A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) publicou hoje a íntegra da carta que dirigiu ao jornal El País desmentindo um artigo que inventou o apoio do Vaticano ao diálogo entre o Governo e ETA, e difundiu supostas contradições entre os bispos nacionais.

O jornal El País publicou no domingo passado na primeira página, "uma suposta notícia cuja manchete era: ‘O Vaticano apoiou o processo de paz após a mediação do bispo Uriarte. O prelado atua como interlocutor entre Roma e as partes implicadas’. A informação era desenvolvida amplamente nas páginas 18 e 20 sob epígrafes como estes: ‘O Papa apoiou o processo de paz’, ‘Um rumo distante do de Rouco e Setién’".

Conforme revelou a CEE, a carta foi enviada por seu Departamento de Informação ao El País no próprio domingo, mas foi publicada apenas na quarta-feira sem o último parágrafo original.

Segundo a carta, a informação de El País "transmite a idéia de que há posturas, supostamente contraditórias, entre os membros da Conferência Episcopal sobre o cessar fogo permanente do ETA. Uma das declarações chaves que utilizadas para argumentá-lo é inexistente".

Do mesmo modo, esclarece que "o Secretário Geral, Pe. Martínez Camino, nunca disse que o ‘ETA deva ser excluído de todo processo de diálogo’. O que realmente declarou em diversas ocasiões, refletindo a doutrina oficial da Conferência Episcopal Espanhola, é que os terroristas ‘não podem ser considerados interlocutores políticos de um Estado legítimo’. Por outro lado, quando se deu a conhecer a notícia do cessar fogo permanente, o Secretário Geral disse também que ‘nos congratulamos da vontade expressa pelo ETA de deixar de matar’, algo que se ignora na ampla informação a que nos referimos".

"Uma informação assim confeccionada carece de objetividade e, portanto, não é confiável em seu conjunto", sustentam.

Este último parágrafo foi suprimido pelo País na versão divulgada na quarta-feira, mas segundo os bispos "é fundamental para deixar claro que a falsidade da informação em questão não corresponde só às declarações que se atribuem ao Secretário Geral da Conferência Episcopal e à suposto alinhamento de diversos membros do Episcopado em frentes contrapostas".

"A informação de El País, efetivamente, não é confiável em seu conjunto, como põe deste modo em destaque Dom Uriarte na carta enviada ao diretor do jornal", que foi publicada hoje e que também transcrevem os prelados.

Nesta missiva, Dom Uriarte expressa sua surpresa e desgosto pela polêmica reportagem. "Ao menos no que se refere a minha pessoa e às intervenções que me atribuem está marcado por graves enganos que tenho o dever de desculpar", indica.

Segundo o Bispo de San Sebastián, "não se ajustam absolutamente à verdade que eu tenha solicitado da Santa Sé nenhuma intervenção pontifícia nem vaticana que apoiasse as atuais gestões em curso em prol da paz no País Basco".

"Não exerci mediação alguma entre a Santa Sé e os diversos agentes que realizam tais gestões. Por amor à verdade e à paz vejo-me precisado de oferecer estes importantes esclarecimentos", sustenta.