Em seu encontro com os 19.500 voluntários da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Panamá 2019, o Papa Francisco pronunciou um discurso com o qual concluiu sua visita ao país centro-americano.

A seguir, o texto completo:

Queridos voluntários!

Quis, antes de terminar esta Jornada Mundial da Juventude, encontrar-me com todos vós para agradecer a cada um pelo serviço que realizou nestes dias e durante os últimos meses que antecederam a Jornada.

Obrigado a Bartosz, Stella Maris del Carmen e Maria Margarida por terem compartilhado as suas experiências pessoais. Como é importante escutar-vos e darmo-nos conta da comunhão que se cria quando nos unimos para servir os outros! Experimentamos como a fé adquire um sabor e uma força completamente novos: torna-se mais viva, dinâmica e real. Experimenta-se uma alegria diferente pela oportunidade havida de trabalhar lado a lado com os outros para atingir um sonho comum. Sei que todos vós experimentastes isto.

Agora sabeis como bate o coração quando se vive uma missão; e não porque alguém vo-lo contou, mas porque o vivestes. Pudestes verificar, palpavelmente, que «ninguém tem maior amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo 15, 13).

E tivestes também de viver momentos difíceis, que vos exigiram vários sacrifícios. Como nos dizias, Bartosz, a pessoa experimenta também as próprias fraquezas. Felizmente, estas fraquezas não te detiveram na tua dedicação, nem se tornaram sequer o ponto central e mais importante. Experimentaste-las no serviço, é verdade; procurando compreender e servir os outros voluntários e peregrinos, é verdade; mas tiveste a coragem de não te deixares bloquear por isso, de não te deixares paralisar e continuaste para diante. Que nossos limites e nossas debilidades não nos paralisem, seguir em frente com nossos defeitos, já os corrigiremos, com nossas debilidades, mas seguir em frente.

Aqui está a maravilha de nos sentirmos enviados, a alegria de saber que, apesar de todos os inconvenientes, temos uma missão a cumprir. Não deixemos que as limitações, as fraquezas e mesmo os pecados nos bloqueiem e impeçam de viver a missão, porque Deus chama-nos a fazer o que podemos e a pedir o que não podemos, sabendo que o seu amor nos agarra e transforma progressivamente (cf. Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 49-50). Não se assustem com suas debilidades, não se assustem mesmo se veem seus pecados. Levantem-se e sigam em frente, vão para diante com o que tenham em cima que Deus sabe perdoar todas as coisas. Aprendamos de tantos que, como Bartosz, colocarmos o serviço e a missão em primeiro lugar, o resto vem por acréscimo.

Obrigado a todos, porque nestes dias estivestes disponíveis e atentos até aos mínimos e aparentemente insignificantes detalhes diários, como a oferta dum copo de água, e simultaneamente acompanháveis as coisas maiores que requeriam muita planificação. Preparastes cada detalhe com alegria, criatividade e empenho, e com muita oração. Porque, se for rezada, sente-se a realidade em profundidade. A oração dá espessura e vitalidade a tudo o que fazemos. Rezando, descobrimos que fazemos parte duma família maior de quanto possamos ver e imaginar. Rezando, «abrimos o jogo» à Igreja que nos apoia e acompanha do Céu, aos santos e santas que nos apontaram o caminho, mas sobretudo «abrimos o jogo» a Deus, para que Ele possa atuar e possa entrar e possa vencer.

Quisestes dedicar o vosso tempo, energias, recursos a sonhar e construir este encontro. Poderíeis perfeitamente ter optado por outras coisas, mas quisestes comprometer-vos. Essa palavra que querem apagar, ‘compromisso’. Isso os faz crescer, isso os agiganta.

Dar o vosso melhor para tornar possível o milagre da multiplicação não só dos pães, mas também da esperança. Vocês, dando o melhor de si, comprometendo-se, fazem o milagre da multiplicação da esperança. Precisamos multiplicar a esperança.

Aqui demonstrastes mais uma vez que é possível renunciar aos interesses próprios em favor dos outros. Como fizeste tu, Stella Maris, e quanto li seu testemunho, senti algo como vontade de chorar. Renunciastes aos teus interesses, que cêntimo a cêntimo tinhas juntado o necessário para participar na JMJ de Cracóvia, mas renunciastes a fazê-lo para poder ajudar os teus três avós.

Renunciaste para honrar tuas raízes e isso te faz mulher, te faz adulta, te faz corajosa. Renunciaste a participar no evento em que sonhavas, para poderes ajudar e sustentar a tua família, para honrar as tuas raízes; para poder estar lá e, sem que o esperasses nem pensasses, o Senhor estava a preparar-te um presente: a JMJ na tua terra.

O Senhor gosta de fazer essas brincadeiras, o Senhor gosta de responder dessa maneira à generosidade, sempre ganha em generosidade, assim é o Senhor. O que vamos fazer? Nos ama assim.

Como Stella Maris, também muitos de vós fizeram renúncias de todos os tipos. Muitos de vocês fizeram renúncias. Pensem agora a que renunciei para ser voluntário? Pensem um momento.

Tivestes de adiar sonhos, para cuidar da vossa terra, das vossas raízes. Isto sempre é abençoado pelo Senhor, que não Se deixa vencer em generosidade. Sempre que adiamos um gosto nosso pelo bem dos outros, especialmente dos mais frágeis, ou das nossas raízes como são os nossos avós e idosos, o Senhor no-lo devolve na proporção de cem por um. Ganha sempre em generosidade. Porque, em generosidade, ninguém O pode vencer; no amor, ninguém O pode superar. Amigos, dai e dar-se-vos-á: vereis como o Senhor lança, no vosso regaço, «uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante» (Lc 6, 38), como diz o Evangelho.

Queridos amigos, fizestes uma experiência de fé mais viva, mais real; vivestes a força que nasce da oração e a novidade duma alegria diferente, resultante do fato de trabalhar lado a lado mesmo com pessoas que não conhecíeis. Agora chega o momento do envio: ide e contai, ide e testemunhai, ide e transmiti o que vistes e ouvistes. Isso não se faz com muitas palavras, mas com gestos simples, gestos cotidianos, gestos que fazem novas e transformam todas as coisas, gestos capazes de fazer barulho, um barulho construtivo, um barulho de amor.

Conto-lhes uma coisa: quando vinha no primeiro dia pelo caminho, tinha uma senhora com um chapéu, uma senhora idosa, avó, lá na cerca onde eu estava passando com o carro, e tinha um cartaz que dizia: “Nós as avós também sabemos fazer barulho”. Edizia: “Com sabedoria”. Juntem-se com os avós para fazer barulho, vai ser um barulho contundente, genial.

Parecia muito “velhinha” a senhora, perguntei-lhe a idade e tinha 14 anos a menos do que eu, que vergonha!

Peçamos ao Senhor a sua bênção. Que Ele abençoe as vossas famílias e comunidades e todas as pessoas com quem vos encontrardes ou que vos encontrarem no futuro próximo!

Mais em

Coloquemo-nos também sob o manto da Santíssima Virgem. Que Ela sempre vos acompanhe! E, como vos disse em Cracóvia, não sei se estarei na próxima JMJ, mas Pedro estará lá certamente e vos confirmará na fé. Continuai para diante com força e coragem e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!

Confira também: