Na Índia, um grupo hindu exigiu que todas as igrejas construídas em áreas tribais do estado central de Madhya Pradesh sejam fechadas e que sejam tomadas medidas contra sacerdotes e pastores cristãos envolvidos em supostas conversões religiosas.

No entanto, os líderes cristãos negaram as acusações de conversão e qualificaram as demandas como uma tentativa de aterrorizá-los e difamá-los, aproveitando a lei anticonversão recentemente promulgada no estado.

Azad Prem Singh, líder local de Vishwa Hindu Parishad (VHP) ou Conselho Mundial Hindu, disse que nos últimos 70 anos missionários cristãos converteram "povos indígenas crédulos ao cristianismo e construíram igrejas especificamente em terras tribais protegidas".

"Todas as igrejas construídas ilegalmente devem ser fechadas imediatamente e ações devem ser tomadas contra todos os sacerdotes e pastores envolvidos no processo", disse Singh, que mora no distrito do estado de Jhabua.

Junto com centenas de apoiadores, incluindo alguns indígenas, Singh marchou pela cidade de Jhabua, em 11 de janeiro, e entregou um memorando detalhando suas demandas ao coletor do distrito, o mais alto funcionário do governo em Jhabua.

Em seu memorando, acusou pastores e sacerdotes nativos, incluindo alguns da Igreja Católica, de conversões tribais ilegais.

Segundo informou UCA News, Singh disse aos meios que o governo deve registrar as atividades de conversão de sacerdotes e pastores, e bloquear todos os benefícios sociais destinados aos povos indígenas, que os cristãos conversos continuam recebendo.

“De acordo com as disposições especiais da Constituição indiana, as tradições, culturas, línguas e outras práticas dos povos indígenas devem ser protegidas e não podem ser alteradas por ninguém de fora”, disse o líder hindu.

Segundo Singh, a proteção que a Constituição confere à cultura tribal não permite “construir igrejas em áreas tribais. As igrejas cristãs em operação devem parar imediatamente".

O líder hindu deu ao governo um ultimato de 30 dias e ameaçou iniciar a violência para interromper as atividades da igreja.

Embora Singh esteja focado em Jhabua e nos distritos dominados por tribos ao redor, a mudança pode ter repercussões em todo o país, especialmente em estados como Madhya Pradesh, onde o partido pró-hindu Bharatiya Janata (BJP) está no controle, dizem líderes cristãos.

Os povos tribais representam cerca de 21% dos 72 milhões de habitantes de Madhya Pradesh, enquanto em todo o país somam cerca de 104 milhões ou cerca de 9% dos 1,3 bilhão de indianos.

Pe. Rockey Shah, encarregado de relações públicas da diocese católica de Jhabua, disse que os cristãos são "vítimas de perseguição por ajudar as tribos pobres".

Pe. Shah, que é um sacerdote indígena, disse a UCA News, em 14 de janeiro, que os grupos extremistas hindus estão tentando tirar proveito da lei recém-implementada para controlar a conversão religiosa.

Em 9 de janeiro, o governo estatal substituiu sua lei anticonversão de mais de 50 anos por uma nova e mais rígida, que prevê até 10 anos de prisão para a conversão de pessoas através da sedução, força ou meios fraudulentos.

No entanto, a lei permite a conversão de outras religiões ao hinduísmo, religião majoritária no país. Os hindus radicais afirmam que o hinduísmo é a religião original de todos os indianos, enquanto o cristianismo e o islamismo são religiões estrangeiras que se espalharam na Índia por meio da conversão dos hindus.

Portanto, argumentam que a reconversão de cristãos e muçulmanos ao hinduísmo não é um crime, mas leva ao seu retorno para casa (ghar wapasi).

Pe. Shah também rejeitou a acusação de que as igrejas foram construídas ilegalmente. "Temos os documentos adequados para todas as nossas igrejas", afirmou. Além disso, continuou, a Igreja Católica nunca se envolveu em qualquer conversão ilegal.

Os grupos extremistas hindus que se opõem ao cristianismo dizem que as instituições de caridade dos missionários cristãos são uma fachada para atrair os pobres e tribais ao cristianismo e convertê-los.

“A ameaça não nos assusta. Como somos cidadãos que respeitamos a lei, vamos seguir a lei e continuar nosso trabalho pelos pobres e necessitados”, disse o sacerdote.

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Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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