O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, respondeu ao artigo escrito pelo co-fundador do jornal ‘La Repubblica’, Eugenio Scalfari, segundo o qual o Papa Francisco teria dito que Jesus não é "Deus encarnado".

Em seu artigo intitulado "Sínodo, Francisco e o espírito da Amazônia", Scalfari afirmou que "quem teve, como aconteceu comigo várias vezes, a sorte de encontrá-lo e falar com ele com a maior confiança cultural, sabe que o Papa Francisco concebe Cristo como Jesus de Nazaré, homem, não Deus encarnado. Uma vez encarnado, Jesus deixa de ser um Deus e se torna um homem até sua morte na cruz”.

“Quando me aconteceu discutir essas frases, o Papa Francisco me disse: '[Essas frases, Ndr] são a prova de que Jesus de Nazaré uma vez feito homem, embora um homem de virtude excepcional, não era completamente um Deus'”, escreveu em seu texto de 8 de outubro.

Scalfari, jornalista italiano de 95 anos cujos colegas sabem que "mostra os sintomas de sua idade avançada", assinalou em 2013 que todas as suas entrevistas foram realizadas sem um aparelho de gravação ou fazendo anotações enquanto a pessoa está falando. "Tento entender a pessoa que estou entrevistando e depois escrevo suas respostas com as minhas próprias palavras", afirmou.

Nesse sentido, em um comunicado divulgado em 9 de outubro pelo Vaticano, Matteo Bruni disse que, “como já se afirmou em outras ocasiões, as palavras que o Dr. Eugenio Scalfari atribui entre aspas ao Santo Padre durante as conversas que teve com ele não podem ser consideradas como um relato fiel do que efetivamente foi dito, mas representam uma interpretação pessoal e livre do que ele escutou, como parece bastante evidente pelo que está escrito hoje sobre a divindade de Jesus Cristo”.

Além disso, em várias ocasiões o Papa Francisco se referiu à divindade de Cristo, como em sua exortação apostólica Evangelli gaudium, onde falou sobre a "vida divina" de Jesus.

Do mesmo modo, em sua homilia em 24 de dezembro de 2013, o Papa disse que "a graça que se manifestou no mundo é Jesus, nascido da Virgem Maria, verdadeiro homem e verdadeiro Deus".

“Nele manifestou-se a graça, a misericórdia, a ternura do Pai: Jesus é o Amor feito carne. Não se trata apenas de um mestre de sabedoria, nem de um ideal para o qual tendemos e do qual sabemos estar inexoravelmente distantes, mas é o sentido da vida e da história que pôs a sua tenda no meio de nós", disse naquela ocasião.

Da mesma forma, falando de Jesus em outubro do ano passado, o Papa disse: "Deus escolhe um trono incômodo, a Cruz, para dali reinar dando a vida".

As publicações de Scalfari

Não é a primeira vez que o Vaticano nega as palavras que Scalfari atribuiu ao Pontífice.

Em 1º de outubro de 2013, o jornal de esquerda publicou uma "entrevista" com o Santo Padre atribuindo declarações controversas sobre o bem e o mal. Em 22 de novembro, em meio à controvérsia, Scalfari reconheceu perante a imprensa estrangeira que algumas dessas palavras "não foram ditas" pelo Pontífice e que todas as suas entrevistas foram realizadas sem um aparelho de gravação ou anotações enquanto a pessoa fala.

"Tento entender a pessoa que estou entrevistando e depois escrevo suas respostas com as minhas próprias palavras", explicou.

Por sua vez, o então porta-voz do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, indicou que o texto não poderia ser considerado parte do Magistério de Francisco.

Em 13 de julho de 2014, Scalfari publicou novamente um artigo supostamente baseado em uma entrevista com o Papa, afirmando que Francisco estava decidido a encontrar “soluções” para o problema do celibato sacerdotal e que “há bispos e cardeais entre os 2 por cento de pedófilos que são sacerdotes".

No dia seguinte, Pe. Lombardi negou categoricamente que tenha sido realizada uma nova “entrevista”, pois Scalfari atribuiu palavras ao Papa entre aspas “fruto da sua memória de jornalista especialista, mas não de transcrição exata de uma gravação”. "Não se pode e não se deve, portanto, falar de algum modo de uma entrevista", esclareceu.

Em 1º de novembro de 2015, o jornal italiano publicou outro artigo com base em uma conversa telefônica entre Scalfari e o Papa, na qual o jornalista garantiu que o Pontífice admitiria a comunhão para os divorciados recasados. Lombardi afirmou que o que Scalfari disse "não é confiável, nem pode ser considerado como algo que o Papa pensa".

Em declarações ao ‘National Catholic Register’, o porta-voz do Vaticano alertou que, “como ocorreu no passado, Scalfari sublinhou que o Papa supostamente lhe disse e que muitas vezes não corresponde à realidade, pois ele não grava nem transcreve as palavras exatas do Papa, como ele mesmo disse várias vezes”.

Do mesmo modo, em março de 2018, o jornalista italiano garantiu que o Papa Francisco lhe disse que "não há inferno" e que "é uma honra ser chamado de revolucionário". No entanto, a Sala de Imprensa da Santa Sé disse que a publicação de ‘La Repubblica’ "é o resultado de sua reconstrução” de uma reunião privada com o Papa, que não era uma entrevista, e que não se trata de “palavras textuais” do Pontífice, mas uma reconstrução do jornalista.

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