Em carta dirigida a Dom Walmor de Azevedo, Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Arcebispo do Ordinário Militar do Brasil, Dom Fernando Guimarães, comunicou que este ano não serão utilizados os materiais da Campanha da Fraternidade pelos capelães nas missas e eventos da Arquidiocese Militar brasileira e que “também o percentual da coleta destinado a esta Conferência Episcopal – e repartido com outras entidades promotoras da Campanha – não será enviado”.

A carta do Arcebispo Militar do Brasil a Dom Walmor, cuja existência e conteúdo foram confirmados por fontes de ACI Digital junto aos bispos no Brasil, afirma que “os segmentos católicos, protestante o kardecista, aos quais pertence a maioria dos membros das Forças Armadas, convivem em harmonia e trabalham juntos” e que “nas celebrações inter-religiosas procuramos insistir sobre os valores comuns, partilhados por todos, e evitamos aqueles temas que são contraditórios ou não aceitos por todas as igrejas e denominações”.

“O diálogo inter-religioso é necessário e oportuno quando, no respeito às diversas expressões de fé, é realizado em sedes competentes”, afirma a carta, argumentando ainda que “a evangelização dos fiéis, no entanto, em qualquer tempo e ainda mais em um tempo especial como é a quaresma católica, não é espaço para se dialogar sobre temas polémicos e contrário à autêntica doutrina de nossa Igreja”.

“Compete aos bispos diocesanos, como autênticos Mestres e guardiães do Depósito da Fé, garantir a ortodoxia da fé que é pregada aos seus diocesanos. Esta missão, objeto de solene juramento por parte de cada um de nós antes de nossa ordenação episcopal, compromete a minha consciência de bispo e a ela jamais poderei renunciar”, afirmou Dom Fernando Guimarães em sua carta ao presidente do Episcopado brasileiro.

“Por este motivo, comunico-lhe que no Ordinário Militar do Brasil, durante a quaresma deste ano, seguiremos apenas as orientações teológico-litúrgicas próprias do tempo quaresmal e não serão utilizados quaisquer dos materiais produzidos oficialmente para a Campanha da Fraternidade deste ano. Nossos Capelães Militares estão sendo orientados, caso desejem abordar o tema da mesma, a utilizar unicamente a Fratelli Tutti do Papa Francisco”, acrescenta a mensagem de Dom Fernando Guimarães.

“Também o percentual da coleta destinado a esta Conferência Episcopal – e repartido com outras entidades promotoras da Campanha – não será enviado e sim, real e efetivamente, empregado no socorro aos pobres, através de obra social reconhecida pelo Ordinariado Militar. Sobre este uso, será meu cuidado prestar contas posteriormente à Presidência”, conclui a carta do Arcebispo Militar do Brasil.

A nota de Dom Fernando Guimarães foi divulgada por sites e influenciadores católicos este 14 de fevereiro, mas foi na realidade escrita no dia 08 de fevereiro de 2021, dois dias antes de um extenso esclarecimento divulgado pela presidência da CNBB sobre as polêmicas referências à ideologia de gênero presentes no texto base da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano.

A proximidade das datas entre a carta de Dom Fernando e a nota da CNBB tem levado à especulação de que foi esta o motivo do esclarecimento público dos bispos.

No sua nota esclarecimento de 10 de fevereiro, a CNBB explicava que as referências à ideologia de gênero presentes no texto base da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 se deviam ao fato de que o mesmo não foi feito por uma comissão da CNBB, mas pelo CONIC (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs), que a cada cinco anos se une à iniciativa anual da CNBB que leva o nome de Campanha da Fraternidade e se desenvolve na quaresma, e que compreende uma grande coleta no Domingo de Ramos destinada a apoiar projetos de assistência através do Fundo Nacional de Solidariedade.

Os bispos brasileiros nesta ocasião mostraram particular preocupação por atitudes que levassem os católicos a não doar para a Campanha da Fraternidade em 2021 e afirmavam a aplicação dos fundos coletados no Domingo de Ramos em todo o Brasil “segue rigorosa orientação, obedecendo não apenas a legislação civil vigente para o assunto, mas também preocupação quanto à identidade dos projetos atendidos”.

Confira também a nota dos bispos brasileiros: