Após a divulgação de sua renúncia como Arcebispo de Passo Fundo (RS), Dom Antonio Carlos Altieri falou sobre os motivos que o levaram a esta decisão – questões administrativas. Em entrevista ao jornal Zero Hora, o agora Arcebispo emérito considerou que houve uma “incompatibilidade teológica, pastoral, metodológica” com o clero e citou assuntos econômicos que também geraram divergências.

Na quarta-feira, 15, o Papa Francisco aceitou a renúncia de Dom Altieri com base no cânon 401 § 2 do Código de Direito Canônico, que determina que o Bispo renuncie em caso de enfermidade ou “outra causa grave ficasse diminuída sua capacidade para desempenhá-lo”.

Ao jornal gaúcho, o Prelado explicou como foi todo o processo. Segundo ele, alguns membros do clero apelaram ao Núncio Apostólico, ou “talvez diretamente ao Vaticano”. Com isso, recebeu a visita apostólica do Cardeal Cláudio Hummes, que entrevistou alguns padres. “O núncio então me chamou para mostrar que um grande número do clero, a maior parte, estava descontente. Diante disso, eu disse: não vou dar murro em ponta de faca”, declarou.

Salesiano, natural de São Paulo, Dom Altieri afirmou que o fato de ele ter sido o primeiro Bispo não gaúcho gerou dificuldades principalmente com o clero, pois, conforme ressaltou, foi bem acolhido pelo povo. Além disso, avaliou as diferenças de mentalidades e o ritmo de atendimento das demandas como outros fatores que possam ter contribuído para as divergências. “Talvez eu tenha sido um pouquinho acelerado”, considerou.

O religioso abordou ainda questões econômicas que teriam gerado críticas ao seu governo, tais como a reforma da casa episcopal. Ele garantiu ter tomado as decisões com o conselho econômico da Arquidiocese e contou que também foram reformados o centro pastoral, o seminário e a casa de retiros. “Aqui acho que tudo somado não deu R$ 1,5 milhão”, disse Dom Altieri, ressaltando não ser uma grande quantia se comparado a outras Dioceses.

Outras duas situações relacionadas ao caso foram a compra de seis veículos pelo Bispo e a determinação de que as Paróquias deveriam repassar 10% de sua arrecadação para a Arquidiocese. Sobre o primeiro, o salesiano disse ao jornal gaúcho que adquiriu um carro para si e uma van para os seminaristas. “Tínhamos uma frota bem envelhecida e faltavam alguns veículos”, justificou.

A respeito da porcentagem que as Paróquias começaram a repassar à Arquidiocese, considerou ser algo secundário e afirmou que, na maioria das dioceses brasileiras, as Paróquias entregam 10% para a Mitra.

“Quando se põe a mão no bolso, você descobre onde está o coração. A acomodação de muitos anos, fazendo a coisa de modo caseiro, e com alguns interesses escusos, faz que quando ponha tudo às claras muita gente não goste. Você precisa ter transparência, prestação de contas”, declarou. Ele ainda garantiu que “a Diocese não está quebrada, como dizem”.

Em termos pastorais, o prelado também estaria sendo criticado por sua ausência. Quanto a isso, indicou que estas são “circunstâncias de cunho pessoal”. Segundo ele, por não concordarem com sua linha propositiva, alguns se distanciaram e não o comunicavam sobre compromissos ou convites. Dom Altieri negou também ter aplicado represálias a membros do clero ou agentes de pastoral que discordavam dele.

Com a renúncia, o Arcebispo emérito disse ao jornal que sai de cabeça erguida. Agora, ele se coloca à disposição de sua congregação, os salesianos. “Meus superiores já sugeriram que eu volte à Universidade Salesiana de Roma e de lá veja o melhor. Volto agora para lá, onde trabalhei, e vamos ver com calma onde serei mais útil”, concluiu.