"Frente à deterioração progressiva da situação política venezuelana, indicamos em nossas recentes exortações em julho de 2019 e janeiro de 2020 que a saída do atual governo e a realização de eleições presidenciais limpas, em condições de transparência e equidade, são necessárias", afirmaram os bispos em sua exortação pastoral divulgada nesta sexta-feira.

No texto intitulado "Se Deus está contigo, não te deixará nem te abandonará", os bispos da Venezuela fazem uma série de pedidos ao final de sua 114ª Assembleia Ordinária, depois de analisar a grave situação do país em todos os aspectos.

“Vivemos imersos em um caos generalizado, presente em todos os níveis da vida social e pessoal: serviços públicos básicos muitas vezes inexistentes, ação política divorciada do bem comum e do desenvolvimento, insegurança e desamparo, vida familiar violada em sua capacidade de gerenciar e satisfazer suas necessidades, economia inflacionária e dolarizada, atingindo quase toda a população, educação paralisada em sua gestão com a deterioração da qualidade desse serviço", explicam os prelados.

Sobre a pandemia de coronavírus, indicam que “foi, ao mesmo tempo, um elemento paralisante de uma parte substancial das atividades ordinárias e destacou a crise já presente, notadamente agravada pela fraqueza do sistema de saúde, a triste situação vivida dos emigrantes que retornam ao país, sem recursos nem expectativas seguras de vida, além da escassez de gasolina e outros suprimentos necessários”.

Depois de especificar que a fome e o desemprego aumentaram, os bispos destacam que "os venezuelanos querem viver em democracia. Para isso, é necessário realizar eleições de forma imparcial para todos os partidos políticos e com respeito ao voto cidadão”.

"O regime, mais preocupado em permanecer no poder do que com o bem-estar do povo, convocou eleições parlamentares, usando um Supremo Tribunal de Justiça submisso ao Executivo, um Conselho Eleitoral Nacional ilegítimo e o confisco de alguns partidos políticos, assim como realizando ameaças e perseguições aos líderes políticos e tentando comprar consciências. Tudo isso, além de desenhar uma ilegitimidade, causará abstenção e a falta de confiança diante dessas incertas eleições parlamentares”, continuam.

"A recusa do Ministro da Defesa de aceitar uma mudança de governo é totalmente inconstitucional e, portanto, inaceitável. À medida que as diretrizes ditatoriais endurecem, o povo sofre".

Depois de denunciar que a oposição "é perseguida como nunca antes", os bispos da Venezuela incentivaram os católicos a trabalharem para mudar o país.

"Rejeitamos a tortura, condenada por todas as convenções internacionais, e exigimos sua total erradicação. Pedimos às organizações internacionais que estejam sempre vigilantes na busca por meios de ajuda humanitária: reiteramos o clamor do povo, para que não nos deixem sozinhos", enfatizaram.

Os bispos recordaram depois os pedidos feitos pelo Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolín, "em nome e por disposição do Santo Padre", em sua carta ao Governo em 2016: "a implementação urgente de medidas destinadas a aliviar a grave crise de abastecimento de alimentos e medicamentos; o calendário eleitoral que permita aos venezuelanos decidir o futuro sem demora; a restituição do papel da Assembleia Nacional previsto pela Constituição, o mais rápido possível; e a aplicação de instrumentos legais para acelerar o processo de libertação de detidos".

Finalmente, fizeram votos para que "Nossa Senhora de Coromoto, padroeira da Venezuela, continue nos acompanhando com a sua proteção maternal e nos conceda a graça de ser construtores da justiça, da paz, da liberdade e do amor do Reino de seu Filho Jesus”.

Publicado originalmente por ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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