O Prefeito da Signatura Apostólica, Cardeal Raymond Burke, denunciou que o Sínodo extraordinário sobre a Família, que se realizará em outubro no Vaticano, sofreu uma tentativa de sequestro por algumas mídias seculares que estão alimentando expectativas de mudanças “impossíveis” na doutrina da Igreja.

Em recentes declarações ao Grupo ACI, o Cardeal Raymond Burke assinalou que “não acredito que seja necessário ser brilhante para ver que os meios de comunicação, por meses, estiveram tentando sequestrar este Sínodo”.

A Signatura Apostólica, dirigida pelo Cardeal Burke, encarrega-se, entre outras coisas, de dirigir os casos de nulidade matrimonial na Igreja.

O Cardeal Burke assinalou que, de forma particular, os meios de comunicação estiveram apresentando o Papa Francisco como se ele fosse a favor de permitir que a Comunhão seja entregue aos divorciados em nova união, e outras propostas semelhantes, embora na verdade não seja assim.

O perigo, continuou o Cardeal, é que “os meios de comunicação criaram uma situação na qual as pessoas esperam que vá haver estas mudanças maiores, que de fato, constituiriam uma mudança no ensinamento da Igreja, o que é impossível”.

O Sínodo extraordinário sobre a Família, que se realizará de 5 a 19 de outubro deste ano, converteu-se no centro do debate sobre se a Igreja Católica deve modificar as suas práticas pastorais para permitir que os divorciados em nova união possam receber a Comunhão, em casos nos quais não se obteve uma nulidade.

O ensinamento da Igreja neste tema, disse o Cardeal Burke, é a misericórdia, “porque respeita a verdade de que a pessoa está de fato vinculada por uma união prévia que, por qualquer que seja a razão, já não está vivendo”.

“A Igreja mantém a pessoa na verdade desse matrimônio”, continuou, “ao mesmo tempo, sendo compassiva, entendendo a situação da pessoa, acolhendo-a dentro da comunidade paroquial nas formas que são apropriadas, e tentando ajudá-la a levar uma vida o mais santa que possam, mas sem trair a verdade do seu matrimônio”.

Isso, disse, “é misericórdia”.

O Cardeal Burke destacou que “simplesmente, não tem sentido falar sobre uma misericórdia que não respeita a verdade. Como que isso pode ser misericordioso?”.

O Cardeal indicou que na Signatura Apostólica “tentamos, tanto como podemos, ajudar as pessoas a que entendam que é um erro grave viver com alguém como se estivessem casados, quando de fato não está livre para casar”.

Para quem pede a nulidade do seu matrimônio, o cardeal disse que “a Igreja tem que ter um processo correto para chegar à verdade desse pedido”.

“O processo de nulidade matrimonial é o fruto de séculos de desenvolvimento, por parte de vários peritos canonistas, sendo um dos grandes o Papa Bento XVI”, disse o Cardeal, assinalando que “para nós agora, dizer simplesmente que não necessitamos mais disso é o cúmulo do orgulho e, portanto da necedade”.

Em vistas ao Sínodo de outubro, o Cardeal Burke expressou a sua esperança de que se “estabelecerá a beleza do ensinamento da Igreja sobre o matrimônio, em todos seus aspectos, como uma união entre um homem e uma mulher, fiel, indissolúvel por toda a vida e procriadora”.

Sobre este último ponto, ressaltou, “a constituição pastoral da Igreja no mundo moderno disse que as crianças são a coroa do amor conjugal”.

Considerando todas as coisas, o Cardeal Burke assinalou que o Sínodo sobre a Família pode ser algo bom “desde que se baseie na doutrina e disciplina da Igreja com respeito ao matrimônio. Mas não pode ser simplesmente um tipo de enfoque sentimental ou pessoal que não respeite a realidade objetiva do matrimônio”.

“Na medida em que se baseie solidamente sobre o ensinamento da Igreja e sua disciplina, acredito que será muito positivo”, assegurou.