O sonho de crianças, adolescentes e jovens moradores de uma favela do Rio de Janeiro de tocar para o Papa Francisco na Cidade Maravilhosa em 2013 não pôde ser concretizado, mas, quase quatro anos depois eles poderão torná-lo realidade no próximo sábado, no Vaticano.

A Orquestra Maré do Amanhã, um projeto social fundado em 2010 na favela da Maré, uma das mais violentas do Rio de Janeiro, iria tocar para o Papa Francisco aos pés do Cristo Redentor, em julho de 2013, no marco da Jornada Mundial da Juventude. Entretanto, uma forte chuva impediu que a apresentação acontecesse.

“Ficamos muito tristes, porque preparamos uma música para ele”, recordou à ‘AFP’ a violoncelista Débora Santos, de 18 anos.

Passados quase quatro anos, a Orquestra leva 26 jovens brasileiros entre 14 e 19 anos para, finalmente, realizar o sonho de tocar para o Papa. A ocasião será no sábado, 3 de junho, na chegada do “Trem das crianças”, uma iniciativa promovida pelo ‘Pátio dos Gentios’ do Pontifício Conselho para a Cultura em colaboração com a Ferrovia italiana a fim de presentear as crianças desfavorecidas um dia especial.

“É muito gratificante saber que todo nosso esforço está sendo recompensado. É maravilhoso. Chorei muito. Fiquei muito feliz. Finalmente, depois de quatro anos...”, expressou Débora.

Entre o público, estarão 400 crianças e jovens de regiões do centro da Itália afetadas por terremotos recentemente.

No repertório estarão clássicos da música erudita e tradicional brasileira, além de dois tangos, de Astor Piazzolla e Carlos Gardel, para recordar a terra do Papa argentino.

Além disso, darão de presente ao Santo Padre um violino branco assinado pelos jovens músicos. Ao Brasil, pretendem trazer outro instrumento com uma mensagem do Pontífice.

Antes de seguir viagem para a Europa, a Orquestra participou de uma Missa de Envio no Santuário do Cristo Redentor na segunda-feira, 29 de maio, presidida pelo reitor, Padre Omar Raposo.

Ao se dirigir aos jovens músicos, o sacerdote afirmou: “Vocês são chamados a ser exemplo e a dar o testemunho de Deus, com o dom da arte, que é capaz de nos levar a lugares inimagináveis”.

Uma resposta à violência

O projeto Orquestra Maré do Amanhã atende cerca de 2200 crianças, entre 4 e 18 anos, na favela da Maré, estando presente também em todas as escolas da comunidade, e “utiliza a música como ferramenta de transformação social e, consequentemente, profissional”, como explicam em seu site.

O conjunto de favelas da Maré tem cerca de 140 mil habitantes que enfrentam uma realidade de grande violência. Segundo a ONG Redes da Maré, de janeiro a abril deste ano, ocorreram 18 mortes violentas.

A violência, aliás, foi o que levou a este à criação da orquestra. Em 1999, o célebre maestro Armando Prazeres foi assassinado e seu carro, sujo de sangue, foi encontrado pela polícia na Maré. Após anos de depressão, o filho do músico, Carlos Eduardo, decidiu desenvolver um projeto para mudar a vida dos jovens.

O objetivo está sendo alcançado, ao ponto de jovens músicos do projeto sonharem em seguir carreira na música e tocarem em grandes orquestras do mundo.

“O que mais me dói é ver esses meninos prosperando, mas com o sonho de sair da Maré, porque é um lugar onde não está dando para viver. É muito triste não ter o sentimento de pertencimento. É isso que eu queria tentar mudar, que as pessoas entendessem que a paz é possível”, declarou Carlos Eduardo à AFP.

Antes de partir para o encontro com o Papa Francisco no Vaticano, o projeto Orquestra Maré do Amanhã gravou um vídeo nas escolas onde atua com crianças desejando “Bom dia” ao Santo Padre e pedindo “abençoe a gente”. O vídeo também expressa o desejo de que o Pontífice “abençoe todo o povo da Maré” e pede pela paz.

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