O Patriarca Ibrahim Isaac, Patriarca dos coptos católicos e presidente da Assembleia dos Patriarcas e Bispos católicos no Egito, disse nesta sexta-feira 16 de agosto "que o Senhor proteja o Egito de todo mal e o proteja de todo dano" ante os enfrentamentos destes dias que deixaram mais de 630 mortos e ao redor de 4 mil feridos. Destas vítimas um setor considerável são cidadãos cristãos que foram atacados pela autodenominada "Irmandade Muçulmana".

Um vídeo difundido na internet feito por um homem da varanda do seu edifício, mostra a Irmandade Muçulmana em uma avenida da cidade de Alexandria nos dia 15 de agosto parando todos os automóveis para ver a identidade dos motoristas.

O vídeo mostra que atacam a um taxista assim que descobrem que é cristão por que tinha uma cruz pendurada no espelho. Tiram-no do automóvel e entre 100 extremistas o torturam e logo o esfaqueiam até matá-lo. Nesse episódio os radicais mataram 5 pessoas em total e deixaram mais de 50 feridos. Atos como estes ocorrem em todo o país.

Em uma mensagem aos cristãos do Egito hoje, o Patriarca Ibrahim Isaac disse "isto que está acontecendo em nosso país nestes dias é muito triste e doloroso para todos os que amam o Egito".

"Confiamos na onipotência e no amor de Deus que possa difundir a paz em nosso amado Egito e faça voltar o espírito de concórdia e reconciliação de novo entre os filhos da pátria".

O Patriarca disse também que espera que os filhos do Egito "superem este momento difícil. Além disso, dirijo minhas mais sinceras condolências a cada um dos pais e familiares das vítimas destes dolorosos eventos. Pedimos a cura do Senhor para todos os feridos. Que o Senhor proteja o Egito de todo mal e o proteja de todo dano".

Para hoje, 16 de agosto, a Irmandade Muçulmana convocou a todos para uma "sexta-feira de raiva" em protesto pela repressão do governo. Segundo diversas fontes, os confrontos de hoje deixaram o saldo de aproximadamente 100 mortos.

O que é a Irmandade Muçulmana?

A autodenominada Irmandade Muçulmana se descreve oficialmente como um grupo não violento, comprometido com a democracia. Entretanto alguns analistas consideram que suas conexões com o mundo árabe põem em dúvida esta posição por seu rol histórico, claramente estabelecido, como fonte de inspiração para praticamente todos os movimentos políticos radicais islâmicos que existem.

Além disso, o grupo considera que o Islã é "o único ponto de referência no Egito".

Para Issam Bishara, Vice-presidente das Missões Pontifícias no Egito, "os cristãos coptos, assim como os armênios, os ortodoxos gregos, os latinos, os maronitas e os melquitas grego católicos, temem que o Egito tenha um destino similar ao dos cristãos no Iraque" onde a Al Qaeda os assinalou como "alvos ali onde se encontrem".

Em abril de 2011, Nina Shea, uma defensora dos direitos humanos à cabeça do Hudson Institute's Center for Religious Freedom em Washington, D.C. (Estados Unidos) pediu que o Ocidente olhe com muita precaução para a Irmandade Muçulmana.

Em caso de que a Irmandade chegue ao poder, disse, os cristãos poderiam terminar vivendo como "dhimmis", uma categoria islâmica que faz que os não muçulmanos quase não tenham amparo legal.

Se isso acontecer, explicou a perita, o governo não precisa nem perseguir os cristãos. Bastaria para os seus fins ignorar ou permitir de maneira tácita a violência religiosa e a repressão por outros segmentos da sociedade.

Quase dois terços dos cristãos no Oriente Médio vivem agora no Egito. Por isso, disse Shea, a assunção ao poder da Irmandade Muçulmana poderia ter consequências trágicas para os cristãos em toda a região.

"Poderíamos assistir praticamente o fim da presença nativa dos cristãos no Oriente Médio, mais rápido do que se pensa".