O Cardeal Jorge Urosa Savino, Arcebispo Emérito de Caracas (Venezuela), destacou o ensinamento do Papa Francisco sobre a pastoral vocacional, o celibato, a evangelização e o sacerdócio em sua recente exortação apostólica "Querida Amazônia", apresentada há alguns dias no Vaticano.

Assim indicou o Purpurado em um artigo enviado à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI, intitulado "Os sonhos do Papa Francisco: A Exortação, Querida Amazônia".

“Em primeiro lugar, desejo destacar especialmente os ensinamentos do Papa sobre a necessidade de uma pregação mais intensa do ensinamento explícito do evangelho, o anúncio do querigma", escreveu o Cardeal e destacou que, no trabalho eclesial, "não se pode dar preeminência ao aspecto social. Este que é muito importante, deve estar dentro do contexto da ação da Igreja para anunciar Jesus Cristo, suscitar a fé nele, e levá-lo ao coração dos habitantes da Amazônia”.

Em segundo lugar, continuou o Cardeal, está “algo muito importante, pouco mencionado no Instrumentum Laboris” ou documento de trabalho do Sínodo Amazônico realizado em outubro de 2019: “a centralidade e a importância de Jesus Cristo, nosso Senhor, no qual e para o qual todas as coisas foram criadas, em quem a Criação tem a sua origem e fim, o Senhor da história e da humanidade”.

Em seguida, o Arcebispo enfatizou a importância do sacerdócio católico, do qual "Jesus Cristo é a fonte e a causa de sua importância na Igreja, e por que apenas o sacerdote pode celebrar a Eucaristia".

A esse respeito, o Cardeal Urosa lembra que "o Papa Francisco não vê a necessidade de romper com a disciplina geral da Igreja Latina de ordenar sacerdotes somente a homens celibatários pelo Reino dos Céus".

"O Santo Padre tem a convicção de que, com uma boa ação pastoral dos Bispos, com a oração pelas vocações e com o envio de mais sacerdotes das Igrejas da Amazônia para essas regiões, esse grave problema será solucionado", continuou.

Do mesmo modo, o Cardeal sublinhou que o Santo Padre reconhece que “não é necessário ordenar sacerdotes a bons homens casados. Existem outros caminhos. E o Papa nos faz um chamado para que as Igrejas da Amazônia dediquem sacerdotes de suas dioceses ao trabalho pastoral em áreas onde há mais necessidade de sacerdotes”.

"Com a quebra do celibato, se introduziria uma instabilidade e insegurança indesejáveis, e problemas de vários tipos no grupo dos atuais sacerdotes", alertou.

“Podemos agradecer ao Papa Francisco por ter deixado de lado essa proposta nova e desnecessária. Por outro lado, teria sido muito conveniente neste documento também ter uma avaliação positiva do celibato sacerdotal”, assegurou.

O Arcebispo Emérito de Caracas destacou, em seguida, que "por causa da identificação e configuração sacramental e ontológica do sacerdote com Cristo, a mulher, que é muito importante na Igreja, não pode receber a ordenação sacramental".

“Sem dúvida, vale destacar o grande valor que o Papa atribui à mulher na Igreja e seu trabalho histórico na vida e na história da Igreja na Amazônia, antes e agora. Mas não é possível passar desta grande valorização para algo estrutural, sacramental, como as chamadas ‘diaconisas’", disse.

O Cardeal Urosa também indicou que “este ensinamento papal acertado, que não satisfaz a aspiração do documento final do Sínodo no que diz respeito a um ministério feminino ordenado, é uma das fontes de desgosto e fortes críticas à Exortação em alguns setores da Igreja, especialmente na Europa e América do Norte".

“Alguns lamentam que o Santo Padre não tenha aprovado explicitamente o documento final do Sínodo. Ele o ‘apresenta’, mas se omite em aprová-lo. Provavelmente, a razão para isso tenha sido as exigências polêmicas da ordenação de homens casados e a do possível diaconato feminino”, continuou.

O Cardeal Urosa também manifestou sua surpresa ao ver “alguns bispos e sacerdotes que acreditam que a discussão e a proposta de sacerdotes casados e das diaconisas ainda estão de pé; que o silêncio do Papa deixa o assunto em aberto. Ou seja, não importa o que o Papa tenha dito nem que tenha expressamente omitido acolher essas propostas do Sínodo”.

“Essa é uma atitude estranha e pouco prudente. Desta forma, se quer manter sobre a vida do clero diocesano uma incerteza, insegurança e controvérsia nociva, inclusive em regiões muito distantes da Amazônia e sem a razão da carência de vocações”, advertiu o Purpurado.

O Cardeal disse então que o desafio mais importante da Igreja na Amazônia é "a imensa tarefa e a bela missão de evangelizar e inculturar o Evangelho e a Igreja nesses povos, respeitando suas culturas".

"Por que, em outros tempos, a evangelização da América Latina transformou e converteu povos inteiros e produziu vocações nos povos indígenas e agora não? É uma pergunta que, com humildade e coragem, devemos perguntar aos bispos das Igrejas particulares amazônicas”, questionou.

Finalmente, o Cardeal Urosa agradeceu ao Papa Francisco “pelos ensinamentos que ele nos deu nesta Exortação, e pedimos a Deus e à nossa amorosa Mãe celestial, a Santíssima Virgem Maria, que nos ajude a percorrer com força novos caminhos válidos e eficazes para a evangelização dos povos, na Amazônia e em todo o mundo. Amém".

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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