A histórica catedral armênia de Ghazanchetsots (São Salvador) na cidade de Shushi, localizada na região de Nagorno Karabakh (sudeste da Armênia), cuja soberania é disputada entre a Armênia e o Azerbaijão, foi destruída como resultado de dois bombardeios que deixaram várias pessoas feridas.

Os bombardeios ainda não foram reivindicados por nenhuma das partes em conflito pelo controle deste território, mas o governo armênio acusou o exército do Azerbaijão, algo que o Ministério da Defesa deste país nega.

A cidade de Shushi, onde fica a catedral, fica em um local isolado, longe de qualquer área estratégica que pudesse ser considerada um alvo militar. Esse fato seria a prova de que a destruição do templo ocorreu por motivos religiosos e não militares.

De acordo com a agência de notícias armênia Zartonk Media, o ministério da defesa armênio confirmou a autoria do exército do Azerbaijão. Ghazanchetsots é a sede da Diocese de Artsakh, da Igreja Apostólica Armênia.

A sua construção data dos anos 1868 e 1887, embora tenha sido consagrada um ano depois. Já havia sofrido danos significativos após a queda da União Soviética e a guerra de independência da República de Artsakh (1991-1994), nome do estado estabelecido em Nagorno Karabakh e reconhecido apenas pela Armênia.

Nesse conflito, as tropas do Azerbaijão ocuparam o templo e o usaram como depósito de armas. Após aquela primeira guerra, que terminou com vitória armênia, a catedral foi restaurada e consagrada novamente em 1998.

Há uma semana, a Armênia e o Azerbaijão lutam militarmente pela região de Nagorno Karabakh (conhecida pelos armênios como Artsakh), um território montanhoso de maioria armênia, mas cuja soberania é reconhecida pelo Azerbaijão.

O Azerbaijão, um país com maioria muçulmana xiita aliada da Turquia, iniciou nos últimos dias uma ofensiva militar para expulsar o exército armênio, um país com maioria cristã ortodoxa.

Embora inicialmente o conflito seja político e não tenha nada a ver com religião, o componente religioso começa a ganhar cada vez mais relevância, e o ataque à catedral seria uma prova disso.

A guerra adquiriu um componente internacional, embora a atitude da Turquia (aliada do Azerbaijão) e da Rússia (aliada da Armênia) seja diferente.

A Turquia apoia abertamente o Azerbaijão, enquanto a Rússia até agora se limitou a pedir o diálogo sem se envolver diretamente no conflito.

Militarmente, o Azerbaijão é superior à Armênia, pois possui armas e apoio logístico da Turquia e do Irã. O papel da Turquia está sendo essencial. Este país, a meio caminho entre a Ásia e a Europa, é a grande potência muçulmana do Mediterrâneo oriental e, junto com o Irã, do Cáucaso.

Seu presidente, Recep Tayyip Erdogan, é um político nacionalista e islâmico que embarcou o seu país em uma corrida militarista destinada a aumentar sua hegemonia no Oriente Médio e no Mediterrâneo oriental e a recuperar o poder nos territórios onde, no passado, estava o Império Otomano.

Esta estratégia da Turquia, conhecida na geopolítica como "neotomanismo", levou a Turquia a enfrentar a Grécia pelo controle dos campos de petróleo no fundo do Mediterrâneo em águas que a Grécia reivindica como suas.

Também levou o exército turco a ocupar áreas do norte da Síria e interferir na guerra civil da Líbia, onde o Egito também tem interesses.

Por isso, a ofensiva do Azerbaijão contra a Armênia está circunscrita à estratégia do expansionismo turco, que busca assim se tornar a potência hegemônica do Cáucaso. A esse respeito, o governo armênio acusou a Turquia de enviar armas ilegais (como bombas coletivas) e mercenários sírios, muitos deles jihadistas, para lutar em Nagorno Karabakh.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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