A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na quinta-feira, 27, uma nota sobre a situação atual do Brasil, na qual aborda as dificuldades enfrentadas no cenário político-econômico. O documento foi aprovado pelo Conselho Episcopal Pastoral (Consep), que esteve reunido nos dias 25 e 26, em Brasília (DF). No texto, os Bispos classificam a corrupção como algo intolerável e apontam o diálogo e a luta contra práticas corruptas como caminhos para preservar e promover a democracia. Outros prelados brasileiros manifestaram também seu repúdio diante dos recentes escândalos de desvio de dinheiro e corrupção na gestão pública.

“A população brasileira acompanha, apreensiva, a grave crise que atinge o país, procurando conhecer suas origens, resistir às suas consequências e, sobretudo, vislumbrar as soluções. A realidade é dura e traz de volta situações que, por algum tempo, haviam diminuído significativamente como o desemprego, a inflação e a pobreza”, afirma a nota da CNBB em seu parágrafo inaugural, recordando também palavras de São Paulo a Timóteo: “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (1Tm 6,9-10).

“Pagamos um alto preço pela falta de vontade política de fazer as reformas urgentes e necessárias, capazes de colocar o Brasil na rota do desenvolvimento com justiça social quais sejam as reformas política, tributária, agrária, urbana, previdenciária e do judiciário. O gasto com a dívida pública, o ajuste fiscal e outras medidas para retomada do crescimento colocam a saúde pública na UTI, comprometem a qualidade da educação, inviabilizam a segurança pública e inibem importantes conquistas sociais”, denunciam os bispos.

Segundo a nota, “a corrupção, metástase que atinge de morte não só os poderes constituídos, mas também o mundo empresarial e o tecido social, desafia a política a seguir o caminho da ética e do bem comum”. “Combatê-la – prossegue a nota a favor do Brasil – supõe assegurar uma justa investigação de todas as denúncias que vêm à tona com a consequente punição de corruptos e corruptores. A corrupção, gerada pela falta de ética e incentivada pela impunidade, não pode ser tolerada”.

“É urgente resgatar a credibilidade da atividade política em que seja fortalecida a cultura inclusiva e democrática, pois um ‘método que não dá liberdade às pessoas para assumir responsavelmente sua tarefa de construção da sociedade é uma chantagem’, e ‘nenhum político pode cumprir o seu papel, seu trabalho, se se encontra chantageado por atitudes de corrupção’”, afirma o documento, ao citar o discurso do Papa Francisco aos representantes da sociedade civil, no Paraguai, em 11 de julho deste ano.

A CNBB, através do Consep, reafirma o diálogo e a luta contra a corrupção como meios para preservar e promover a democracia. “Nesse diálogo, devem tomar parte os poderes constituídos e a sociedade civil organizada. Com o Papa Francisco, lembramos que ‘o futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança’”, acrescenta a nota dos prelados brasileiros.

“O Espírito Santo nos ajude a dar a razão de nossa esperança e nos anime no compromisso de agir juntos pelo bem comum do povo brasileiro”, conclui a nota que leva a assinatura dos Bispos que compõem a presidência da CNBB.

A nota da Conferência dos Bispos vem se somar a outras publicações independentes de prelados brasileiros que, durante o mês de agosto, se pronunciaram sobre o contexto político atual do país.

Em artigo intitulado Reconstrução política, o Arcebispo de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, chamou a atenção para a necessidade de uma reconstrução que passa pelas instâncias governamentais, instituições políticas e os próprios cidadãos. “As pancadas nas panelas – como legítima manifestação de protesto cidadão – precisam ser martelos na consciência de todos”, alerta.

De modo específico, o Arcebispo considerou “lamentável quando o âmbito partidário torna-se um ‘quartel’ na defesa de interesses de poucos, na contramão da cidadania, para alimentar esquemas de corrupção e a depredação do erário”.

Ao analisar o contexto atual, Dom Walmor sinaliza ser “indispensável investir num novo tecido político para subsidiar uma cidadania que consiga produzir líderes mais nobres, capazes de abrir frentes e encontrar novas respostas, ajudando no avanço inadiável de instituições e instâncias todas da sociedade”.

Essa mesma observação é corroborada pelo Arcebispo de Uberaba (MG), Dom Paulo Mendes Peixoto, em seu artigo “Um grande sinal”. No texto, o prelado cita dificuldades econômicas, políticas, além da insatisfação da população e “uma insegurança em relação à política e aos políticos, política que se transforma em politicagem e cabido de emprego para os carreiristas”.

“Falta um sinal concreto que seja capaz de levantar a autoestima do brasileiro. Estamos vivendo uma crise de lideranças comprometidas com o povo, e confiáveis. Será que essas pessoas não nasceram, ou se existem, foram contaminadas pelo clima de secularização antiética e amoral em relação à condição e administração da coisa pública?”, questiona.

Também ao analisar os fatos em um artigo, A corrupção cheira mal, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer pergunta: “Existe remédio para a corrupção?”.

“Certamente que sim. É indispensável, desde a mais tenra infância, a educação para a honestidade e o senso de justiça e solidariedade, como também o discernimento crítico diante dos fatos públicos de corrupção e desonestidade: estes não são bons exemplos a serem seguidos por crianças, jovens e adultos. Mas também é necessário que a justiça realize o seu curso e chame às contas os agentes da corrupção. O maior estímulo para a corrupção seria a convicção de que a desonestidade compensa e a honestidade é uma tolice”, aponta o Cardeal.

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