O cristão copta ortodoxo Kiro Khalil relatou sua experiência como sobrevivente de um ataque terrorista que tirou a vida de três familiares, incluindo sua mãe, e destacou a importância de amar o próximo para superar a dor.

Em entrevista à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), Khalil contou como aos 20 anos, quando vivia no Egito, foi vítima de um atentado terrorista perpetrado por muçulmanos ligados ao Estado Islâmico e que mudou a sua vida no último dia de 2010.

"Perdi meus parentes mais próximos em um ataque à Igreja de São Marcos e São Pedro (Igreja Al-Qidissine), em minha cidade natal, Alexandria, na véspera do Ano Novo", disse.

Khalil indicou que ele e sua família estiveram na igreja no dia 31 de dezembro de 2010, para “dar graças a Deus pelo ano que estava terminando”, quando, ao sair do edifício, um carro-bomba explodiu. "24 pessoas morreram, várias centenas ficaram feridas", lembrou.

“Entre os mortos estavam minha mãe, minha irmã e uma de minhas tias. Minha outra irmã, Marina, ficou gravemente ferida: teve que ser operada 33 vezes”, lamentou.

O jovem acrescentou que naquela época havia cerca de quatro mil pessoas na igreja e assinalou que considera que seus três parentes foram “escolhidos como mártires”.

"Por mais estranho que possa parecer, vejo isso como uma escolha especial, em vez de cair no desespero ou me perguntar: 'Deus foi injusto por permitir que isso acontecesse?'", indicou.

Khalil disse que se compadece com seus agressores, que "vivem sob forte pressão" por acreditar que o uso da violência contra fiéis de outras religiões é uma forma de "agradar a Deus".

“Essas pessoas têm sangue nas mãos. Como pode uma pessoa viver com tanta culpa? Imagino que eles sofram as consequências desse ataque tanto quanto eu”, acrescentou.

Além disso, assinalou que desde a sua infância experimentou “o ódio e a exclusão por ser cristão”, os seus colegas de escola o insultavam por seu nome Kiro, “que é um nome tradicional cristão”.

Os cristãos coptas são uma das minorias mais perseguidas no Oriente Médio por extremistas islâmicos. No Egito, a religião majoritária é o islamismo e, segundo a organização Open Doors, os cristãos representam pouco mais de 16% dos 100 milhões de habitantes.

Khalil indicou que foi graças aos ensinamentos de sua mãe, que o encorajou e também a seus irmãos a amar o próximo como a si mesmos, que pôde aprender a "amar os nossos semelhantes, mesmo que tenham feito o que nos fizeram".

“Minha mãe nos ensinou este mandamento de Jesus. É algo que me ajudou muito após o ataque para lidar com a dor", disse.

ACN observou que, após o ataque, Khalil teve que deixar seu país e atualmente está refugiado na Alemanha, onde se casou recentemente.

O jovem indicou que depois de viver algum tempo em terras europeias, tem a impressão de que, “com o tempo, a fé adormece, porque muitas vezes a Igreja cresce precisamente onde há perseguição”.

“No Egito, os cristãos morrem para viver sua fé. Aqui na Alemanha, as igrejas são fechadas ou transformadas em museus. É algo que me parece muito triste”, concluiu.

Dom Kyrillos Kamal William Samaan, Bispo copta-católico de Asyut (Egito), disse à ACN em 2019 que a ameaça de ataques extremistas continua, pois há islâmicos que querem que os cristãos temam por sua posição na sociedade egípcia.

O bispo copta-católico garantiu que esses ataques “perpetrados por islâmicos ocorrem de tempos em tempos, mas o objetivo não é só atacar os cristãos, mas também o governo egípcio. É uma forma de dizer aos cristãos: ‘o governo não pode protegê-los. Você deve deixar o Egito’”.

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Dom Kyrillos explicou que “desde 1952 existe uma mentalidade segundo a qual os cristãos são cidadãos de segunda classe. Porém, agora houve uma mudança e as coisas estão melhorando .

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

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