença de bons padres, religiosos presbíteros e de bons leigos e leigas, qualificados como forças vivas de nossa amada Igreja Particular da Paraíba”.

“Creio que o melhor, pelo momento, para a Igreja Universal e para a Igreja Particular da Paraíba, seja a minha renúncia”, afirmou.

Dom Aldo Pagotto conclui a carta com um “pedido sincero de perdão às pessoas a quem eu tenha feito sofrer, voluntária ou involuntariamente. Cometi erros, acertei passos, estou disposto a caminhar com quem queira caminhar, construindo dias melhores para todos, superando o apego a cargos, títulos, privilégios”.

“Peço perdão a Deus e perdoo os que me fizeram sofrer muito”, completa, ressaltando que “não há nada de oculto que um dia não venha a ser revelado e proclamado pelos tetos. Nem devemos temer quem mata o corpo, mas não o espírito (Lc 12, 1-4)”.

Com a renúncia de Dom Aldo, o Administrador Apostólico da Arquidiocese da Paraíba será Dom Genival Saraiva de França, Bispo emérito de Palmares.

Confira a carta de Dom Aldo Pagotto na íntegra no site da Arquidiocese da Paraíba.