O Bispo da Diocese de Crateús (CE), Dom Ailton Menegussi, declarou que a Igreja no Brasil não apoia uma troca de governos por interesses de poder e que não aceitaria “um golpe” por parte de políticos interesseiros. As declarações do prelado deram a entender que esta seria uma postura “como CNBB” (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Contatada, a assessoria de imprensa da Conferência Episcopal informou que quem responde pela entidade é sua presidência e não os demais Bispos, que têm autonomia para expressar suas próprias opiniões.

As declarações de Dom Ailton foram feitas em uma homilia no sábado, quando celebrou a Solenidade de São José em Tauá, no sertão cearense.

“É bom saber que o episcopado brasileiro é composto de quase 500 bispos e vocês não vão pensar que 500 bispos pensam igualzinho um ao outro”, ressaltou o Prelado, que também é Bispo referencial da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial do regional Nordeste 1.

Entretanto, ele afirmou que “como CNBB, duas coisas posso dizer a vocês: é claro que nenhum bispo do Brasil concorda com corrupção e nós apoiamos que as investigações sejam feitas”.

Dom Ailton sublinhou que com as apurações, os culpados devem ser punidos, uma vez provadas as acusações, “não antes de serem provadas”.

“O que está acontecendo no Brasil – disse o Bispo – é que já estão tratando criminosos antes de provar as coisas”.

“Não sejamos bobos”, exclamou, ao indicar que “os culpados não são só desse partido ou só daquele”. “Tem corrupto em tudo o que é partido”, acrescentou. De acordo com ele, o que o país está vivendo atualmente é que “se está permitindo que as coisas apareçam” e “isso é bom”.

O segundo ponto assinalado por Dom Ailton é a possibilidade de que alguns partidos políticos se aproveitem da crise para um suposto golpe em uma eventual troca de governo:  “Nós não aceitamos que partido político nenhum aproveite dessa crise para dar golpe no país”, afirmou. Segundo a interpretação de alguns setores da mídia, expressa em sites como o vermelho.org e Brasil247, ambos simpáticos ao governo do PT, ele estaria falando em nome da CNBB.

“Nós não estamos interessados em trocar de governo simplesmente”, manifestou o Bispo. “Nós queremos que o país seja respeitado, que os cidadãos brasileiros sejam respeitados. É isso o que quer a CNBB”, completou.

De acordo com ele, a entidade não apoiaria simplesmente uma “troca de governos, de pessoas interesseiras, que querem se apossar porque são carreiristas”.

“Não vamos acreditar que muito desse barulho aí estejam preocupados conosco, não. Tem muita gente posando de santinho, mas que nunca pensou em pobre. E não pensa em pobre.  Estão fazendo discurso bonito porque querem o poder. E com isso a CNBB não concorda”, expressou.

Em declarações exclusivas à ACI Digital, Dom Ailton Menegussi destacou que se manifestou “como cidadão e como bispo”.

“Eu afirmei que a CNBB está composta de mais de 500 bispos, que não pensam um igual ao outro”, e lembrou que a Conferência Episcopal “já lançou uma nota a respeito da situação política pedindo governabilidade e que os governantes não atuem baseado nos interesses de partidos, mas no interesse do Brasil”.

Sobre a repercussão de suas declarações, Dom Ailton afirmou em entrevista com a nossa agência na manhã desta segunda-feira, 21: “O que disse está dito, está na internet, está na imprensa, não vou polemizar a respeito destas declarações. Que cada um faça as interpretações que quiser”.

ACI Digital tentou contatar sem sucesso o Secretário-Geral da entidade, Dom Leonardo Steiner, mas conseguiu falar com a assessoria de imprensa da CNBB. A assessoria informou que só a presidência da CNBB é responsável pela sua posição oficial e que os bispos têm autonomia para expressar opiniões, mas a título próprio e não como entidade.  

Até o momento a CNBB expressou-se mediante uma nota oficial. Na mesma, os bispos brasileiros entendem que o país vive “uma profunda crise política, econômica e institucional” e assinalam que “é inadmissível alimentar a crise econômica com a atual crise política”.

“O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético de favorecer e fortificar a governabilidade”, expressa a nota assinada pela presidência da CNBB no dia 10 de março.

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