Na tarde de terça-feira foi libertado o Pe. Jude Onyebadi, um sacerdote católico nigeriano que havia sido sequestrado em sua fazenda em 26 de setembro, dois anos depois de ter sofrido um acontecimento parecido.

Ainda não está claro se um resgate foi pago para libertar o presbítero de 54 anos, que é pároco da Igreja de São Pedro e São Paulo na Diocese de Issele-Azagb, localizada na área de Aniocha, ao norte do estado de Delta (Nigéria).

No dia do sequestro, os homens armados seguiram o padre, que aparentemente inspecionava sua fazenda e ia pagar os salários dos funcionários. Os homens armados também sequestraram três trabalhadores, mas os libertaram na mesma noite.

Pe. Charles Uganwa, diretor de comunicações da Diocese de Issele-Uku, disse à CNA - agência em inglês do Grupo ACI - que os homens armados libertaram o Pe. Onyebadi por volta das 16h30 (hora local) na terça-feira, 29 de setembro.

Pe. Uganwa disse que o sacerdote não ficou gravemente ferido, embora tenha sido espancado quando os homens armados o sequestraram. Além disso, afirmou que não pôde confirmar se pagaram algum resgate por sua libertação.

A Nigéria é a nação mais populosa da África e a demografia em geral é dividida quase que igualmente entre cristãos e muçulmanos, embora a proporção varie amplamente em todo o país. Os muçulmanos dominam em algumas áreas e vice-versa.

O estado de Delta, onde está localizada a diocese de Issele-Uku, é predominantemente cristão, mas pequenos grupos de militantes muçulmanos são uma ameaça constante. Muitos deles parecem ser Fulanis, um grupo étnico muçulmano formado principalmente por pastores nômades.

O sequestro é um problema constante na Nigéria, especialmente no norte do país. Antes do sequestro do Pe. Onyebadi, pelo menos seis sacerdotes da Diocese de Issele-Uku foram sequestrados desde 2018.

Um sequestro ocorrido em junho deixou um padre gravemente ferido.

“Foi libertado após cerca de quatro dias no cativeiro. Estava tão ferido. Espancaram-no com paus e pedras, com as coronhas de suas armas. Ele ficou gravemente ferido. Teve que ficar no hospital por muitas semanas”, disse o Pe. Uganwa à CNA, em agosto.

O presbítero assegurou que, além de motivações anticristãs, o desemprego generalizado, agravado pela pandemia do coronavírus, é um dos promotores do fenômeno dos sequestros.

“Há um alto desemprego na Nigéria, por isso os jovens não estão ocupados... Estão ganhando muito dinheiro com sequestros. É mais fácil sequestrar sacerdotes e torturá-los um pouco, e com isso sairá dinheiro”, disse o Pe. Uganwa.

Os sacerdotes são vulneráveis ​​ao sequestro por várias razões, continuou. Frequentemente são membros visíveis e conhecidos de uma comunidade; raramente portam armas, e se encontram muitas vezes em lugares previsíveis, como a casa paroquial ou a igreja.

A conferência dos bispos nigerianos anunciou no ano passado que a diocese não deveria pagar resgate pela libertação de um sacerdote, por isso,  muitas vezes os fiéis bem intencionados juntam dinheiro para libertá-lo.

“Em geral, nenhum sacerdote sai do cativeiro sem que um resgate seja pago”, disse o Pe. Uganwa à CNA.

Em um caso de sequestro de alto nível no início deste ano, homens armados sequestraram quatro seminaristas do Seminário Bom Pastor em Kaduna, detendo-os aleatoriamente. Os sequestradores finalmente libertaram três dos seminaristas, mas mataram Michael Nnadi, de 18 anos, depois que ele se recusou a renunciar à sua fé.

Na parte norte do país, os Fulani frequentemente entram em confronto com os cristãos em disputas territoriais. O grupo islâmico radical Boko Haram, que surgiu por volta de 2009, ainda está ativo e realizou devastadores ataques terroristas contra cristãos nos últimos anos.

Esses incidentes incluem ataques, no final de julho, contra quatro aldeias cristãs no sul de Kaduna, nas quais mais de 62 cristãos foram mortos por terroristas islâmicos. Também em julho, um grupo extremista islâmico se gabou de ter matado cinco trabalhadores humanitários internacionais, três dos quais eram funcionários conhecidos de agências humanitárias cristãs.

O Boko Haram é afiliado ao Estado Islâmico e até agora desalojou mais de 2 milhões de pessoas de suas casas. O nome Boko Haram é traduzido aproximadamente como: "A educação ocidental é proibida".

Pe. Joseph Bature, sacerdote da Diocese de Maidugui, disse à CNA, em agosto, que estima que, desde 2009, o Boko Haram já expulsou metade dos 300 mil católicos que viviam na diocese. A região ao redor de Maiduguri é onde surgiu o Boko Haram.

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“O Boko Haram ainda é muito ativo, não tanto na cidade [como] nos arredores ... Eles ainda fazem o sequestro, ainda fazem o bombardeio. Eles ainda colocam minas no caminho”, disse Pe. Bature.

O problema dos deslocados internos, principalmente cristãos que foram expulsos de suas casas, é especialmente grave no norte, onde milhares de desabrigados vivem em campos de refugiados.

“Por aqui, perto de Maiduguri, mais de 1,2 milhão estão desabrigados. Cerca de 1,4 milhão, e o número continua aumentando a cada dia. Em todo o país, existem mais de 2,4 milhões de pessoas deslocadas internamente. Isso é muito grande”, disse o Pe. Bature.

Parte do problema, assinalaram os cristãos nigerianos à CNA, é que o governo dominado por muçulmanos respondeu em grande parte de forma lenta, inadequada ou não respondeu ao problema da perseguição cristã.

“O problema mais importante é que, infelizmente, o governo nigeriano não mostra vontade suficiente, seja no discurso ou na ação, para ajudar a conter a violência e o derramamento de sangue que vemos, seja dos terroristas, dos bandidos ou de um carrasco, porque temos muitos tipos de grupos organizando motins em todo o nordeste da Nigéria”, disse o Bispo de Oyo, Dom Emmanuel Badejo, à CNA.

O prelado disse que embora sua diocese seja mais pacífica do que algumas no norte, com muçulmanos e cristãos coexistindo pacificamente, existem alguns meios de perseguição que são mais sistêmicos e sutis, com nomeações governamentais e leis escritas que parecem favorecer o Islã em detrimento do cristianismo.

“Não é nenhum segredo que na Nigéria, especialmente com o governo de Buhari, existem leis escritas que não favorecem os cristãos em nada, e que favorecem, em outras palavras, os muçulmanos”, disse Dom Badejo, observando que o presidente Muhammadu Buhari é descendente de Fulani.

"As igrejas cristãs protestaram, os líderes cristãos protestaram, mas o governo federal não disse uma palavra para mostrar qualquer desejo de proteger a religião cristã", acrescentou.

Os bispos nigerianos anunciaram um período de oração de 40 dias para acabar com a perseguição, que frequentemente descrevem como genocídio. Os 40 dias terminam em 30 de setembro.

Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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