O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou na quarta-feira, 29 de janeiro, que sancionará 13 ex-oficiais militares salvadorenhos por participar do assassinato extrajudicial de seis sacerdotes jesuítas e dois civis em novembro de 1989, durante a guerra civil do país centro-americano.

Determinou-se que os 13 ex-soldados não poderão ingressar novamente nos Estados Unidos.

“Valorizamos nossa relação de trabalho em curso com as Forças Armadas salvadorenhas, mas continuaremos utilizando todas as ferramentas e entidades disponíveis, conforme apropriado, para abordar as violações e abusos dos direitos humanos em todo o mundo, independentemente de quando ocorreram ou de quem os perpetrou”, disse Mike Pompeo, Secretário de Estado dos EUA, na quarta-feira, 29 de janeiro.

“As ações de hoje sublinham nosso apoio aos direitos humanos e nosso compromisso de promover a prestação de contas aos autores e incentivar a reconciliação e uma paz justa e duradoura”, acrescentou Pompeo.

A guerra civil salvadorenha foi travada entre 1979 e 1992 entre o governo militar de direita e a Frente Farabundo Martí  para a Libertação Nacional (FMLN), um grupo revolucionário de esquerda.

Os jesuítas em El Salvador foram protetores ativos das conversas de paz e negociação entre o governo e o FMLN.

Em 16 de novembro de 1989, uma unidade do exército salvadorenho tirou de suas camas seis jesuítas da Universidade Centro-americana de San Salvador e dispararam contra eles. A cozinheira e governanta dos sacerdotes, assim como sua filha, foram fuziladas.

Acredita-se que a execução dos jesuítas foi ordenada por causa de seu aparente apoio ao FMLN, que havia lançado uma ofensiva.

Os sacerdotes assassinados foram Ignacio Ellacuría, reitor da Universidade Centro-americana (UCA), Ignacio Martín-Baró, Segundo Montes, Amando López, Joaquín López y López e Juan Ramón Moreno Pardo. Todos eram espanhóis, exceto López y López, que era salvadorenho.

A governanta assassinada se chamava Elba Ramos e sua filha de 15 anos, Celina.

Os soldados deixaram uma mensagem no lugar dos assassinatos, com a qual buscavam responsabilizar o FMLN.

As execuções extrajudiciais atraíram a atenção internacional e aumentaram a pressão para um acordo de paz.

Pompeo disse em 29 de janeiro que os Estados Unidos “condenam todos os abusos contra os direitos humanos que aconteceram em ambos os lados da brutal guerra civil em El Salvador, inclusive os cometidos por partidos governamentais e não governamentais”.

Os Estados Unidos foi partidário do governo salvadorenho durante a guerra. O batalhão Atlacatl, que assassinou Pe. Ellacuría e seus companheiros, foi treinado por conselheiros norte-americanos.

O Departamento de Estado disse que tinha informação crível de que os 13 ex-militares salvadorenhos “estiveram envolvidos no planejamento e cumprimento das execuções extrajudiciais” de novembro de 1989.

Os nomes dos soldados são Juan Rafael Bustillo, Juan Orlando Zepeda, Inocente Orlando Montano Morales, Francisco Elena Fuentes, Guillermo Alfredo Benavides Moreno, Yusshy René Mendoza Vallecillos, José Ricardo Espinoza Guerra, Gonzalo Guevara Cerritos, Carlos Camilo Hernández Barahona, Oscar Mariano Amaya Grimaldi, Antonio Ramiro Avalos Vargas, Angel Pérez Vásquez e José Alberto Sierra Ascencio.

Os 13 foram sancionadas sob a Lei de Atribuições de Programas de Estado, Operações Estrangeiras e Programas Afins do ano fiscal 2019, que proíbe os ex-militares e seus familiares imediatos de ingressar nos Estados Unidos.

Inocente Orlando Montano Morales era coronel e vice-ministro de segurança pública na época do assassinato. Foi extraditado dos Estados Unidos para a Espanha em 2017, para ser julgado por este caso. Esteve sob custódia dos Estados Unidos durantes seis anos, depois de ser preso por denúncias de fraude migratória.

Em maio de 2019, os promotores espanhóis pediram que Montano recebesse 150 anos de prisão por seu papel nos “assassinatos terroristas”, dizendo que participou da decisão, planejamento e execução dos assassinatos.

Acredita-se que Montano foi testemunha quando o chefe do Estado Maior Conjunto do Exército, René Emilio Ponce (que morreu em 2011) ordenou ao Coronel Benavides, chefe da academia militar salvadorenha, que assassinasse Pe. Ellacuría se deixar testemunhos.

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Benavides e o tenente Mendoza foram condenados pelos assassinatos por um tribunal salvadorenho, mas foram libertados em 1993, depois que foi aprovada uma lei de anistia que cobria todos os crimes cometidos durante a guerra civil.

Essa lei de anistia foi revogada pela Suprema Corte salvadorenha em 2016. Benavides voltou para a prisão e a Corte se recusou a extraditá-lo para a Espanha. No ano seguinte, a Companhia de Jesus e a UCA solicitaram a comutação da sentença de Benavides.

Os promotores espanhóis pediram cinco anos de prisão para Mendoza.

Zepeda, o vice-ministro de Defesa, afirmou que os sacerdotes foram cúmplices do assassinato do promotor geral salvadorenho e disse que “o inimigo está entre nós. Devem ser identificados e denunciados. Portanto, tomaremos a decisão final para resolver esta situação”.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

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