Após o falecimento de Kobe Bryant, estrela do basquete e pai de quatro filhas, a hashtag #GirlDad viralizou nas redes, com os pais que expressam a alegria única de criar suas filhas. Contraditoriamente, hoje nascem menos meninas do que meninos por causa do aborto seletivo por sexo.

O “feticídio feminino”, que é o homicídio de meninas na etapa fetal, ocorreu em grande escala nos Estados Unidos na década passada, dizem especialistas em demografia do Institute for Family Studies. “Uma guerra global contra bebês mulheres criou uma frente nos Estados Unidos”, afirmaram.

Os pesquisadores Nicholas Eberstadt e Evan Abramsky explicaram esta situação em seu artigo “Has the ‘Global War Against Baby Girl’s Come to America?”, depois de analisar a taxa de natalidade nos Estados Unidos. “Esta nova informação é preocupante e alarmante, pois demonstra que, durante a última década, o feticídio feminino ocorreu em grande escala entre certas subpopulações dos Estados Unidos”, assinalaram.

Há anos o feticídio feminino em massa é praticado na Ásia. Nos últimos 40 anos, este foi promovido por três razões importantes: o acesso disponível e incondicional ao aborto, preferências culturais pelos meninos e a tecnologia de determinação do gênero pré-natal de baixo custo.

Embora a proporção de bebês que nascem segundo o seu sexo biológico natural oscile entre 103 e 105 meninos nascidos para cada 100 meninas, na China e na Índia as proporções chegaram a 115 e 111, respectivamente em 2017.

Quando a proporção de sexos é alterada nos países mais populosos do mundo, o aborto seletivo por sexo é responsável por milhões de “bebês mulheres perdidas” todos os anos.

A análise de Eberstadt e Abramsky encontrou desequilíbrios não naturais na proporção de sexos nos nascimentos de mães norte-americanas, provenientes da China e da índia.

Entre as mães provenientes da China, mais de 110 meninos nasceram para cada 100 meninas nos Estados Unidos entre 2014 e 2018. Para o nascimento do terceiro menino, esta figura cresce de forma surpreendente para 122,8 para as mães nascidas na China e 115,3 para as mães nascidas na Índia.

Os pesquisadores concluíram que se pode entender que houve aproximadamente 8400 nascimentos perdidos de novas bebês de mães de origem chinesa e indiana nos Estados Unidos entre 2014 e 2018. No entanto, ainda não está claro o número exato de abortos seletivos que ocorreram nestes grupos de subpopulações.

Eberstadt e Abramsky disseram que encontraram “uma medida de alívio”, referindo-se a que não houve nenhuma evidência conclusiva de que existe a mesma proporção de sexos ao nascer entre os norte-americanos de origem asiática e os nascidos nos Estados Unidos. Uma explicação seria que a assimilação e a aculturação estão ajudando a acabar com esta prática. “Esta não é a única possibilidade, mas é bastante plausível e esperançosa”, afirmaram.

A tendência anormal encontrada na proporção de sexos ao nascer se aplica somente para mães nascidas especificamente na China e na Índia, países com mais feticídios em massa de bebês mulheres.

Esta semana, mais de 100 mil pessoas postaram fotos de seus pais e filhas no Instagram com a hashtag #GirlDad em homenagem a Kobe Bryant, que foi pai de quatro filhas. Bryant e sua filha mais velha, Gianna, morreram em um acidente de helicóptero em 26 de janeiro, entre outras 7 pessoas.

A tendência foi provocada por Elle Duncan, a repórter de Entertainment and Sports Programming NetworkESPN, um programa de notícias esportivas nos Estados Unidos, que compartilhou uma lembrança de uma conversa com Bryant.

Ela disse que perguntou a Bryant se ele queria mais filhos, inclusive se havia a possibilidade de ter outra menina. Bryant respondeu sem duvidar: “Eu teria mais 5 meninas se pudesse. Sou um ‘girl dad’ (pai de suas meninas)”.

Depois do episódio de Sports Center, os atletas profissionais postaram fotos com suas filhas na rede com a hashtag #GirlDad; depois, pais de todo mundo os imitaram.

“Isso é tendência em todo o país porque não há uma relação maior nem mais significativa que a de um pai com sua (as) filha (as)”, escreveu Ellen Duncan no Twitter em 28 de janeiro, em uma publicação que vinculava as milhares de fotos familiares compartilhadas.

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Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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