Dois conhecidos católicos dos Estados Unidos farão orações na Convenção Nacional Democrata no final desta semana, por ocasião das eleições presidenciais de novembro.

No domingo, 16 de agosto, foi anunciado que o sacerdote jesuíta James Martin e a religiosa das Irmãs do Serviço Social, Simone Campbell, oferecerão orações durante a convenção. Pe. Martin, junto com um rabino e um imã, oferecerá uma bênção virtual no dia 20 de agosto, última noite do evento. Campbell, por sua vez, fará uma oração na quinta-feira.

Pe. Martin, editor-geral da revista America Magazine, disse ao National Catholic Reporter que se sentiu “honrado” por ser convidado para rezar na Convenção Nacional Democrata.

“Normalmente evito tudo o que seja abertamente político, mas é difícil recusar um pedido de oração”, disse o Pe. Martin ao Reporter, acrescentando que havia solicitado a aprovação dos superiores em sua ordem antes de aceitar.

O jesuíta disse que sua oração "respeitará a dignidade de toda a vida", incluindo "o nascituro, o jovem negro, o adolescente LGBTQ, o migrante". Disse que espera que sua oração "ajude as pessoas a encontrar uma maneira de construir uma nação mais acolhedora".

Em um tweet, Pe. Martin comentou que ofereceria "a mesma oração" na próxima convenção do Partido Republicano, se pedissem para ele.

Os sacerdotes católicos costumam comparecer a convenções e outros eventos políticos. Em 2012, o Cardeal de Nova York, Timothy Dolan, rezou nas convenções nacionais republicanas e democratas e, em 2017, conduziu uma oração na posse do presidente Donald Trump.

Irmã Campbell, diretora executiva da NETWORK Lobby for Catholic Social Justice, já havia falado nas Convenções Nacionais Democratas de 2012 e 2016. Durante uma entrevista de 2016 para o Democracy Now, falou sobre sua participação e seus pontos de vista sobre, entre outros temas, a legalização do aborto.

Quando perguntada sobre um discurso na convenção de 2016 pronunciado pela presidente de NARAL Pro-Choice America, Ilyse Hogue, no qual contou sua experiência de aborto e recebeu aplausos da multidão, Campbell chamou o momento de “comovente e convincente”.

“Do meu ponto de vista, não acho que seja uma boa política proibir o aborto”, disse Campbell ao Democracy Now. Em vez disso, afirmou, que os ativistas pró-vida deveriam “se concentrar no desenvolvimento econômico para as mulheres e nas oportunidades econômicas. Isso é o que realmente faz a mudança”.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que “o direito inalienável de todo ser humano inocente à vida constitui um elemento constitutivo da sociedade civil e de sua legislação”.

Campbell também é uma figura importante dentro da Conferência de Liderança de Mulheres Religiosas (LCWR), uma organização de algumas ordens religiosas norte-americanas que foi investigada pelo Vaticano entre 2009 e 2012 sobre algumas questões de ortodoxia doutrinária e outras questões, incluindo a defesa política do grupo.

Ao concluir essa investigação, a Congregação para a Doutrina da Fé pediu "grandes reformas" na LCWR, incluindo a necessidade de resolver problemas doutrinários em áreas como aborto, eutanásia, ordenação de mulheres e homossexualidade.

Durante um encontro de 2011 com o Papa Bento XVI, o então vice-presidente Joe Biden disse ao Pontífice que estava sendo "muito duro com as religiosas norte-americanas" e que precisava "relaxar". Biden é o possível candidato democrata para as eleições de 2020.

Pe. Martin, que é conhecido por seu livro "Construindo uma Ponte" e por sua defesa de questões relacionadas à homossexualidade, também tem falado frequentemente sobre seu apoio ao ensinamento da Igreja sobre o aborto.

Se a oração do Pe. Martin incluísse uma menção explícita aos “nascituros”, como sugeriu, iria contrariar a plataforma [NdR: posição política] do Partido Democrata, que será adotada esta semana na convenção.

O esboço da plataforma, publicado em julho, assinala que "os democratas acreditam que todas as mulheres devem ter acesso a serviços de saúde reprodutiva de alta qualidade, incluindo o aborto seguro e legal", e promete "restaurar o financiamento federal para Planned Parenthood”.

“Os democratas se opõem e lutarão para revogar as leis federais e estaduais que criam barreiras à saúde reprodutiva e aos direitos das mulheres”, diz o esboço da plataforma, e inclui um apelo para revogar a proibição de financiamento federal para o aborto.

Pela primeira vez, o esboço da plataforma de 2020 exige que a decisão da Suprema Corte Roe vs. Wade seja codificada na lei federal, o que reflete um compromisso anterior de Biden de fazer desta uma política chave de sua presidência.

Durante a campanha das primárias democratas, os candidatos foram frequentemente questionados se o partido deveria admitir membros e candidatos pró-vida ao cargo. Vários candidatos, incluindo conferencistas proeminentes na convenção desta semana, insistiram que o apoio ao aborto deve ser visto como um valor necessário para qualquer candidato do Partido Democrata.

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Escrevendo para a America Magazine no ano passado, Pe. Martin disse que "muitas mulheres que amo, respeito e admiro apoiam o direito ao aborto e veem esses direitos como constitutivos de sua autoridade sobre seus próprios corpos".

"Mas", escreveu Pe. Martin em uma publicação explicando sua oposição ao aborto, "reconhecer que os corpos das mulheres são próprios não diminui minha própria reverência pelo corpo vivo no útero de uma mulher”.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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