A Conferência Episcopal Peruana (CEP) assinalou que, para superar a crise política provocada pela renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski, não só é necessária uma mudança de mandato, mas também “a recuperação ética e moral do país”, porque os altos níveis de corrupção “roubam a esperança” da população.

No último dia 21 de março, Kuczynski renunciou à presidência, colocando fim a uma grave crise política e a um governo de um ano e oito meses. Hoje assume o primeiro vice-presidente, Martín Vizcarra, que nos últimos meses foi embaixador no Canadá.

“Chegamos a um ponto de colapso político. Um novo começo exige não só uma mudança de comando, mas a recuperação ética e moral do país em todos os níveis, porque os altos níveis de corrupção roubam a esperança, especialmente dos pobres e dos jovens”, expressou a CEP em uma mensagem emitida em 22 de março.

Os bispos denunciaram que há “um processo sistêmico de corrupção causado pelo divórcio entre a ética e a política, fortalecido por ambições pessoais e grupais, intensificado pela impunidade e maltratado por um sistema que ignora a justiça".

Além disso, recordaram que “governar é uma responsabilidade de todos os poderes do Estado” e que “quem assumir a liderança do Peru deve promover e receber o apoio de todas as forças sociais a fim de gerar, passo a passo, um ‘Acordo de Governabilidade’”.

“Neste momento crucial é urgente colocar em primeiro lugar o Bem Comum ante os interesses particulares. Recuperemos os valores éticos e morais que construíram a essência do nosso ser cidadãos peruanos. Não há nada mais contrário à mensagem cristã do que o individualismo: viver sem o próximo e aproveitar-se deles”, expressou a CEP.

Peçamos a Deus pelo Peru

Por sua parte, o Arcebispo de Piura e Tumbes, Dom José Antonio Eguren, pediu que “respeitem os procedimentos previstos pela Constituição e as Leis do Peru para uma ordenada transição de poder, pois vivemos em um Estado de Direito e em democracia”.

Do mesmo modo, encorajou os fiéis a “rezar com confiança a Jesus, Senhor da História, para pedir pelo nosso querido Peru”, especialmente agora que se aproxima a Semana Santa.

“Peçamos especialmente para que nestes momentos ilumine os nossos governantes e que conceda a todos os peruanos a paz de espírito e a firme vontade de permanecer unidos pela esperança”, convidou em um comunicado divulgado em 21 de março.

O Arcebispo recordou que a corrupção “é um pecado gravíssimo que ameaça, sobretudo, a pessoa que tem autoridade sobre os outros”. “Sem homens novos não haverá um novo Peru”, indicou.

O Prelado também disse que é necessário “um renascimento da política no Peru, ou seja, uma nova geração de políticos inspirados por grandes e nobres ideais de amor ao Peru, que sobreponham os interesses sagrados da Pátria aos seus interesses, que compreendam e vivam o poder como serviço”.

A crise no Peru

Em 21 de dezembro, Kuczynski enfrentou no Congresso um primeiro pedido de impeachment da presidência, depois de ser acusado pela oposição de supostos casos de corrupção com a empresa brasileira Odebrecht, que teria cometido quando foi ministro no governo de Alejandro Toledo ( 2001-2006).

Entretanto, foi salvo graças ao fato de que a oposição não conseguiu os 87 votos necessários dos 130, pois dez parlamentares do partido fujimorista ‘Fuerza Popular’ – entre eles Kenji Fujimori – se abstiveram de votar.

Em 24 de dezembro, Kuczynski concedeu a anistia humanitária ao ex-presidente Alberto Fujimori. Isso foi interpretado pela oposição como um agradecimento do governo a Kenji por evitar impeachment.

Alguns dias depois, este e os outros nove parlamentares se retiraram da ‘Fuerza Popular’, partido liderado por Keiko Fujimori.

Assim, logo depois de novos indícios de corrupção de Kuczynski com a Odebrecht, foi apresentado um novo pedido impeachment por “incapacidade moral permanente” que deveria ser discutida ontem.

Entretanto, na terça-feira, 20 de março, o partido ‘Fuerza Popular’ divulgou dois vídeos que mostravam congressistas do grupo de Kenji tentando persuadir um parlamentar da oposição para que não votasse a favor do impeachment, em troca de obras na sua região.

A isto se somaram três áudios no último dia 21, com a voz do então Ministro de Transportes, Bruno Giuffra, tentando marcar uma reunião entre o próprio parlamentar e Kuczynski.

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Diante deste escândalo e da crescente possibilidade de ser retirado da presidência, Kuczynski anunciou no dia 21 de março a sua renúncia.

De acordo com a Constituição, seu cargo deveria ser ocupado pelo primeiro Vice-presidente, Martin Vizcarra, que chegou na madrugada da sexta-feira do Canadá, onde era embaixador.

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