Vários líderes da Igreja Católica em Burkina Faso (África) destacaram a necessidade de educar as mulheres sobre os perigos do aborto químico, considerando que não existe um marco legal que regulamente ou, no melhor dos casos, proíba esta prática no país.

Em meados de dezembro, ACI África – agência na África do Grupo ACI – informou que a empresa Gynuity Health Projects, após várias tentativas fracassadas de provar a eficácia dos medicamentos abortivos em mulheres nos Estados Unidos, escolheu Burkina Faso para realizar novos estudos e testar os químicos com nascituros entre 12 e 22 semanas.

O Bispo de Diébougou (Burkina Faso), Dom Dèr Raphaël Kusiélé Dabiré, classificou a luta contra os testes de aplicação do aborto como um assunto difícil, comparando-o com a luta de “Davi contra Golias”. Disse ainda que a batalha só poderia ser vencida através da educação e comunicação coerente sobre os perigos do aborto.

“É uma luta difícil. Mas a imagem de Davi e Golias é ilustrativa. Todos esses males são Golias; e Davi é a Igreja Universal, a Igreja da África, as dioceses, as comunidades cristãs e que são guiadas em cada nível pelo seu pastor. Triunfaremos sobre Golias. Portanto, acredito que a educação continua sendo a principal solução para resolver esse problema em todos os níveis”, afirmou Dom Kusiélé.

O Prelado, de 71 anos, destacou a importância da educação e que os jovens precisam defender a castidade: “Podemos ajudá-los (aos jovens) a compreender que podemos nos amar sem ter relações sexuais. Especialmente se o amor é real, o parceiro masculino, em geral, encontrará a força para esperar pelo matrimônio, se esse for o seu objetivo. Milhares de jovens casais podem testemunhar isso”.

O presidente episcopal de Saúde e Bispo de Ouahigouya (Burkina Faso), Dom Justin Kientega, afirma que a Igreja Católica no país da África Ocidental já está em processo de redigir um documento que fornecerá detalhes sobre os problemas relacionados com os testes de aplicação do aborto no país, assim como para traçar formas de prevenir a propagação dessa prática.

“Preparamos um documento que será publicado em breve sobre esse tema (teste de aborto induzido por drogas, no segundo trimestre). Estamos preparando algo para tratar sobre vários temas ao mesmo tempo”, disse Dom Kientega.

Além disso, destacou a participação ativa dos cristãos com membros de diferentes grupos organizados que demonstraram sua disposição de contribuir para o processo legislativo.

“Há associações católicas que se apresentaram, por exemplo, farmacêuticos católicos que prepararam um documento que apresenta sua legislação. Vamos analisá-lo e depois publicá-lo”, disse.

O Bispo Kientega, que serve como presidente da Cáritas no país da África Ocidental, disse que a Igreja estava pronta para dar as boas-vindas aos funcionários do governo que desejavam participar da luta contra os testes de aborto.

“Os fiéis esperaram durante muito tempo por um ministro ou governo que seja corajoso o suficiente para dizer não a essas ideologias que promovem o aborto. Se continuar assim, será algo bom para o nosso país, porque, embora se espere muito da Igreja, também se espera muito do Estado”, afirmou.

Além disso, o Bispo destacou a necessidade de estabelecer comitês de ética para "iluminar" os fiéis sobre assuntos familiares.

Os comitês de ética, de acordo com o Prelado, serão formados nos níveis nacional e diocesano. É nas paróquias que, segundo o bispo Kientega, os comitês de ética terão maior impacto.

“Os comitês e farmacêuticos, médicos e pessoal de saúde estão nas paróquias. Se os organizarmos bem para que digam a verdade às pessoas e as iluminem, acho que podemos ter alguns pequenos sucessos para que as pessoas possam viver suas vidas cristãs corretamente”, acrescentou.

Segundo o Cardeal Philippe Ouedraogo, presidente do Simpósio de Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM), “é igualmente importante o papel dos cristãos, os quais receberam o pedido do clero para praticar uma paternidade responsável, para respeitar a santidade da vida e para resistir aos estrangeiros que trazem ideologias, inclusive dando-lhes dinheiro”.

"Realmente, precisamos trabalhar para que todos percebam que as soluções não estão no aborto", disse o Cardeal Ouedraogo, que lidera a Arquidiocese de Ouagadougou, em Burkina Faso.

Os sentimentos do Purpurado, de 75 anos, tiveram apoio nas declarações do Bispo de Tenkodogo (Burkina Faso), Dom Prosper Kontiebo, que enfatizou que não há situação que justifique o aborto.

“O aborto seguro, como se diz em Burkina Faso, em casos de agressão sexual, estupro e incesto não é uma absolvição do problema. Devemos colocar ênfase no aconselhamento psicológico de tais casos para evitar estigmatização e vergonha, como é o caso aqui”, afirmou.

Em seguida, acrescentou: "Precisamos intensificar a conscientização para que os cristãos vejam a necessidade de defender a vida e erradicar o aborto, os anticoncepcionais artificiais e todos os abusos contra a dignidade da pessoa humana".

O Cardeal Ouedraogo disse que o país tinha assuntos mais urgentes para tratar e, portanto, não tinha tempo a perder incentivando as meninas a abortar.

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“Nosso país enfrenta altos níveis de pobreza e desemprego devido ao mau governo. Estes são os temas que devemos analisar criticamente e fornecer soluções e não incentivar as meninas a eliminarem os nascituros devido à malformação”, disse o Cardeal.

Advertiu às mulheres a não receberem presentes materiais em troca de sua inocência. "Nossa missão, como Igreja em Burkina Faso, é conscientizar nosso povo a não aceitar ideias de que não gosta, apenas porque recebem dinheiro", disse, acrescentando que a Igreja já havia começado a educar os jovens sobre uma paternidade responsável.

Segundo o bispo do Gabão (Burkina Faso), Dom Euzébius Chinekezy Ogbonna, o papel dos líderes da Igreja no país da África Ocidental implicará proporcionar discernimento e acompanhamento psicológico às pessoas que contemplam o aborto.

Reiterando a mensagem do Cardeal Ouedraogo, Dom Chinekezy, disse: “Cabe a nós educar nossas populações para que optem pela verdade, para que optem pelo Evangelho, e também para que os nossos líderes optem pelo bem de nossas populações e não se deixem monopolizar pelos poderes econômicos dos países estrangeiros que nos impõe a sua cultura”.

Também disse que "devemos retornar às bases com um firme desejo de educar nossa consciência e querer descobrir as vantagens dos métodos naturais para desfrutar dos produtos que eles nos fornecem".

"Os bispos estão trabalhando neste projeto de conscientização e iremos deliberar sobre os detalhes de um plano de ação em nossa próxima sessão", concluiu Dom Chinekezy, referindo-se à sua reunião que estava planejada para janeiro de 2020.

Publicado originalmente em ACI África. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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