O Papa Francisco celebrou ontem o matrimônio de 20 casais da diocese de Roma, na Basílica de São Pedro. Em sua homilia, o Santo Padre assegurou que “o matrimônio é símbolo da vida, da vida real, não é uma ‘novela’”.

Recordando que a Primeira Leitura de ontem “nos fala do caminho do povo no deserto”, no qual havia principalmente “famílias: pais, mães, filhos, avós; homens e mulheres de todas as idades, muitas crianças, com idosos que sentiam dificuldade em caminhar”, o Santo Padre indicou que “este povo lembra a Igreja em caminho no deserto do mundo atual; lembra o Povo de Deus que é composto, na sua maioria, por famílias”.

“Isto faz pensar nas famílias, nas nossas famílias, em caminho pelas estradas da vida, na história de cada dia”.

Francisco assinalou que “é incalculável a força, a carga de humanidade presente numa família: a ajuda mútua, o acompanhamento educativo, as relações que crescem com o crescimento das pessoas, a partilha das alegrias e das dificuldades… As famílias constituem o primeiro lugar onde nos formamos como pessoas e, ao mesmo tempo, são os ‘tijolos’ para a construção da sociedade”.

“A certa altura, ‘o povo não suportou o caminho‘”, recordou o Papa, assinalando que “então se queixaram e protestaram contra Deus e contra Moisés: ‘Porque nos fizestes sair do Egito’”.

Esta, disse, “é a tentação de voltar para trás, de abandonar o caminho”.

“Isto faz-nos pensar nos casais que ‘não suportam o caminho’, o caminho da vida conjugal e familiar. A fadiga do caminho torna-se um cansaço interior; perdem o gosto do Matrimônio, deixam de ir buscar água à fonte do Sacramento. A vida diária torna-se pesada e, muitas vezes, ‘nauseante’”.

O Santo Padre assinalou que “naquele momento de extravio – diz a Bíblia – chegam as serpentes venenosas que mordem as pessoas; e muitas morrem. Este fato provoca o arrependimento do povo, que pede perdão a Moisés, suplicando-lhe que reze ao Senhor para afastar as serpentes. Moisés pede ao Senhor, que lhe dá o remédio: uma serpente de bronze, pendurada num poste. Quem olhar para ela, fica curado do veneno mortal das serpentes”.

“Que significa este símbolo? Deus não elimina as serpentes, mas oferece um ‘antídoto’: através daquela serpente de bronze, feita por Moisés, Deus transmite a sua força que cura – uma foça que cura –, ou seja, a sua misericórdia, mais forte que o veneno do tentador”.

Francisco recordou que “como ouvimos no Evangelho, Jesus identificou-Se com este símbolo: na verdade, por amor, o Pai ‘entregou’ Jesus, o seu Filho Unigênito, aos homens para que tenham a vida”.

“Quem se entrega a Jesus crucificado recebe a misericórdia de Deus, que cura do veneno mortal do pecado”.

O Papa disse que “o remédio que Deus oferece ao povo vale também e de modo particular para os casais que ‘não suportam o caminho’ e acabam mordidos pelas tentações do desânimo, da infidelidade, do retrocesso, do abandono”.

“Também a eles Deus Pai entrega o seu Filho Jesus, não para os condenar, mas para os salvar: se se entregarem a Jesus, Ele os cura com o amor misericordioso que jorra da sua Cruz, com a força duma graça que regenera e põe de novo a caminhar pela estrada da vida conjugal e familiar”.

“O amor de Jesus, que abençoou e consagrou a união dos esposos, é capaz de manter o seu amor e de o renovar quando humanamente se perde, rompe, esgota”.

Francisco destacou que “o amor de Cristo pode restituir aos esposos a alegria de caminharem juntos. Pois o matrimônio é isto mesmo: o caminho conjunto de um homem e de uma mulher, no qual o homem tem o dever de ajudar a esposa a ser mais mulher, e a mulher tem o dever de ajudar o marido a ser mais homem”.

“Este é o dever que tendes entre vós”, indicou o Papa. “É a reciprocidade das diferenças. Não é um caminho suave, sem conflitos, não! Não seria humano. É uma viagem laboriosa, por vezes difícil, chegando mesmo a ser conflituosa, mas isto é a vida!”.

“No meio desta teologia que a Palavra de Deus nos oferece sobre o povo em caminho, mas também sobre as famílias em caminho, sobre os esposos em caminho, um pequeno conselho. É normal que os esposos briguem: é normal! Acontece sempre. Mas dou-vos um conselho: nunca deixeis terminar o dia sem fazer as pazes”.

O Santo Padre assinalou que ante as brigas, para procurar a paz no matrimônio, “é suficiente um pequeno gesto. E assim continua-se a caminhar. O matrimônio é símbolo da vida, da vida real, não é uma ‘novela’! É sacramento do amor de Cristo e da Igreja, um amor que tem na Cruz a sua confirmação e garantia”.

“Desejo, a todos vós, um caminho lindo, um caminho fecundo. Que o amor cresça! Desejo-vos a felicidade. Existirão as cruzes… Existirão, mas o Senhor sempre estará lá para nos ajudar a seguir em frente. Que o Senhor vos abençoe!”, concluiu.