Em Coletiva de Imprensa da 56ª Assembleia Geral da entidade, na tarde do dia 19 de abril, o Arcebispo primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, vice-presidente da Conferência Episcopal, leu a “Mensagem da conferência ao povo de Deus” na qual, entre outras necessidades, destaca-se a de promover o diálogo respeitoso para estimular a comunhão na fé em tempo de politização e polarizações nas redes sociais e reafirmou que os bispos não são a favor de nenhum tipo de ideologia nem partido político, o que suscitou críticas de alguns usuários em canais da CNBB.

Dom Murilo, leu a mensagem onde se afirma de maneira enfática que “a CNBB não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político. As ideologias levam a dois erros nocivos: por um lado, transformar o cristianismo numa espécie de ONG, sem levar em conta a graça e a união interior com Cristo; por outro, viver entregue ao intimismo, suspeitando do compromisso social dos outros e considerando-o superficial e mundano (cf. Gaudete et Exsultate, n. 100-101)”.

Entretanto, apenas horas depois de publicadas, críticas à mensagem começaram a chegar nas redes sociais da própria CNBB por parte de usuários insatisfeitos com o seu conteúdo, afirmando que o texto dos bispos não responde às exigências de explicações feitas por leigos à entidade. Entre as críticas estão a de instrumentalização de pastorais por grupos de inspiração marxista, o que teria sido evidenciado no 14º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base em Londrina (PR) e pela falta de transparência no uso de dinheiro do Fundo Nacional de Solidariedade, que foi em parte destinado à ABONG, uma entidade que reúne ONGs também alinhadas com a esquerda.

“CNBB, queremos as respostas às denúncias do Bernardo Kuster! Queremos portal da transparência da CNBB, e quanto aos esclarecimentos do vem ocorrendo isso queremos rápido, não depois que "a poeira baixar"! Isso não cairá no esquecimento!”, disse a usuária Simone Maria em um comentário no Facebook da Conferência.  Ainda no Facebook, o usuário Edson Faria criticou: “Nenhuma das acusações foi respondida. São gravíssimas as denúncias, a CNBB não pode se esquivar(...).

O leigo e influenciador digital Bernardo Pires Kuster, cujos vídeos denunciando o intereclesial das CEBs e criticando outros fatos envolvendo a CNBB já alcançou mais de 20 milhões de visualizações, gravou uma rápida live postada na sua página do Facebook onde concorda com os usuários descontentes com a mensagem dizendo que em breve gravará um vídeo explicando sua posição crítica ao texto, um dos últimos da Assembleia deste ano que teve como tema a Formação dos Presbíteros, mas também abordou outras temáticas, entre elas as recentes críticas à Conferência.

Separadamente, em um comunicado específico sobre o tema do Fundo Nacional de Solidariedade, a CNBB lançou um esclarecimento sobre o caso do repasse de dinheiro do Fundo à ABONG, associação que abriga diversas ONGs, algumas contrárias à doutrina católica, garantindo aos católicos “que a ajuda dada não se destinou a apoiar projetos movidos por ideais divergentes dos valores da fé cristã católica, como por exemplo o aborto” e que os responsáveis se comprometem “a analisar mais atentamente os projetos que forem apresentados, bem como a prestar maior atenção aos objetivos das entidades proponentes”. O Regulamento do FNS está sendo revisto e aprimorado para ser apresentado ao Conselho Permanente da CNBB.

Outro tema que suscitou críticas ao episcopado brasileiro sugerindo um vínculo entre a entidade e a esquerda foi a presença do bispo emérito de Blumenau (SC), Dom Angélico Sândalo Bernardino, em uma liturgia da palavra sobre um carro de som coberto por bandeiras de movimentos de esquerda e de uma ONG feminista pró-aborto, e que terminou em um ato político repleto de representantes de partidos da esquerda e políticos abertamente contrários às propostas defendidas pela Igreja, como o fim do aborto no dia da prisão do ex-presidente Lula.

Diante desta crítica em específico, a posição da CNBB é expressa no comunicado ao afirmar: “A Conferência Episcopal, como instituição colegiada, não pode ser responsabilizada por palavras ou ações isoladas que não estejam em sintonia com a fé da Igreja, sua liturgia e doutrina social, mesmo quando realizadas por eclesiásticos”.

Segundo o comunicado, “em sua missão evangelizadora, a CNBB vem servindo à sociedade brasileira, pautando sua atuação pelo Evangelho e pelo Magistério, particularmente pela Doutrina Social da Igreja”.

“A fé age pela caridade” (Gl 5,6); por isso, a Igreja, a partir de Jesus Cristo, que revela o mistério do homem, promove o humanismo integral e solidário em defesa da vida, desde a concepção até o fim natural. Igualmente, a opção preferencial pelos pobres é uma marca distintiva da história desta Conferência”, acrescenta o texto dos bispos.

Confira abaixo o comunicado na íntegra:

Mensagem da Conferência Nacional Dos Bispos do Brasil ao Povo de Deus

O que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo (1Jo 1,3)

Em comunhão com o Papa Francisco, nós, Bispos membros da CNBB, reunidos na 56ª Assembleia Geral, em Aparecida – SP, agradecemos a Deus pelos 65 anos da CNBB, dom de Deus para a Igreja e para a sociedade brasileira. Convidamos os membros de nossas comunidades e todas as pessoas de boa vontade a se associarem à reflexão que fazemos sobre nossa missão e assumirem conosco o compromisso de percorrer este caminho de comunhão e serviço.

Vivemos um tempo de politização e polarizações que geram polêmicas pelas redes sociais e atingem a CNBB. Queremos promover o diálogo respeitoso, que estimule e faça crescer a nossa comunhão na fé, pois, só permanecendo unidos em Cristo podemos experimentar a alegria de ser discípulos missionários.

A Igreja fundada por Cristo é mistério de comunhão: “povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (São Cipriano). Como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (cf. Ef 5,25), assim devemos amá-la e por ela nos doar. Por isso, não é possível compreender a Igreja simplesmente a partir de categorias sociológicas, políticas e ideológicas, pois ela é, na história, o povo de Deus, o corpo de Cristo, e o templo do Espírito Santo.

Nós, Bispos da Igreja Católica, sucessores dos Apóstolos, estamos unidos entre nós por uma fraternidade sacramental e em comunhão com o sucessor de Pedro; isso nos constitui um colégio a serviço da Igreja (cf. Christus Dominus, 3). O nosso afeto colegial se concretiza também nas Conferências Episcopais, expressão da catolicidade e unidade da Igreja. O Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium, 23, atribui o surgimento das Conferências à Divina Providência e, no decreto Christus Dominus, 37, determina que sejam estabelecidas em todos os países em que está presente a Igreja.

Em sua missão evangelizadora, a CNBB vem servindo à sociedade brasileira, pautando sua atuação pelo Evangelho e pelo Magistério, particularmente pela Doutrina Social da Igreja. “A fé age pela caridade” (Gl 5,6); por isso, a Igreja, a partir de Jesus Cristo, que revela o mistério do homem, promove o humanismo integral e solidário em defesa da vida, desde a concepção até o fim natural. Igualmente, a opção preferencial pelos pobres é uma marca distintiva da história desta Conferência. O Papa Bento XVI afirmou que “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com a sua pobreza”. É a partir de Jesus Cristo que a Igreja se dedica aos pobres e marginalizados, pois neles ela toca a própria carne sofredora de Cristo, como exorta o Papa Francisco.

A CNBB não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político. As ideologias levam a dois erros nocivos: por um lado, transformar o cristianismo numa espécie de ONG, sem levar em conta a graça e a união interior com Cristo; por outro, viver entregue ao intimismo, suspeitando do compromisso social dos outros e considerando-o superficial e mundano (cf. Gaudete et Exsultate, n. 100-101).

Ao assumir posicionamentos pastorais em questões sociais, econômicas e políticas, a CNBB o faz por exigência do Evangelho. A Igreja reivindica sempre a liberdade, a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76). Isso nos compromete profeticamente. Não podemos nos calar quando a vida é ameaçada, os direitos desrespeitados, a justiça corrompida e a violência instaurada. Se, por este motivo, formos perseguidos, nos configuraremos a Jesus Cristo, vivendo a bem-aventurança da perseguição (Mt 5,11).

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A Conferência Episcopal, como instituição colegiada, não pode ser responsabilizada por palavras ou ações isoladas que não estejam em sintonia com a fé da Igreja, sua liturgia e doutrina social, mesmo quando realizadas por eclesiásticos.

Neste Ano Nacional do Laicato, conclamamos todos os fiéis a viverem a integralidade da fé, na comunhão eclesial, construindo uma sociedade impregnada dos valores do Reino de Deus. Para isso, a liberdade de expressão e o diálogo responsável são indispensáveis. Devem, porém, ser pautados pela verdade, fortaleza, prudência, reverência e amor “para com aqueles que, em razão do seu cargo, representam a pessoa de Cristo” (LG 37). “Para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor” (Papa Francisco, Mensagem para o 52º dia Mundial das Comunicações de 2018).

Deste Santuário de Nossa Senhora Aparecida, invocamos, por sua materna intercessão, abundantes bênçãos divinas sobre todos.

Aparecida-SP, 19 de abril de 2018.

Cardeal Sergio da Rocha

Arcebispo de Brasília – DF

Presidente da CNBB

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ

Arcebispo São Salvador da Bahia

Vice-Presidente da CNBB

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