De 5 a 8 de março, o Papa Francisco realizará uma viagem apostólica ao Iraque, a qual é vista com esperança pelos cristãos iraquianos que esperam que o Papa saia do protocolo e, assim, possam sentir mais a sua proximidade, assegurou o Pe. Luis Escalante, postulador de três causas de beatificação de mártires cristãos assassinados por causa do fundamentalismo islâmico.

Pe. Escalante é um sacerdote argentino de 55 anos, pároco da paróquia Sant'Antonino de Fara Sabina (Itália). É canonista e foi Vigário Judicial na Arquidiocese de La Plata (Argentina).

Desde 2017 é postulador diocesano para todas as causas caldeias. Realiza trabalho de campo no Iraque, aonde viaja com frequência para recopilar documentação. Também pesquisa sobre os santos caldeus do primeiro milênio e sobre os martírios ocorridos sob o domínio do Império Otomano.

Pe. Escalante levou a Roma três causas de mártires caldeus e está trabalhando agora nas restantes. Foi a própria Igreja Católica Caldeia e o Patriarca Louis Sako que se encarregaram.

Em declarações a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, o sacerdote disse que os cristãos iraquianos esperam “que o Papa saia do protocolo e se mostre próximo daqueles que quiserem vê-lo e tocá-lo, e não apenas o acompanhar pela televisão locomovendo-se em caravanas de carros blindados e helicópteros militares”.

O Santo Padre viajará ao Iraque de 5 a 8 de março sob o lema "Sois todos irmãos". A visita inclui a capital Bagdá, a Planície de Ur - ligada à memória de Abraão - e as cidades de Erbil, Mosul e Qaraqosh na Planície de Nínive.

Além do apoio espiritual aos cristãos do Iraque, o postulador das causas caldeias disse que, sendo uma visita oficial de um chefe de Estado, espera que o Pontífice “insista e, por que não, exija igualdade de tratamento entre os cidadãos de Iraque, independentemente de sua confissão religiosa”.

Explicou que o Pontífice encontrará dentro de um mesmo território “dois países de fato diferentes: o Curdistão, tolerante e progressista; o Iraque, destruído por tantas razões e com gravíssimas crises sanitárias, econômicas e políticas”.

O Curdistão iraquiano é uma região autônoma no norte do Iraque habitada principalmente pelos curdos, um povo com uma cultura e uma língua diferentes do árabe.

Os curdos também estão presentes na Síria, Turquia e Irã

Em geral, as autoridades curdas são mais tolerantes do que as do resto do país. Suas milícias, conhecidas como peshmergas, foram fundamentais para conter o Estado Islâmico em sua ofensiva de 2014 e, depois, para derrotá-lo ao lado do exército iraquiano e apoiados pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

Muitos cristãos iraquianos da região de Nínive encontraram refúgio e proteção no território do Curdistão iraquiano.

Em relação ao Iraque, “é evidente que a sociedade muçulmana desde a queda de Saddam (Hussein em 2003) se tornou progressivamente muito intolerante para com os cristãos, seja qual for o seu rito ou afiliação”, lamentou o Pe. Escalante.

Assinalou que “o mundo muçulmano não distingue as nossas diversas confissões, nem mesmo no Iraque: se há um Estado civil e este é muçulmano, os cristãos sobram e precisam ir embora. E isso é o que está acontecendo: eles têm dificuldades para conseguir trabalho, recebem mal ou são assassinados, como no atentado à catedral siríaca de 2010”.  

De acordo com essa mentalidade, “os cristãos não têm espaço no Iraque do futuro. Pessoas corajosas como o Patriarca Sako e todos os bispos católicos lutam pelo contrário, mas são vozes quase no deserto”.

Neste sentido, Pe. Escalante disse que esta viagem é uma oportunidade para “defender sobretudo os direitos humanos dos cristãos a viver em sua terra, seja como cidadãos como quaisquer outros, ou no reconhecimento ao dado histórico de que a presença dos assírios cristãos é pré-islâmica, por isso, minimamente era de se esperar que no Iraque houvesse um respeito e uma tolerância a uma minoria historicamente mais antiga que o próprio califado de Bagdá”.

Além disso, afirmou que esta viagem pode dar um importante impulso à reconciliação entre os iraquianos. "Recebi alguns comentários de pessoas em Bagdá de que há expectativas positivas entre os muçulmanos", assinalou.

No entanto, disse que “do Curdistão, tenho recebido comentários em sentido contrário, que a situação em Bagdá já está tensa, devido ao aumento do preço do dólar e pelos protestos que já vem acontecendo há um tempo contra o governo iraquiano, a isso se acrescentaria algumas manifestações de descontentamento pela visita papal. Eu não posso quantificar isso, mas é credível”.

Publicado originalmente por ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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