Todos os pais gostam de partilhar seus passatempos com seus filhos. Mas, às vezes, a realidade prevalece e se torna muito difícil. No entanto, o fato de o quarto filho de José Manuel e Maite ter paralisia cerebral não tem sido um impedimento, e sim o ponto de união de uma família que viu sua fé reforçada: “Deus está com os frágeis e, sem dúvida, Pablo é o frágil por excelência”.

“Não recordo quando começamos a correr juntos. Sei que a primeira vez era no verão, eu estava preparado para sair para correr, mas nem minha mulher nem meus filhos podiam ficar cuidando do Pablo. Então, decidi que podia levá-lo comigo”, conta José Manuel Roas Treviño em conversa com o Grupo ACI.

Embora José Manuel assegure que não sabia se Pablo gostaria ou não da experiência, logo verificou: “ele ia direito na cadeira e, quando vai assim, significa que está bem, porque lhe custa muito esforço se mantar erguido”.

“Corríamos por um caminho de bicicleta nas proximidades e ele ia ciente de tudo, ria, gritava, levantava os braços. Eu cantava e ele ria mais e mais... E me dei conta de que o que estávamos vivendo era muito especial”.

Com a naturalidade com a que começam as grandes coisas, assim começaram a partilhar uma grande afeição “e cada vez se tornou mais frequente que saiamos para correr juntos e mais raro que eu vá sozinho, porque o que desfruto correndo com Pablo não tem nada a ver com terminar uma corrida sozinho”.

Pablo tem 18 anos e possui a síndrome de West, considerada uma doença rara, em um grau muito alto, que o torna totalmente dependente de seus pais, devido a uma profunda paralisia cerebral. Seus pais sabem que não fala, nem anda, tampouco o fará no futuro.

Mas, para os pais, Pablo, longe de ser um fardo, é um presente. “Agradeço a Deus todos os dias por Pablo e por esta história que está nos fazendo viver. Porque, quanto ele nasceu, sem dúvidas, nos foi levantado um muro com todas as limitações que apareceram, porque te apresentam uma vida terrível”.

“Mas, para mim, que vivo todos os dias em primeira pessoa, isto segue sendo surpreendente. Deus nos deu uma história complexa, mas também nos ajuda nela a seguir adiante e a fazê-lo com esperança, com senso de humor. Porque eu também olhei desconfiadamente quem levava em carros crianças como Pablo e o coração encolhia”.

José Manuel recorda a época em que se preparava para ser professor de educação especial. “Uma manhã de novembro de 1988, comecei a estudar e o tema era a paralisia cerebral. Naquele momento, assustei-me e recordo que disse literalmente: ‘Meu Deus, o que estou fazendo? Será que está me preparando para ter um filho assim?’. E me deu tanto medo que naquele mesmo dia deixei de preparar essas opções e comecei a estudar outra especialidade”.

José Manuel não nega que os sofrimentos são “enormes, mais do que tinha imaginado”, mas sublinha que “é um sofrimento do qual se ganha muito mais do que se perde. E Deus está perto dos frágeis e Pablo, sem dúvida, é o frágil por excelência”.

“Nele encontramos coisas que não há em nenhum outro lugar, como o amor e o perdão da maneira mais pura”.

Este pai comenta também que “há dias duríssimos, como nunca pensei na vida, mas é verdade que depois se descobre quem é Deus, que é esse que torna o impossível possível”.

Por isso, insiste que, apesar das dificuldades, sua fé em Deus é muito mais forte graças a Pablo.

“Sim, precisamente por Pablo cremos em Deus, porque vivemos o impossível. Somos uma família normal que lutamos todos os dias e temos nossas coisas... mas, onde se coloca o Pablo, terminam nossas diferenças. É o que mais nos une, por isso, Pablo é uma bênção para nós, é nosso ponto de união”.

Além disso, José Manuel sublinha que é muito incentivador ver como, nas corridas e maratonas, todos querem “bater as mãos com ele, como as pessoas aplaudem durante o percurso e ele levanta as mãos e ri”. E insiste: “é um milagre o que estamos vivendo e muito mais poder compartilhar com ele”.

Até agora, eles correram seis maratonas – 3 em Sevilha, 2 em Madri e 1 em Nova Iorque – e assegura que ainda faltam muitas corridas para partilhar.

Para José Manuel e sua família, ter Pablo “é um verdadeiro privilégio, de coração”.

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