Milhares de famílias vítimas do Boko Haram na Nigéria enfrentam uma crise humanitária marcada pela falta de alimentos, carência de educação, mas, sobretudo, uma crise espiritual, com pessoas fortemente traumatizadas.

Foi o que denunciou o Bispo da Diocese de Maiduguri, Dom Oliver Doeme, durante uma recente visita da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ANC) ao país.

Em declaração à ACN, Dom Oliver explicou que a maioria das pessoas assassinadas pelos terroristas do Boko Haram são homens. Por isso, pontuou, existem mais de 5 mil viúvas e 15 mil órfãos aos quais sua Diocese preste apoio.

Muitas dessas famílias passaram por experiências traumáticas nos últimos tempos e, por isso, levam algumas feridas em seus corações.

Uma das viúvas, Esther, contou à Fundação ACN como viu o seu marido ser assassinado. Segundo ele, “as milícias do Boko Haram chegaram” à sua casa “de manhã, muito cedo”. “Começaram a roubar tudo e logo ordenaram ao meu marido que se convertesse ao Islã e, porque ele recusou, cortaram-lhe a cabeça diante dos meus olhos”.

São diversas as histórias semelhantes. Rose, por exemplo, relatou que “dispararam na cara” de seu marido também por se recusar a se converter ao Islã.

Já Agnes, mãe de nove filhos, sofre por não ter tido sequer a oportunidade de enterrar seu esposo. “O meu marido trabalhava nas obras e estava fora de casa quando os guerrilheiros do Boko Haram cercaram todos os que lá estavam presentes e mataram-nos a tiro”.

“Os terroristas não permitem que os cadáveres sejam recolhidos e, por isso, não foi possível enterrá-lo e não foi celebrado o seu funeral. Deixaram que o corpo apodrecesse ali mesmo”, lembra emocionada.

Para apoiar essas famílias, Dom Oliver criou a Associação das Viúvas de Santa Judit. A Fundação ACN, por sua vez, aprovou uma ajuda de emergência de 70 mil euros (cerca de 83 mil dólares). Parte desses recursos será destinada a sessões de cura de traumas.

Conforme explica a Fundação Pontifícia, “as vítimas também recebem formação para aprender a cuidar das suas necessidades básicas, sobretudo agora que se encontram sozinhas”, uma vez que não contam mais com os salários de seus maridos, como antes.

Muitas viúvas possuem em média seis filhos e não querem voltar para casa, por causa das tristes lembranças e da ligação emocional com os maridos assassinados.

Assim, parte do projeto é voltada para as taxas escolas e alimentação tanto para os órfãos de ambos os pais como para os que perderam apenas o pai. “Serão sobretudo as crianças que vivem na parte oriental da Diocese que se beneficiarão mais destas ajudas, pois elas são as mais afetadas e as mais pobres”, esclarece o Prelado.

A Diocese de Maiduguri está situada no nordeste da Nigéria, uma região que deu origem ao grupo Boko Haram, grupo terrorista cujo nome significa “a educação ocidental é pecado” e que já jurou lealdade ao Estado Islâmico.

Os estados de Borno, Yobe e Maiduguri estão no centro da atuação do grupo Boko Haram. A Diocese de Maiduguri abarca cerca de 80% deste território e, por isso, é também a zona mais afetada pelas atrocidades dos terroristas.

Desde 2009, foram destruídos nesse território mais de 200 igrejas e capelas, casas paroquiais, 25 escolas, 3 hospitais, 3 conventos e inúmeras lojas, casas particulares e escritórios.

De acordo com dados recolhidos pela Fundação ANC na sua recente visita às áreas afetadas, o Boko Haram assassinou mais de 20 mil pessoas; 26 milhões de pessoas sofrem de forma direta com este conflito; 2,3 milhões de crianças e jovens se viram privados de acesso à educação.

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