O Vaticano anunciou no sábado, 6 de outubro, que o Papa Francisco ordenou o estudo exaustivo dos documentos vaticanos sobre o ex-cardeal Theodore McCarrick, acusado de abusos, depois que o ex-núncio Carlo Maria Viganò denunciou o Santo Padre de supostamente atuar com negligência neste caso.

Um comunicado da Sala de Imprensa do Vaticano informa que o Papa Francisco decidiu esclarecer algumas informações sobre o caso, “consciente e preocupado com o turbamento que as mesmas estão causando na consciência dos fiéis”.

Em uma carta divulgada em 25 de agosto, Dom Viganò acusou diversos sacerdotes, bispos e cardeais de encobrir as más condutas sexuais do Arcebispo Emérito de Washington (Estados Unidos), o ex-cardeal Theodore McCarrick, entre elas o abuso cometido contra um homem na década de 1970, acusação que chegou à Santa Sé em setembro de 2017, após ser reportada pela Arquidiocese de Nova Iorque.

O ex-núncio também acusou o Papa Francisco de levantar em 2013 supostas sanções impostas por Bento XVI a McCarrick e torná-lo “seu conselheiro de confiança”.

Embora não mencione o ex-núncio, o comunicado publicado no sábado assinala que após a acusação conhecida em setembro de 2017 pela Santa Sé, “o Santo Padre dispôs a respeito uma investigação prévia aprofundada, que foi realizada pela Arquidiocese de Nova Iorque e na conclusão da qual a relativa documentação foi transmitida à Congregação para a Doutrina da Fé”.

“Enquanto isso, diante do fato que no decorrer da investigação emergiram graves indícios, o Santo Padre aceitou a renúncia do Arcebispo McCarrick do Colégio cardinalício, ordenando-lhe a proibição do exercício do ministério público e a obrigação de conduzir uma vida de oração e penitência”, que o ex-cardeal segue em um convento no estado do Kansas, nos Estados Unidos.

“A Santa Sé não deixará, no tempo devido, de divulgar as conclusões do caso que envolve o Arcebispo McCarrick”, ressalta o texto.

Além disso, prossegue o comunicado, “em referência a outras acusações feitas contra o eclesiástico, o Santo Padre dispôs integrar as informações levantadas através da investigação prévia com um ulterior estudo detalhado de toda a documentação presente nos Arquivos dos Dicastérios e Escritórios da Santa Sé acerca do então Cardeal McCarrick, com a finalidade de apurar todos os fatos relevantes, situando-os em seu contexto histórico e avaliando-os com objetividade”.

“A Santa Sé está consciente de que do exame dos fatos e das circunstâncias poderiam emergir escolhas que não seriam coerentes com a linha atual para tais questões. Todavia, como disse o Papa Francisco, ‘seguiremos o caminho da verdade, onde quer que nos possa levar’ (Filadélfia, 27 de setembro de 2015)”.

O comunicado sublinha que, “seja os abusos, seja seu acobertamento, não podem mais ser tolerados e um tratamento diferenciado para os Bispos que os cometeram ou os acobertaram representa, de fato, uma forma de clericalismo não mais aceitável”.

Do mesmo modo, o texto ressalta que “o Santo Padre Francisco renova o premente convite a unir as forças para combater a grave chaga dos abusos dentro e fora da Igreja e para prevenir que esses crimes sejam novamente perpetrados contra os mais inocentes e os mais vulneráveis da sociedade”.

O comunicado recorda que o Papa convocou os bispos presidentes das conferências episcopais de todo o mudo para que se reúnam no Vaticano em fevereiro de 2019 em um encontro no qual será tratado este tema.

O texto conclui com um trecho da carta que o Santo Padre escreveu aos católicos do mundo no último dia 20 de agosto, após ser divulgado o relatório sobre abusos na Pensilvânia, Estados Unidos.

“A única maneira de respondermos a esse mal que prejudicou tantas vidas é vivê-lo como uma tarefa que nos envolve e corresponde a todos como Povo de Deus. Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum nos permitirá reconhecer nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro”.

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