O concílio de patriarcas ortodoxos que deve acontecer na ilha de Creta (Grécia) entre os dias 19 e 26 de junho sofreu um importante reverso depois que 4 Igrejas ortodoxas orientais anunciaram que não participarão.

Este “concilio pan-ortodoxo” programado pelo Patriarcado Ecumênico de Constantinopla devia reunir pela primeira vez em 1139 anos os bispos das 14 igrejas orientais ortodoxas autônomas.

Entre os temas a serem tratados estão: a missão da ortodoxia no mundo atual; a diáspora ortodoxa; a autonomia eclesiástica; a importância do jejum; as relações da Ortodoxia com o resto da cristandade e o sacramento do matrimônio.

Nas últimas semanas, a Igreja Ortodoxa Russa – com jurisdição sobre mais da metade dos cristãos ortodoxos do mundo –, a da Bulgária, a da Geórgia e a da Antioquia anunciaram que não participarão do concílio. Uma quinta Igreja, a Ortodoxa Sérvia, também havia desistido, mas no dia 15 de junho confirmou sua participação.

Cada uma das Igrejas justificou suas próprias razões para não comparecer ao evento.

Por exemplo, o Patriarcado de Antioquia desfez a comunhão com o Patriarcado de Jerusalém, pois este último nomeou um bispo metropolitano em Qatar, cidade que Antioquia reclama como parte de seu território. Por outra parte, não conseguiu assinar o documento preparatório sobre o sacramento do matrimônio e seus impedimentos.

A Igreja Ortodoxa Búlgara se retirou no dia 3 junho ao considerar “críticas” várias partes do documento preparatório sobre as relações da Igreja ortodoxa com o resto do mundo cristão.

O Patriarcado da Bulgária sustentou que o documento ecumênico erra teologicamente, pois reconhece que existem outras Igrejas cristãs – não meramente confissões – que não estão em comunhão com a ortodoxia.

O Patriarcado da Geórgia seguiu o exemplo dos búlgaros e também se opôs ao documento preparatório sobre o matrimônio.

Por sua parte, a Igreja Ortodoxa Sérvia em um primeiro momento se uniu aos dissidentes, mas no dia 15 de junho mudou de rumo e anunciou que participará do concílio.

Finalmente, a Igreja Ortodoxa Russa – que é o maior patriarcado – celebrou um sínodo extraordinário em 13 de junho e emitiu um comunicado indicando que se unia à decisão dos patriarcados dissidentes e, além disso, propôs adiar o concílio.

“O Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa da Rússia assinalou que a não participação de uma única Igreja ortodoxa autônoma universalmente reconhecida no concílio de Creta, constitui um obstáculo insuperável para a celebração de um ‘Santo e Grande Concílio’”, expressou o comunicado.

O Metropolita Hilário de Volokolamsk, presidente do Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou e toda a Rússia, também deixou claro que “todas as igrejas devem estar presentes no concílio pan-ortodoxo, e só nesse caso as decisões tomadas no concílio seriam legítimas”.

Como o concílio pan-ortodoxo corre o risco de fracassar apesar de toda a preparação? A reunião preliminar mais recente aconteceu na Suíça no último mês de janeiro, mas os preparativos remontam a uma conferência pan-ortodoxa celebrada em Rodas (Grécia), em 1961.

Durante a reunião do mês de janeiro na Suíça, realizaram um animado debate e aprovaram por unanimidade 5 documentos que deviam ser debatidos no concílio. Deste modo, aprovaram não de maneira unânime um documento sobre o matrimônio.

Os documentos que não receberam a aprovação por serem considerados temas mais controversos foram: autocefalia; a ordem de eminência entre os patriarcados, e a adoção de um calendário comum.

Apesar dos contratempos na organização do concílio pan-ortodoxo de Creta, Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico e coordenador do encontro, parece confiar em que o concílio ainda será realizado.

Em sua carta do dia 9 de junho, escreveu que “seu adiamento ou cancelamento no último minuto, depois de décadas de preparação, colocaria em perigo nossa igreja ortodoxa a nível de inter-relações entre as igrejas e a nível internacional, danificando irreparavelmente sua autoridade”.

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