Conhecido pelos seus trabalhos sobre a Teologia Marxista da Libertação, o autor Leonardo Boff, que em ocasiões definiu-se como “ecoteólogo de matriz católica”, escreveu na quarta-feira, 16, no Jornal do Brasil, uma coluna dedicada a prestar solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que acaba de tomar posse como ministro apesar dos protestos contra sua nomeação que ocorrem em Brasília e outras cidades do Brasil e a grande marcha deste 13 de Março que levou mais de 3 milhões de brasileiros às ruas pedindo a saída da presidente Dilma. Junto à sua missiva está uma outra carta aberta em italiano de apoio a Lula assinada por intelectuais da esquerda de diversos países e pelo Partito della Rifondazione Comunista, o partido comunista italiano.

“Lula, quer gostemos ou não, se tornou um ícone de um político que pensou nos pobres do mundo, primeiro do Brasil e depois da África. No interior da macroeconomia capitalista imposta ao mundo todo, conseguiu cavar espaços ou abrir cunhas que permitissem a inclusão de toda uma Argentina na cidadania, tirando-os daquilo que Gandhi chamava de ‘a forma mais aviltante e assassina que existe que é a fome’. E ainda inaugurou políticas sociais que resgataram a dignidade dos ofendidos e humilhados”, escreve Leonardo Boff.

“Esse dado de puro humanitarismo granjeou-lhe o reconecimento (sic) internacional. Esta lista de notáveis do mundo inteiro reconhece esse fato e ao mesmo mostra a estreanheza (sic) e até a indignação de grupos que vem da velha ordem, filhos da Casa Grande e seus aliados, que não visam a discutir politicamente projetos, ideias e visões generosas do mundo, mas destruir a liderança de Lula e destrui-lo como pessoa no intento de voltar ao poder central que nunca se importou com a sorte de milhões de cidadãos relegados à marginalidade, à pobreza e à morte prematura”, prossegue.

A carta de Boff chega em um momento de intensa turbulência em Brasília, dado que além das manifestações contra o Partido dos Trabalhadores e a nomeação de Lula como Ministro-Chefe da Casa Civil, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, autorizou a divulgação de grampos telefônicos com conversas do ex-presidente com outras figuras da política, incluindo a Presidente da República, Dilma Rousseff, sob a interpretação de que tais comunicações poderiam ser tentativas do ex-presidente de livrar-se das investigações da operação Lava-Jato. Alegando que Lula não tinha foro privilegiado na ocasião e poderia ser investigado como cidadão comum, o juiz federal liberou o conteúdo das conversas horas antes de que o Diário Oficial da União anunciasse Lula como ministro.

As gravações rapidamente chegaram à imprensa, complicando a situação já difícil da presidente da República, que poderia ser alvo de um processo de Impeachment, o qual já teve seu rito determinado pelo STF e poderia começar a tramitar em breve na Câmara dos Deputados.

Segundo Boff, grupos e indivíduos contrários à nomeação de Lula, “são inimigos da vida, da justiça sicietária (sic) e do povo. Mas – prossegue – a história não tolera para sempre uma sociedade montade (sic) sobre a insensibilidade, a falta de humanidade e de coração. Ela possui, como pensavam os filósofos gregos, o seu “logos” interno, o sentido sagrado das coisas que mais cedo ou mais tarde acabará por impor-se e condenar à irrisão os seus negadores”.

“É o que esperamos e estamos seguros de que história não nos defraudará. Lula pertence a esse lado luminoso da realidade, reconhecido pelos notáveis do mundo e que subscrevem (sic) esta carta de apoio”, conclui Boff, um dos mais notáveis nomes da Teologia da Libertação, que já foi condenada pelos Papas João Paulo II e Bento XVI, e que o Papa Francisco jamais apoiou.

Quem afirma o rechaço do Papa à teologia de Boff é seu irmão Clodovis, hoje crítico desta proposta, em um artigo publicado pelo reconhecido vaticanista Sandro Magister. Segundo Magister, Clodovis Boff sustenta a tese de que o acontecimento que significou “o adeus da Igreja Católica latino-americana ao que restava da teologia da libertação” foi a Conferência Continental de Aparecida, no ano de 2007, inaugurada por Bento XVI e que teve como protagonista, o então cardeal Bergoglio.

A carta em italiano assinada por mais de uma dezena de pensadores da esquerda internacional e com o apoio do Partito della Rifondazione Comunista italiano, afirma que o ex-presidente sofre um “massacre contra sua reputação”, e uma “caça” por parte das autoridades da Polícia Federal que levaram adiante uma condução coercitiva do agora ministro para prestar depoimento em São Paulo. Segundo a carta, juristas brasileiros de fama internacional e um ministro do STF, consideraram o fato uma violação da Constituição.

Considerando Lula como uma referência histórica e um legado digno de pertencer “ao patrimônio inestimável’ da humanidade, a carta aberta, publicada também no dia 16 de março pelo JB, pede que as autoridades brasileiras ponham fim à perseguição ao presidente, sua família e colaboradores, e acabe com a violação de direitos que sofre o ex-mandatário.

A seguir, a carta completa em seu idioma original com seus respectivos signatários:

Lettera aperta in solidarietà a Luiz Inácio Lula da Silva

Noi firmatari manifestiamo la nosta piena solidarietà all’ex presidente del Brasile Luiz Inácio Lula da Silva, che è sottoposto ad un vero massacro contro la reputazione sua e della sua famiglia; i sui diritti sono calpestati da parte di settori del Sistema Giudizario brasiliano.

Questa caccia è culminata, venerdì 4 marzo 2016, nell’arresto politico e mediatico, con accomagnamento coatto per deporre, di una persona che mai si sottrasse nel rispondere alla Giustizia e la quale non era stata previamente convocata né intimata.

L’arbitrio è sttao addiritura criticato da un coponente della Suprema Corte Brasiliana, il Ministro Marco Aurélio Mello, da giuristi brasiliani di fama internazionale, come Fábio Konder Comparato e Celso Bandeira de Melo, da José Gregori, dall’ex ministro della Gistizia del Governo Fernando Henrique Cardoso e da Giudici membri della Associazione di Giudici per la Democrazia del Brasile, che in Nota Ufficiale hanno affermato:

“Non si combatte la corruzione corrompendo la Costituzione”.

Tutta l’operazione ha beneficiato dell’accompagnamento privilegiato da parte dei mass media conservatori, informati con antecedenza della tempistica della cattura del principale leader popolare brasiliano.

Uno dei più diffuso quotidiani del paese, ‘Folha de São Paulo’, ha esplicitamente informato di essere giunta all’edificio in cui risiede l’ex presidente alle ore 5,15 del mattino di venerdì.

La Polizia Federale è giunta sul luogo alle h. 5,40.

Luiz Inácio Lula da Silva è uno dei più significativi leader mondiali, e durante la sua amministrazione ha contribuito a porre una pietra miliare contro la fame e la miseria; da esse, durante i suoi due mandati conseutivi, 40 milioni di brasiliani sono stati liberati.

Mais em

I programmi sociali che hanno consentito questo risultato sono stati citati a esempio dall’ Onu e dalla Fao e adottati in diversi paesi.

L’accerchiamento attorno all’ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva si integra in un movimento più generale osservabile in questo momento in tutta l’America Latina.

Il lungo procrastinarsi della crisi mondiale ha inasprito la disputa per il profitto in economie colpite duramente dalla contrazione del commercio estero.

Il leader brasiliano disturba in quanto simbolo di una agenda oggi contestata dalle élites mondiale come non funzionale agli interessi dei mercati: lo sviluppo, associato alla universalizzazione dei diritti sociali e alla democratizzazione dei processi decisionali di Stato.

Referenze storiche come Lula sono un patrimonio inestimabile dell’umanità.

Chiediamo alle autorità brasiliane un impegno maggiore per fare cessare la persecuzione che colpisce al momento l’ex presidente inieme alla sua famiglia e ai suoi collaboratori e per porre fine alle violazioni dei diritti, che lo colpiscono.

Seguono le firme:

Alba Carosio (Universidade Central da Venezuela)

Angel Quintero Rivera (Universidad de Puerto Rico)

Aníbal Quijano (Sociólogo, Peru)

Arturo Escobar (Universidade da Carolina do Norte, EUA)

Atilio Borón (sociólogo argentino)

Baltazar Garzón (Juiz aposentado, Espanha)

Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra, Portugal)

Carmen Beramendi (Diretora da FLACSO, Uruguai)

Daniel Filmus (Ex-ministro da Educação, Argentina)

Domênico Losurdo (Filósofo italiano)

Eduardo A. Rueda (Professor da Pontificia Universidad Javeriana, Colômbia)

Eduardo Rinesi (Ex-reitor da Universidade de General Sarmiento, Argentina)

Fernanda Saforcada (Diretora Académica do Clacso, Argentina)

Fernando Mayorga (Universidad Mayor de San Simón, Bolivia)

Florencia Saintout, (Universidade Nacional de La Plata, Argentina)

Gabriela Diker (Reitora da Universidad de General Sarmiento, Argentina)

Gerardo Caetano (Universidad de la República, Uruguai)

Horacio A. López. (Subdiretor Centro Cultural de la Cooperación, Argentina)

Ignacio Ramonet (Jornalista, França)

Jorge Beinstein (Economista, Argentina)

Juan Carlos Monedero (Universidade Complutense, Espanha)

Julian Rebon (Membro do Comitê Diretivo do Clacso, Argentina)

Leonardo Padura (Escritor Cubano)

Leticia Salomón (Universidad Nacional Autónoma de Honduras)

Luciano Concheiro (Universidad Autónoma de México)

Mario Burkun (Economista, Argentina)

Nicolás Trotta (Reitor da UMET, Argentina)

Pablo Gentili (CLACSO, Argentina)

Pablo González Casanova (Universidad Nacional Autónoma do México)

Partito della Rifondazione Comunista (Partido italiano)

Raúl Zaffaroni (Ex-juiz da Suprema Corte de Justiça, Argentina)

Rita Segato (Intelectual feminista, Argentina)

Suzy Castor (CRESFET, Haiti)