Na sua catequese oferecida aos milhares de peregrinos que compareceram à Sala Paulo VI para a Audiência geral desta quarta-feira, 28, o Santo Padre concluiu o ciclo de reflexões sobre os Dez Mandamentos que vinha fazendo e afirmou que em Jesus o Decálogo ganha sua plenitude e que, portanto, para o cristão não há melhor forma de viver os mandamentos que contemplar Jesus e levar uma vida segundo os desejos que o Espírito Santo semeia em nossos corações.

“Na catequese de hoje, que conclui o caminho dos Dez Mandamentos, podemos usar como um tema-chave aquele dos desejos, o que nos permite refazer a jornada e reassumir as etapas realizadas pela leitura do texto do Decálogo, sempre à luz da plenitude revelação em Cristo”, afirmou o Papa ao início do seu discurso.

“Nós partimos da gratidão como base do relacionamento de confiança e obediência: Deus, nós vimos, não pede nada antes de ter dado muito mais. Ele nos convida à obediência para nos resgatar do engano das idolatrias que têm tanto poder sobre nós. De fato, buscar a própria realização nos ídolos deste mundo nos esvazia e nos escraviza, enquanto o que nos dá estatura e coerência é a relação com Ele que, em Cristo, nos faz filhos de sua paternidade”.

Segundo o Pontífice isto “implica um processo de bênção e libertação, que é o descanso autêntico”.

Assim, o Santo Padre citou o Salmo 62 que diz: "Só em Deus repousa a minha alma: nele está a minha salvação".

Passando à reflexão dos mandamentos que falam da relação com o próximo, o Santo Padre disse que “a partir do amor que Deus mostra em Jesus Cristo”, recebemos “um apelo à beleza da fidelidade, da generosidade e autenticidade”.

Mas para viver assim precisamos de um novo coração, afirmou o Pontífice que logo perguntou: “Mas como ocorre esse "transplante de coração"?

“Através do dom dos novos desejos (cf. Rm 8: 6), que são semeados em nós pela graça de Deus, especialmente através dos Dez Mandamentos levados ao plano cumprimento por Jesus, como Ele mesmo ensina no "sermão da montanha".

“De fato, na contemplação da vida descrita pelo Decálogo, ou melhor, numa existência grata, livre, autêntica, abençoada, adulta, zelosa e amante da vida, fiel, generosa e sincera, nós, quase sem perceber, nos encontramos diante de Cristo”, pontuou.

O Papa Francisco afirmou ainda que o Decálogo é a como a "radiografia" de Cristo. Os Mandamentos descrevem Jesus “como um negativo fotográfico, que deixa seu rosto aparecer - como no Santo Sudário. É então que o Espírito Santo fertiliza nosso coração colocando nele os desejos que são um dom de si mesmo, os desejos do Espírito”.

“Assim, descobrimos melhor o que significa que o Senhor Jesus não veio para abolir a lei mas para cumpri-la, e enquanto a lei segundo a carne era uma série de prescrições e proibições, de acordo com o Espírito esta mesma lei se torna vida, porque não é mais uma norma, mas a própria carne de Cristo, que nos ama, nos busca, nos perdoa, nos consola e em seu corpo recompõe a comunhão com o Pai, perdida pela desobediência do pecado”.

“Aqui está o que o Decálogo para nós cristãos é: contemplar a Cristo para nos abrir e assim receber seu coração, seus desejos, seu Espírito Santo”, concluiu o Papa Francisco.

No final do encontro do Santo Padre com os peregrinos, Ele ofereceu uma saudação aos fiéis de língua portuguesa, logo após a síntese de sua catequese, lida em português:

“Ao concluir as catequeses sobre os 10 mandamentos, podemos ver como eles são um caminho para preencher o nosso coração de desejos de amor autêntico, vivido à luz de tudo o que Jesus nos ensinou. Os três primeiros mandamentos, que se referem à nossa relação direta com Deus, nos conduzem à gratidão onde assenta a nossa fidelidade e obediência ao nosso Pai celestial: uma relação que nos liberta e onde encontramos o nosso verdadeiro repouso. E, a partir dessa experiência de uma vida libertada, vemos como os outros mandamentos nos levam a viver a nossa relação com o próximo a partir do amor de Deus, numa existência agradecida, livre, autêntica, abençoada, fiel, generosa e sincera. De fato, os mandamentos são como uma radiografia que nos deixa ver a face de Cristo e, por isso, compreendemos que Ele não veio abolir a Lei, mas leva-la ao pleno cumprimento, suscitando no nosso coração os desejos do Espírito, marcados pela fé, a esperança e o amor”. 

“Dirijo uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa aqui presentes. Ao concluir o Ano Litúrgico, somos convidados a ir ao encontro de Jesus, que nos espera em cada dia nos sacramentos, na oração e no próximo, sobretudo nos mais necessitados. Que Deus vos abençoe!”, finalizou o Pontífice.  

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