Quando o Arcebispo Emérito de Douala (Camarões), Cardeal Christian Tumi, de 90 anos, foi interrogado em cativeiro por separatistas armados de seu país na semana passada, surpreendeu seus sequestradores com uma promessa corajosa que havia dirigido a Deus.

Cardeal Christian Tumi, fotografado após sua libertação em 6 de novembro de 2020. Crédito: Diocese de Kumbo nos Camarões.

Um vídeo publicado nas redes sociais, em 7 de novembro, revelou uma conversa que aconteceu enquanto o Cardeal Tumi estava preso durante a noite por milícias separatistas quando viajava pela região noroeste de Camarões.

No vídeo, um dos sequestradores do Purpurado o confrontou porque havia exortado os combatentes nos Camarões a deporem as armas, e depois lhe ordenou que compartilhasse a mensagem dos separatistas ao público.

Diante disso, o Cardeal respondeu: “Pregarei a verdade com convicção pastoral e convicção bíblica. Ninguém tem o direito de me dizer para pregar o contrário porque fui chamado por Deus”.

Em outro ponto do vídeo, o Cardeal disse aos seus sequestradores: “Quando falo, falo como um pastor e não posso deixar de fazer isso. Se eu parar de fazer isso, não serei fiel a Deus, o Todo-Poderoso".

O Cardeal Tumi estava viajando em 5 de novembro com outras 12 pessoas, incluindo um líder local, Fon Sehm Mbinglo I, entre as cidades de Bamenda e Kumbo. No entanto, ambos foram interceptados por homens armados pertencentes a milícias separatistas em Bamunka, uma aldeia na região noroeste dos Camarões. O Purpurado foi libertado pelos combatentes separatistas no dia seguinte.

O sequestro do Arcebispo Emérito de Douala ocorreu em meio a um conflito entre separatistas e forças governamentais nos territórios de língua inglesa na região noroeste e sudoeste de Camarões.

As tensões aumentaram depois que professores e juízes que falam francês foram enviados para trabalhar em regiões anglófonas historicamente marginalizadas em 2016, e a disputa é conhecida como crise anglófona.

O Cardeal Tumi tem se esforçado ativamente na busca de uma solução pacífica para a crise por meio do diálogo após sua aposentadoria como arcebispo de Douala.

Em um ponto do vídeo, o Cardeal Tumi disse aos separatistas: "Todos nós lutamos pela paz, inclusive vocês".

O Purpurado ajudou a criar a Conferência Geral Anglófona, um marco para o diálogo entre todas as partes no conflito anglófono.

A crise dos Camarões tem suas raízes no conflito entre as áreas de língua inglesa e francesa dos Camarões. A área era uma colônia alemã no final do século XIX, mas o território foi dividido em mandatos britânicos e franceses após a derrota do Império Alemão na Primeira Guerra Mundial. Os mandatos se uniram em um Camarões independente em 1961.

O Cardeal Tumi nasceu no que hoje é o noroeste dos Camarões em 1930 e serviu como bispo nas regiões de língua francesa do país desde 1979. Foi presidente da Conferência Episcopal dos Camarões de 1985 a 1991.

Agora há um movimento separatista nas regiões sudoeste e noroeste, que compunham os Camarões britânicos.

A violência aumentou em 24 de outubro, quando homens armados atacaram a Academia Bilingüe Internacional Madre Francisca, uma escola em Kumba, na região sudoeste dos Camarões. Homens abriram fogo contra estudantes em uma sala de aula. Sete estudantes com idades entre 12 e 14 anos morreram, de acordo com a Reuters.

Durante o sequestro, um dos separatistas instruiu o Cardeal Tumi a dizer ao público do vídeo e ao governo dos Camarões que "nunca deporemos as armas até que sejamos livres porque lutamos por nossos direitos".

O cardeal respondeu: “Sou um cidadão camaronês como você. Eu não faço parte do governo. Eu sou totalmente independente... não sou o porta-voz do governo e não sou um funcionário do governo".

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“Se agiu errado, direi que agiu errado; se o governo agiu errado, direi que agiu errado”, afirmou.

Publicado originalmente em CNA.

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