Em um recente artigo, o Arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, assinalou alguns pontos importantes da exortação apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, do Papa Francisco, lançado em 12 de fevereiro.

Para o Arcebispo, trata-se de “um grande poema, escrito por quem tem um coração de pastor, capaz de se sensibilizar pela nossa grande e efetivamente querida Amazônia”.

Na exortação, o Santo Padre formula “quatro grandes sonhos que a Amazônia” o inspira. Nesse sentido, Dom Taveira considerou que o Pontífice é “um homem de grandes sonhos a serem compartilhados, para que se tornem realidade, pois a todos envolve”.

“Sabemos que coloca sob a imagem de São José dormindo suas intenções e preocupações. Posso imaginar que esta Exortação ficou descansando, à espera das revelações feitas em sonho de São José!”, completou o Prelado.

Os “quatro grandes sonhos” de Francisco que dão estrutura à exortação são: o sonho social, o sonho cultural, o sonho ecológico e o sonho eclesial.

Sonho social

Neste ponto, Dom Taveira observou como “há uma coerência impressionante nos sucessivos sucessores de Pedro”, uma vez que o Papa “falade graves problemas sociais da Amazônia, recorda a denúncia de devastação ambiental da região, feita pelo Papa Bento XVI, e reitera com São João Paulo II que a globalização não deve se tornar um novo colonialismo”. Além disso, “retoma a denúncia da corrupção, que envenena o estado e a vida social”.

“Para Francisco é preciso indignar-se e pedir perdão, e são necessárias redes de solidariedade e de desenvolvimento, pedindo o comprometimento de todos e dos líderes políticos”, indicou.

O Pontífice ainda “reconhece nos povos originários e nos indígenas imensas riquezas culturais, inclusive a característica de grande comunhão com a natureza, dada por Deus. E neste campo, faz votos de que a Amazônia se torne um lugar de diálogo social, antes de tudo com os últimos e os mais pobres”.

Sonho cultural

Quanto a este segundo sonho, o Papa “propõe cuidar das raízes de nosso ambiente humano”, assinalando que “promover a Amazônia não significa colonizá-la culturalmente”. Também destaca que “uma visão consumista do ser humano tende a homogeneizar as culturas, o que afeta de modo especial os jovens”.

Em seguida, indicou o Prelado, Francisco “se concentra no encontro intercultural” e “diz não a um indigenismo completamente fechado”. Desse modo, o Pontífice recomenda a toda Amazônia “que é preciso assumir a perspectiva do direito dos povos, sendo que todos serão prejudicados se o ambiente de origem se deteriora”.

Sonho ecológico

Este terceiro sonho do Santo Padre consiste em “unir o cuidado com o meio ambiente e o cuidado com as pessoas”. “Para o Papa Francisco – assinalou Dom Taveira –, cuidar dos irmãos como o Senhor cuida de nós é a primeira ecologia que precisamos. Cuidar dos pobres e cuidar do ambiente são coisas inseparáveis em nossas terras”.

Segundo o Arcebispo, na exortação, o Papa “recorda que existem fortes interesses locais e internacionais voltados para a Amazônia”. Porém, “a solução nunca estará em sua internacionalização, mas deve crescer a responsabilidade dos governos nacionais”.

“Em nenhum momento o Papa vai além dos limites de respeito à necessária autonomia das nações. E até indica a necessidade de um sistema normativo a ser eventualmente criado em nossos países amazônicos com limites invioláveis, para o bem das pessoas e da natureza”, completou.

Sonho eclesial

Por fim, o Pontífice fala se seu sonho eclesial para a Amazônia, o qual “aponta para um grande anúncio missionário, indispensável para a Amazônia”. Segundo observou Dom Taveira, para Francisco, “não é suficiente” apenas “levar uma mensagem social, pois todos os povos têm direito ao anúncio do Evangelho”.

Neste caso, volta a falar de “inculturação”, indicando que “um dos pontos de referência devem ser os valores presentes nas comunidades originárias”. Nesse sentido, propõe-se de “uma santidade amazônica”, a qual, de acordo com o Arcebispo de Belém, valoriza “traços culturais e expressões religiosas que, não obstante necessitem de um processo de purificação, contêm um significado sagrado”.

Outro ponto abordado pelo Santo Padre dentro deste sonho eclesial diz respeito à “importância de determinar o que é específico do sacerdote, ligado ao sacramento da ordem”. Nesse sentido, “insiste na busca de presença sacerdotal em lugares mais distantes, salientando a importância da oração pelas vocações e o espírito missionário, com o qual nossas Igrejas latino-americanas podem ser mais generosas, enviando padres a regiões com maiores dificuldades”.

Mais em

Além disso, o Pontífice aponta também para a criação de “grupos missionários itinerantes” e, “neste sentido missionário, vem à tona a importância que o Papa dá à força e o dom das mulheres. Há de ser rejeitada a clericalização das mulheres, observando que seu papel não pode estar dependente de concessão de ordem sacra”. Por isso, “encoraja o surgimento de novos serviços femininos, a modo de Maria e de sua ternura”.

Dom Taveira pontuou, por fim, que o “Papa fala ainda das comunidades cristãs cheias de vida, nas quais os leigos podem e devem assumir responsabilidades, em seu incisivo e atualizado protagonismo”. Pare o Santo Padre, “e aqui o laicato há de encontrar seu espaço, é necessário ampliar os horizontes além dos eventuais conflitos existentes na sociedade”.

Confira também: