Pe. Martín Lasarte, sacerdote salesiano e especialista nomeado diretamente pelo Papa Francisco para participar do Sínodo da Amazônia, de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, assegurou que ordenar homens casados ​​como sacerdotes "não resolve o verdadeiro problema de fundo".

Em entrevista concedida a ‘Europa Press’, o sacerdote que trabalha como colaborador do Dicastério Salesiano Central das Missões em Angola (África), disse que ordenar os chamados viri probati, idosos casados ​​de comprovada virtude, é uma solução “ilusória, quase mágica, e não resolve o verdadeiro problema de fundo".

“Escutei como argumento que a ordenação de sacerdotes entre os leigos de comunidades distantes é necessária, porque o ministro dificilmente pode chegar. Ao meu modo de ver, a imposição do problema nesses termos, peca de um enorme clericalismo. Onde não está o padre ou a madre, não há vida eclesial”, afirmou o sacerdote uruguaio.

Em sua opinião, considerar que onde não há sacerdote, a Igreja não funciona é “uma aberração eclesiológica e pastoral. Nossa fé, sendo cristã, está enraizada no Batismo, não na ordenação sacerdotal”.

O sacerdote questionou então por que existem tantas vocações na África, Índia ou países comunistas como o Vietnã. "A Amazônia tem elementos culturais muito semelhantes aos nossos, como o sentido comunitário, a comunhão com a natureza, o sentido da transcendência, mas a falta de vocações se deve ao fato de ter havido impostações pastorais que foram bastante pobres", afirmou o presbítero a ‘Europa Press’.

Depois de comentar que atualmente os salesianos têm 18 vocações indígenas, o especialista afirmou que 92% da população mora nas cidades. "Às vezes, pens-se bucolicamente nos rios e nas florestas, mas a verdade é que a maioria dos jovens indígenas migra" e nas cidades é preciso "acompanhá-los e formá-los".

O sacerdote também incentivou o diaconato e a importância de promover a liderança das mulheres na Amazônia, bem como "pensar em um ritual litúrgico indo-americano".

De 6 a 27 de outubro, será realizado em Roma o Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazônica, convocado pelo Papa Francisco para “identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus”.

Em outubro de 2017, o Santo Padre explicou que “o objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta”.

O Papa assinalou que decidiu convocar o sínodo, acolhendo o desejo de algumas conferências episcopais na América Latina, assim como as vozes de vários pastores e fiéis de outras partes do mundo.

Em 17 de junho deste ano, o Vaticano publicou o Instrumentum laboris ou documento de trabalho do Sínodo. O texto é composto por 147 pontos divididos em 21 capítulos separados por três partes, que abordam os seguintes temas: “A voz da Amazônia”, entendida como escuta deste território; a "Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres"; e a igreja "com rosto amazônico e missionário".

O Instrumentum laboris confirma que "o celibato é uma dádiva para a Igreja". No entanto, o texto também recomenda, entre outras coisas, a possibilidade da ordenação sacerdotal de idosos casados ​​em áreas remotas.

No ponto 129, explica que, nas áreas mais remotas da região, perguntam sobre “a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”.

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